Um mês havia se passado. A dor da rejeição diminuíra. As memórias, entretanto, não iam embora. Por mais que eu as expulsasse, aquelas inquilinas malditas não saíam da minha mente. Para piorar, me tentavam nas piores horas.
À noite, quando eu supostamente deveria descansar, elas continuavam a fazer festa. Na minha cabeça, só existia Otto Hoffmann e mais nada. O monopólio de pensamentos mais inconveniente que eu poderia ter.
A situação ia de mal a pior. E, quando chegava nos pontos mais baixos, ficava perigosa. Batia uma vontade absurda de me tocar. Meus mamilos enrijeciam. Minha boceta, molhada. Arrepios percorriam meu corpo. Um calor peculiar acariciava minha face. Eu perdia a noção.
E eu só conhecia uma maneira de sanar meu problema estando num quarto isolado, completamente sozinha.
Peguei uma espécie de baú com tranca, escondido debaixo da cama, no qual eu guardava objetos pessoais da minha vida pregressa. Retirei dela meu bom e velho vibrador — que, devido ao uso frequente para os mesmos fins e pelos mesmos motivos, apelidei de Juninho — e botei-o para jogo.
Imaginei que aquele brinquedinho era de carne e osso, pertencia a um dono espetacular, alto, forte, loiro, educado, gentil, cuidadoso, um grandessíssimo gostoso... Alguém que me fazia gozar com facilidade até quando estava sendo somente imaginado.
Quando me fartei da série de orgasmos que tive graças ao Otto das minhas fantasias, além de ofegante, fiquei abismada. A que ponto eu havia chegado? Ao ponto de me masturbar todo santo dia pensando num homem daqueles? Que fase!
Uma fase que, pelo andar da carruagem, duraria um tempo considerável — bem maior do que eu esperava —, talvez indeterminado.
⸙
Amanheceu. Em breve quebraria o jejum, mas não estava com tanta fome assim. Comeria só por comer. Bem como celebraria a missa só porque estava previsto no cronograma e retornaria aos meus afazeres no convento só por convenção.
Depois da noite intensa, com o vibrador cantando, tinha zero vontade de fazer qualquer outra coisa que não fosse voltar a me deitar, deleitar-me com outra foda criada pela minha cabeça e apagar devido à imensidão do cansaço pós-orgasmos.
Como isso não era possível, apenas seguiria a rotina no mais perpétuo silêncio. Sem incomodar ninguém para não ser incomodada em retorno. Nesse intento, vesti meu hábito, cumprimentei as outras irmãs durante o desjejum e, logo após terminar, as acompanhei até a igreja — onde nos sentamos lado a lado na segunda fileira.
Ficamos meditando em silêncio até a missa começar. Quer dizer, elas ficaram meditando (eu acho). Eu mesma não tive um segundo de sossego. Foi só fechar os olhos que houve reprise dos meus pensamentos intrusivos. Recebi a visita de Otto em pleno domingo de manhã.
O miserável ainda por cima não me respeitara nem com os olhos abertos. Houve um momento no qual ele transcendeu o reino dos sonhos e surgiu à minha frente quando eu estava de olhos bem abertos. Fora tão realista que ele até caminhara desatento, por tanto olhar em minha direção, tropeçara nos pés de uma senhora da primeira fileira, pedira desculpas e dera-lhe um aperto de mão.
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A Irmã
Romance+18 | Completo | Otto Hoffmann Junior é um encalhado de carteirinha. Vive dando de cara no muro quando o assunto é amor. Seus dotes não falham, mas é só ele abrir a boca que logo chega à conclusão de que seria melhor ter ficado calado. No entanto, s...