Queda de braços

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Victória se assustou ao ver Henrique parado na escada não tão menos assustado. Parecia que ele não dormia há dias e seu coração doeu de vontade de esquecer tudo e ir correndo pro colo dele. Ela ainda cabia direitinho ali. Ele desceu os degraus, devagar, sem tirar os olhos de Victória que tinha Dorah, sua cachorra, a cercando com carinhos.

Sua garota estava ali na sua frente e ele custava acreditar. Um pouco mais magra mas tão linda quanto ele se lembrava. Ele via e revia os vídeos e fotos que fez dela todos os dias na esperança de jamais esquecer seu rosto e seus gestos. Mas doía não poder tocar nela, sentir o cheiro. Coisas que a tecnologia ainda não supria em homens tão burros quanto ele.

- Oi! - ela disse tímida.

- Vic! - ele disse indo em direção à ela, que deu um passo para trás quando ele se aproximou demais.

- Vim ver a Bia.

Ele suspirou, colocando as mãos na cintura e olhando pra cima na intenção de esconder e aparar a lágrima que se formava.

- Claro! - sorriu

- Como ela está? - ela perguntou controlando a vontade de abraçá-lo. Sim, ela o amava na mesma intensidade e essa revelação a deixou tensa.

- Consegui que dormisse. Mas tá abalada, frágil... Não sei o que fazer! - disse a olhando novamente e ela viu desespero em seus olhos. - Primeiro a perseguição e agora isso. É coisa demais pra cabecinha dela.

- Com certeza! - ela olhou para os próprios tênis. - eu posso vê-la? Prometo que não vou acordá-la!

- Claro que pode, meu... - ele parou tentando corrigir. - Claro, Vic! Vou comer alguma coisa.

- Tá bom! - ela subiu dois degraus e então o ouviu chamá-la. Se virou com o coração disparado. Estava rezando pra ele não dizer nada.

- Como você está? - perguntou triste.

- Eu voltei pra faculdade, tô prestes a conseguir um estágio... Tô sobrevivendo, Henrique! - ele sorriu por ela estar tentando esconder que estava tão mal quanto ele.

- Eu...

- Vou subir! - disse o cortando e virando as costas. Ela não queria ouvir nada que a tirasse novamente do eixo.

Ao entrar no quarto cheiroso e rosa de Beatriz, o seu coração se despedaçou. Ela ainda dormia mas seus olhinhos estavam inchados de chorar. Se lembrou do dia do velório do seu pai. Nem percebeu que havia se aconchegado ali ao lado dela. Também estava cansada! Também estava triste! Também precisava de carinho! Ela ficou ali sentindo o cheirinho de Bia até adormecer.

Henrique subiu quando notou a demora de Victória em descer. Ela estava fugindo dele e talvez isso durasse pra sempre. Quando chegou na porta do quarto viu suas duas meninas dormindo abraçadas.  Ele sorriu, encostado na porta e se sentou na poltrona ao lado da cama para ficar perto delas. Quis chorar! Ter Victória ali tão perto sem poder tê-la de verdade era pior do que ter ela longe.

Passadas duas horas, Victória acordou assustada. Mas sem acordar Beatriz. Ela estava exausta com a faculdade e a cama de Bia era quentinha e convidativa demais pra ela. Viu Henrique a observando e tratou de se levantar rápido.

- Desculpa, eu tava cansada! - disse calçando o seu tênis desajeitada. Enquanto ele também se levantava.- Diz pra ela que eu deixei um beijo. - ela disse saindo. Ele a segurou pelo braço a trazendo pra perto de si. Os dois estavam atordoados com aquele contato e seus corpos jogavam litros de adrenalina por segundo em suas correntes sanguíneas. - Henrique! - ela disse baixinho pra não acordar a menina.

- Eu sinto a sua falta o tempo inteiro! - disse colando sua testa na dela e sentindo sua respiração quente e ofegante. Ela não iria conseguir resistir se não sumisse logo dali.

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