Amor & Justiça ⚖

Férias Forçadas

Quinze anos atrás

Vicente chegava com a filha aos berros no hospital após a menina, jogando bola no campo do bairro, ter levado um carrinho e caído de cara no chão. Ela havia quebrado o narizinho tão perfeito que ela tanto amava. Estava entrando na adolescência e sua maior preocupação naquele momento nem era a dor que estava sentindo, mas sim de ficar com o nariz torto.

- Filhotinha, deixa de bobagem! Você vai continuar linda, mesmo se o seu nariz ficar parecido com o do Louro José. - Vicente adorava assistir ao programa da Ana Maria na televisão, enquanto tinha folga do restaurante.

- Pai, não tá ajudando! - reclamou enquanto preenchiam a ficha no hospital.

Após vários raios X e alguns pontos, foram liberados. Agora o rosto de Victória estava todo roxo, principalmente abaixo dos olhos por causa da pancada. O Juninho, menino que a havia derrubado na maldade iria pagar caro por isso!

- Eu nunca mais vou sair do meu quarto! - disse ao entrar no apartamento e dar de cara com o espelho na sala. - nunca gostei desse espelho!

Vicente tentava não rir e mostrar solidariedade com o sofrimento da sua filha.

- Ah, você tá linda! - brincou recebendo um olhar mortal da adolescente pelo espelho. - é sério! Daqui a alguns dias, nem se lembrará que ficou com a cara nesse... nessa situação.

- Será que vai voltar ao que era antes? Eu já não sou lá essas coisas, nem tô no top 5 da sala. Ainda tem essa ferradura na boca pra acabar de ajudar. Se ficar deformada, aí que a minha vida amorosa acaba antes mesmo de ter começado!

- Vida amorosa? Top 5? Que... que papo é esse, Victória? Você deveria estar brincando com as suas bonecas e não querendo estar em uma competição de beleza, pra agradar a esse bando de moleque horroroso. - ele falava sem usar um tom agressivo mas sim divertido e incrédulo por ver que a sua filhinha estava crescendo. - Pra mim, você sempre será uma princesinha! A mais linda de todas e nós vamos cuidar desses machucados pra você não ficar com nenhuma sequela disso. Aí depois você devolve o carrinho no menino! - brincou mesmo sendo totalmente contra a violência.

- Obrigada, pai! Amo o senhor! - disse abraçando o pai, voltando a ser apenas a garotinha dele naquele momento. Aquele abraço a protegia de tudo o que havia de ruim no mundo inteiro.

- Eu também amo muito você, bonequinha!

Tempo Presente

Victória passou uma longa semana no hospital fazendo e refazendo exames para ter a certeza de que estava tudo bem. Para que Henrique tivesse essa certeza, na verdade. Enquanto ela já se estressava com a pausa forçada, Henrique não fazia nenhuma questão que ela saísse dali antes de ter certeza absoluta que ela estava bem.

Victória odiava hospitais com todas as suas forças. Desde que o pai adoeceu, ela praticamente se mudou para um hospital, que era referência no tratamento de câncer e aquilo tudo foi bastante pesado pra ela. Via pessoas as quais havia se afeiçoado morrerem ali do seu lado. E viu o quanto a vida era frágil.

O lado bom era que desde que acordou, estava recebendo mimos de todos os lados. E muitas visitas também.
Como Henrique havia sido afastado do fórum por uns dias, devido a tudo o que passou e por, motivos óbvios, também afastado do júri do traficante, não viu outro lugar para estar que não fosse ao lado da sua namorada. Bia já havia tido alta no dia seguinte ao sequestro, apenas ficando pendente que ela fizesse um acompanhamento com um psicólogo para entender o que havia acontecido e ir apagando os traumas aos poucos.

Ao saber o que havia acontecido com a sua filha, Letícia retornou à São Paulo e, obviamente ao chegar ao hospital, ela e Henrique travaram uma briga épica no corredor do quarto da filha.