O baile

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Como havia pensado, Henrique precisou bolar toda uma estratégia, que envolvia a humilhação de se reportar ao setor de estágio da promotoria, para que Victória aceitasse o convite para ir ao baile de final de ano. Lívia prometeu ajudá-lo. Ninguém entendeu nada naquela tarde em que ele desceu até o setor de estágio para procurar a garota. As pessoas ali o olhavam como se ele fosse uma entidade, com seu terno caríssimo e cabelo impecavelmente arrumado. Cogitou, caso Lívia não conseguisse convencer a amiga, a possibilidade de usar o seu poder de empregador e convocá-la para trabalhar naquela noite. Dirigindo pra ele. Chegando lá ele pensaria em alguma maneira de fazê-la entrar na festa. Pensou na cara de ódio que ela ficaria com essa segunda opção e sorriu. Estava no fórum quando Lívia deixou recado com seu assessor dizendo que a amiga iria. Para todos os efeitos, o convite havia partido dela.

Victória estava surtando sem saber o que iria usar. Nunca havia sido convidada para um evento daqueles. Precisava sair em busca de um vestido decente. Como Lívia também precisava de um, escolheram um sábado para irem às compras. Ela acabou optando por um vestido vermelho. Queria fugir do preto, que era sua cor diária. Liv havia optado por um dourado. Escolheram os calçados e pararam para lanchar na praça de alimentação do shopping.

- Vai me contar ou eu vou precisar descobrir sozinha? - perguntou Victória tomando seu milk-shake de morango, fazendo com que a amiga engasgasse com o suco. Não era possível que ela havia descoberto o plano do juiz. Tava tudo tão bem alinhado.

- Do que... está falando? - perguntou quando recuperou a fala.

- Não se faça de sonsa! Você e o Lucas!

- Aaahhh! Isso! - respirou aliviada. - o que quer saber?

- Vi vocês almoçando juntos no fórum e tavam dançando bem íntimos da última vez que saímos juntos.

- Ah, amiga, é só diversão. Não aconteceu nada mas é legal ficar provocando ele. Ele me provocando... Sabe como é, né?

- Não, eu não sei! Só sei que quem brinca com fogo uma hora acaba se queimando. Cuidado!

- E você? - tentou reverter a situação.

- Eu o que? - Victória perguntou sem entender.

- O gostoso do seu chefe, você toda amiguinha da filha dele, da cachorra, da irmã. Pensa que eu também não sei das coisas? Antes de infartar ele foi te procurar.

- Pra pedir ajuda! Só pra isso que ele me procura. - mal sabia ela.

Henrique estava em casa quando recebeu o e-mail do policial que havia prometido passar as informações sobre Victória. Ele se trancou no escritório e leu com calma tudo que estava ali. O dossiê era completo, inclusive com fotos.

- Bom trabalho, garoto! - disse em voz alta.

Colocou para imprimir e arquivou em uma pasta que trancou na gaveta. Ficou pensativo. Então, o principal motivo dela estar ali se sujeitando a dirigir para ele era a questão do empréstimo. Ainda faltavam muitas parcelas, mesmo ela tendo antecipado algumas. Com certeza, assim que terminasse de quitar, ela pediria demissão para terminar a faculdade e seguir com sua vida. Ele sentiu o peito apertar e teve medo de estar infartando novamente. Mas não era infarto e ele sabia muito bem disso. Mas também não conseguia definir o que era.

Desde que colocou na cabeça que queria que ela fosse ao baile, independente de achar que o convite fosse dele ou da amiga, ele queria mesmo retribuir o quanto ela tinha ajudado com Beatriz e Dorah. Ele queria que ela se divertisse um pouco. E agora, sabendo tudo o que ela passou desde a descoberta da doença do pai, ele queria retribuir mais ainda. Ela era uma boa menina! Ele lia bem as pessoas. Como um juiz experiente, sabia analisar com precisão o caráter de alguém. Mas não conseguia ler e interpretar seus próprios pensamentos. Talvez o que estava sentindo era apenas admiração por ela ser tão esforçada. Mas aí ele se lembrou das vezes que se pegou a observando, disfarçadamente, enquanto ela prestava atenção no trânsito. Sacudiu a cabeça e se levantou para olhar a vista daquele final de tarde. Faltava uma semana para o baile e ele precisava entender o que estava de fato sentindo.

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