Beatriz havia se mudado para a casa do pai, logo após o enterro de sua mãe. Estela, Heloísa e Arthur que estavam no Brasil novamente, por tempo indeterminado se desdobravam para distrair a menina enquanto Henrique cumpria suas obrigações. Mas ele também estava se esforçando para ser um pai presente. Não queria ser nem de longe parecido com Arthur. Queria que a filha tivesse as melhores lembranças dele.
Victória sentia falta da Bia então, sempre que tinha um tempinho entre o estágio e a faculdade, que agora se resumia ao TCC, ligava pra menina pra conversarem. Ela não queria ir no apartamento de Henrique pois conhecia suas fraquezas. Ela já havia entendido que sempre que estivesse no mesmo ambiente que o juiz, acabaria nos braços dele.
- DROGAAAA! - Disse tentando se concentrar na pesquisa do seu trabalho que tinha como tema Cálculo renal em Gatos. Tirou os óculos de grau, que agora precisava usar e esfregou os olhos sonolenta. Olhou no relógio e passava das três da manhã. Ela tinha aula às sete da manhã. Fechou o notebook, o colocou sobre o tapete da sala, junto dos óculos e apenas puxou o edredon, que estava ali no sofá há uma semana, para cobrir o corpo cansado. Não tinha forças pra ir pra sua cama.
Deitado em seu quarto, Henrique acompanhava aquela rotina cansativa de Victória pela câmera escondida no porta retrato. Estava orgulhoso em ver o esforço que ela estava fazendo pra conquistar o seu diploma mas tinha vontade de colocá-la no colo e cuidar dela, quando a via esgotada.
Acostumou-se a colocar o notebook ao seu lado na cama enquanto a observava. Não era como ter ela ali em seus braços mas já era alguma coisa.
Precisava de um psiquiatra com urgência! Deveria ter um nome para aquilo.
No dia seguinte, viu quando ela se derrubou no tapete, sonolenta, quase caindo por cima do seu notebook. Henrique riu. Ela se levantou, cambaleando, para fazer deu café e estava apenas de calcinha de algodão e um sueter rosa. Continuava maravilhosa e ele a queria mais do que nunca.
Se levantou para ajudar a filha a se arrumar para o colégio e ela fez a única pergunta que ele não queria responder.
- O senhor e a Vic estão de mal?
- Por que tá perguntando isso, filha?
- Porque ela não veio mais aqui e o senhor fica triste quando alguém fala o nome dela. - tinha que ser filha dele mesmo! Beatriz era esperta demais pra idade dela.
- Mas a Teté me falou que vocês duas conversam quase todos os dias pelo telefone, mocinha..
- Mas não é igual ela tá aqui. Eu gosto de abraçar ela. - disse fazendo bico e cruzando os bracinhos. Henrique riu.
- Eu também gosto de abraçá-la, filha.
- Ela tem cheirinho de morango!
- Tem sim! - ele sorriu por a filha ter descrito bem o perfume dos shampoos, perfumes e cremes que Victória usava. Ela gostava de cheiros de frutas. Sentiu um aperto no peito mas sabia que não era outro infarto.
- O senhor tem que ficar de bem com ela de novo pra ela vir aqui brincar comigo, papai!
- Ela que tá de mal de mim! Eu gosto dela. Mas isso é assunto de adulto, princesa! Não tem que se preocupar com isso.
Bia riu do jeito que o pai falou, ajudando ela a amarrar o tênis.
Mais tarde, ao chegar da escola, a menina correu para a cozinha. Estela a pegou do chão e a encheu de beijos.
- Que pititinha mais linda, meu Deus! Tá com fome já?
- Não! Teté, eu preciso que me leve pra passear em um lugar. - disse baixinho no ouvido da Governanta. - ninguém pode saber, é segredo!
- Ah, sim! Deve ser um passeio muito importante. - disse no mesmo tom de voz da criança. - e onde a senhorita precisa ir?
A menina então cochichou no seu ouvido.
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Era Sábado e Victória estava terminando de colocar suas roupas para lavar e continuar lendo a pilha de artigos que seu orientador havia mandado por e-mail. Ela estava com tanto ranço da cara do professor que tinha vontade de deletar os e-mails sem ao menos abrir. Ela queria sair com os amigos, beber e dançar para esquecer o juiz. Mas estava focada em terminar aquilo logo. Ouviu sua campainha tocar e estremeceu. Só havia uma pessoa que entrava ali sem ser anunciada. Ela ajeitou os cabelos e foi atender. Mas, para a sua surpresa, quando abriu a porta não viu ninguém. Até olhar pra baixo.
- Oi! - disse aquele pinguinho de gente ali parada em sua porta.
- Oi, princesa! Que surpresa gostosa! - disse a suspendendo em um abraço apertado. - quem trouxe você?
- A Teté, mas ela desceu de novo porque ela não vai pra reunião.
- Que reunião? - perguntou curiosa, fechando a porta.
- Eu e você!
- Aaaah, claro! Senta aí! Aceita um café, uma água, um chá? - perguntou segurando a risada. Bia estava séria, igual ao idiota do pai dela.
- Não, obrigada! Você tem que ficar de bem com o meu papai! - ordenou. Era esse então o motivo da reunião. Não era possível que Henrique estava sendo tão baixo a ponto de usar sua própria filha. Uma criança!
- Ele que te mandou aqui? - quis saber.
- Não! Ele não sabe. A Teté falou que ia me levar no shopping. - Victória estava chocada e preocupada com a desenvoltura da menina pra planejar algo escondido.
- Ele vai ficar bravo com vocês. Mentir é feio, Bia!
Ela então olhou triste para os pesinhos e falou.
- Eu queria que vocês ficassem de bem de novo, pra gente poder brincar, você ir dormir lá com a gente. Sabia que agora eu moro com o papai?- Victória riu.
- Sim, eu sei, meu amor! E você gosta de lá?
- Gosto! Mas é mais legal com você lá.
- É que eu tô estudando e trabalhando, Bia. Tá um pouco difícil pra mim ir lá brincar com você. Mas logo eu vou tá mais tranquila tá. Daí, se o seu pai deixar, eu busco você pra gente passear.
- Ele gosta de você e disse que sente saudade. Igual eu sinto da mamãe. Mas você não virou estrelinha, pode ir brincar com a gente sempre que quiser.
Victória engoliu seco.Após a reunião, Victória mandou mensagem pra Estela subir pra comer bolo com elas.
Quando foram embora ela pensou no que Bia havia dito com termos inocentes. Ela estava viva ainda e não poderia ficar perdendo tempo com sentimentos tão mesquinhos quanto orgulho e mágoa.
Estava na hora de dar um basta naquela confusão! Ligou para Lucas.
- Preciso de um favor!
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Amor & Justiça ⚖
RomanceCom um empréstimo enorme, que pegou para ajudar no tratamento de saúde do seu pai, Victória não viu outra saída: precisava abrir mão do sonho de seguir na carreira em medicina veterinária e ir trabalhar de motorista particular para um juiz renomado...