Amor & Justiça ⚖

Mágoas

Victória e Heloísa foram de bicicleta para a Vila para comprarem o bendito vinho e dar oportunidade para que Henrique e Arthur trocassem algumas palavras. Heloísa não era ingênua ao ponto de achar que anos de mágoas seriam resolvidos com apenas uma conversa. Mas, desde que ela e o seu pai se mudaram para a França, a relação de Arthur e seu filho que já não era boa, praticamente acabou. Os dois mal se falavam e se distanciaram a ponto de, nem de longe, parecerem pai e filho. Apesar de Henrique ter puxado o gênio difícil do pai em algumas coisas.

Arthur havia errado muito, principalmente por causa das traições com Eulália, mãe dos meninos. Os filhos, por vezes e ainda pequenos, presenciaram brigas e a solidão de sua mãe. Solidão esta que a enfraqueceu e causou nela a doença que a levaria tão nova.

Henrique jamais conseguiu perdoar o pai por isso e, antes de ir embora para o Reino Unido para estudar, os dois tiveram uma briga terrível que envolveu até mesmo Lucas, que entrou no meio dos dois para separar e evitar que pai e filho fossem às vias de fato.

Lucas havia crescido com os Bianchinni e, mesmo que o desembargador mal olhasse para a sua cara, os filhos dele eram como irmãos para o filho da empregada. E Henrique o tinha como seu melhor amigo.

Desde que as meninas saíram para a Vila, os dois estavam sentados na sala cada um fazendo uma coisa mas sem trocarem nenhuma palavra. Henrique lia algumas notícias pelo celular enquanto Arthur lia um livro.

- Sabe que eu gostei da menina? Pela primeira vez na vida você tomou uma decisão acertada. - disse Arthur fazendo Henrique tirar os olhos do celular pela primeira vez desde que se sentou ali.

- Jura? Não foi isso que me disse lá no meu apartamento há poucos dias. - Arthur sabia o quanto seria difícil para o filho esquecer daquele dia, o acrescentando em seu rosário de mágoas.

- Eu sei, Henrique, e devo sinceras desculpas a vocês dois. Mas tudo levava a crer que ela era uma golpista. Mas a conhecendo melhor e sabendo que é filha de um homem tão digno quanto o Vicente, tenho certeza de que é uma menina de princípios. E eu te peço encarecidamente para não magoá-la, em respeito à memória do meu amigo.- Henrique o olhava com raiva.

- Magoar? Que nem o senhor magoou a mamãe a vida inteira? Tem certeza mesmo que quer entrar nesse assunto, pai? Graças a Deus, não peguei nenhum dos exemplos que o senhor me deu de como tratar uma mulher! Eu amo a Victória e jamais teria coragem de causar nela a dor que o senhor causou na nossa família. - ele se levantou para sair dali mas Arthur também se levantou, barrando a sua saída.

- Olha, Henrique, eu sei que você tem todos os motivos do mundo pra não gostar de mim. Mas eu ainda sou o seu pai. Posso não ter sido tão carinhoso com vocês, da forma como precisavam, mas eu nunca permiti que lhes faltasse nada. Você e sua irmã sempre estudaram nos melhores colégios, viajaram o mundo inteiro, tiveram tudo do bom e do melhor. Isso tudo também é uma forma de cuidado, Henrique! A Heloísa reconhece isso mas você...

- Eu nunca te cobrei um abraço, pai! A minha mágoa não tem nada a ver com demonstrações de carinho. Isso a Teté e a mamãe supriram enquanto o senhor estava enfiado no fórum e nos bordéis de luxo de São Paulo. A minha mágoa é por tudo o que fez com a mamãe. Você sabe que ela acabou desistindo da vida dela porque estava triste, sozinha, menosprezada. Ela teria lutado contra aquela doença maldita se o senhor estivesse ao lado dela dando força! - Henrique tentava não gritar com o pai mas sua voz estava embargada e os olhos embaçados pelas lágrimas. - eu não vou fazer com a Vic o que o senhor fez com a minha mãe. Pelo contrário, eu quero ser o porto seguro dela, a pessoa que ela mais confia no mundo. Eu quero que, quando eu sair de casa para trabalhar, ela não tenha nenhuma dúvida de que é isso mesmo que eu estou indo fazer. Que eu não estarei mentindo pra ela. Realmente, ela é uma mulher incrível, assim como a mamãe foi. Dá licença! - disse tirando o pai do caminho apenas com o seu olhar fuzilante. Subiu para o quarto com ódio. Como o pai ousava pedir a ele para não magoar Victória?