Henrique
"O maior inimigo do homem não é outro senão seu proprio ego."
Uma vez eu li essa frase em algum lugar mas hoje eu consigo adaptá-la para a minha cruel realidade.
"O pior inimigo do homem não é outro senão a sua burrice."
Quando retornei para o escritório e dei de cara com Victória, sentada na minha cadeira olhando fixamente para a tela do meu notebook, achei que teria um segundo infarto. Mas, com certeza, ela não iria me acudir dessa vez. O olhar dela pra mim era a minha sentença e eu o sentia como espadas me apunhalando lentamente.
- Eu... Só vim pegar o meu celular e ia deixar um recado pra você. É verdade isso aqui? - disse com os olhos embaçados e eu quis gritar em desespero quando ela virou a tela do computador pra mim. - Por que fez isso, Henrique? - ela segurava o choro.
- Vic, só me escuta tá... - eu ia explicar e ela entenderia. Ela tinha que entender. Era para o bem dela mas eu a conhecia muito bem.
- Te escutar? Escutar o que? Você armou um reality show no meu apartamento. O que pretendia com isso? É... algum tipo de fetiche ficar me observando?
Ela me enchia de perguntas e eu só queria abraçá-la e dizer que estava tudo bem. Mas claramente não estava.
- Quando ia me contar? - ela me olhou profundamente e depois sorriu irônica, enxugando uma lágrima. - Não ia me contar né? Desde quando você tá me espionando, Henrique?
- Amor! - fui desesperado até ela que rapidamente retirou as minhas mãos de seus ombros.
- Fica longe de mim! - essa frase doeu a minha alma. Não poderia estar acontecendo isso. - Tira suas mãos imundas de cima de mim. - ela me olhava com ódio. - Deixa eu ver isso daqui. - disse abrindo todas as câmeras. Procurando entender onde elas estavam distribuídas. - Tem no banheiro também? Com certeza deve ter né? Seu doente!
- Calma, Vic! Não tem câmeras em nenhum dos banheiros! Me deixa explicar, por favor! - ela me olhou sem dizer nada. - eu queria te proteger. Fiz tudo errado mas eu queria ter certeza de que estava segura.
- Desde quando?
- Desde o sequestro. Eu ia te contar.
- Ah, Jura? - ela gargalhou possuída. - Quando?
- Quando tivesse a certeza que confiava de verdade em mim.
- Eu tô sem chão! EU confiei em você! Cegamente! Mas eu fui uma imbecil. Uma completa idiota que se deixou levar pelo charme do Todo Poderoso.
Eu estava sentindo o estômago queimar. Tudo em mim doía, pois as chances de perder Victória ali eram muito grandes.
- Vic, eu não teria feito nada disso se não tivesse tanto medo de perder você. Medo que algo ruim te acontecesse de novo, medo de que você sofresse. E...Eu posso ter feito tudo errado mas foi na intenção de te proteger, meu amor!
- O que mais que eu não sei? - ela perguntou fria. E isso me assustou.
Passei por ela indo até a gaveta trancada da mesa. Era a hora da verdade! <⁷Ela me observava em silêncio. O seu olhar frio me cortava. Destranquei a gaveta, puxei a sua pasta com a pesquisa de Salvatore e joguei sobre a mesa. Ela olhou antes de pegar.
- O que é isso? - perguntou.
- Abre!
Ela então se sentou, abrindo a pasta e conferindo tudo. Ela leu linha por linha enquanto eu andava de um lado para o outro, tentando me antecipar aos passos dela.
- Eu precisava entender o porquê de uma menina de 24 anos querer ser motorista de um juiz. Daí vi que tinha dívidas por causa do câncer do seu pai.
- CALA A BOCA! - ela gritou pela primeira vez. - Você não ouse tocar no nome do meu pai. Nossa, muito bom o seu detetive. Tem foto até do meu histórico escolar. Tem o número das minhas calcinhas também? - ironizou, repassando as páginas de forma nervosa. Ela estava uma pilha também.
- Eu sou um juíz, Victória. Você sentiu na pele os riscos da minha profissão. É normal mandar investigar quem trabalha pra mim. E isso foi antes de ficarmos juntos.
- Claro, você viu que eu era "limpinha" e resolveu me dar uma chance. Cadê as pastas dos outros funcionários? Do Rodrigo, da Vera, dos seguranças, da Rosa? Anda, tô esperando! - a olhei já rendido. Ela me venceu e eu sabia o que isso me custaria. - Não tem, né? Você critica tanto o seu pai, Henrique, e no final foi tão canalha quanto ele.
- Você tá sendo injusta!
- Você tem até amanhã a tarde pra retirar todo esse lixo do meu apartamento. Eu vou pra um hotel e deixarei a chave na portaria para você e os seus capachos.
- Vic... - tentei novamente me aproximar mas ela se dirigiu até a porta com os olhos cheios de lágrimas.
- Sabe o que me dói? Eu tava gostando de verdade de você. Eu amava você, Henrique e seria capaz de dar a minha vida por você! Como eu fui burra!
- Amava? O que quer dizer com amava?
- Amanhã mandarei para o Rodrigo o meu pedido de demissão e eu espero, sinceramente, que algum dia você saiba tratar as pessoas como gente de verdade e não como peças de xadrez.
Isso me doeu muito, pois eu estava disposto a dar o mundo pra ela sem que ela me pedisse. Eu sentia muita dor!
- E o que nós vivemos nesses últimos meses? - perguntei quase me ajoelhando ali na sua frente.
- Foi tudo uma mentira pelo visto!
Victória saiu e eu ainda a gritei umas duas vezes em vão. Sentei na cadeira e enfiei os dedos nos cabelos, desesperado. Ela não poderia ter me deixado, poderia? Claro que poderia! Ela poderia tudo o que quisesse.
Perdi o amor da minha vida e eu não iria conseguir sobreviver àquilo.
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Amor & Justiça ⚖
RomanceCom um empréstimo enorme, que pegou para ajudar no tratamento de saúde do seu pai, Victória não viu outra saída: precisava abrir mão do sonho de seguir na carreira em medicina veterinária e ir trabalhar de motorista particular para um juiz renomado...