Victória aguardava a chegada de Henrique para se dirigir ao fórum. Estavam de volta ao trabalho. Tentava não sentir o coração disparado com a espera mas era difícil. Abriu sua garrafinha de água e bebeu um longo gole.
- Ele tá descendo, Vic! - quase engasgou ao ouvir Lucas no ponto. Se olhou no espelho do carro e ajeitou os cabelos longos. Logo viu Henrique sair do elevador e ser escoltado por dois seguranças até o carro. Segurou o volante com força aguardando que ele dissesse alguma coisa. Mas ele não deu uma só palavra com ela. Nem mesmo um bom dia! Victória estava em choque.
- Tá esperando alguma coisa, senhorita Victória? - disse sério e formal,
fazendo ela sair do estado de choque. - eu tenho horário a cumprir! - ela soltou um riso seco e tirou o pé da embreagem fazendo o carro andar.- Sim, senhor, Vossa excelência! - disse com raiva. Como o seu microfone estava desligado, não levaria bronca do Lucas. Henrique a olhou pasmo mas não respondeu. Estava com raiva, ciúmes, saudade. Não sabia lidar com o ego ferido por não ter tido sua mensagem e ligação respondidos.
Foram em silêncio por todo o caminho.
Henrique passou direto por Vera e Rodrigo e este previu que seu dia seria um inferno.
- Ai, que Deus nos proteja, Verinha! - sussurrou seguindo o juiz.
Após despachar tudo o que precisava com seu assessor, Henrique se dirigiu à promotoria com o jornal nas mãos. Não havia outra palavra que o definisse
além deEmputecido.
Entrou sem pedir licença na sala de Gustavo, deixando a secretária dele louca com isso. Mas quem teria coragem de impedir sua passagem dentro daquele fórum?
Quando entrou na sala, seu dia que já estava uma porcaria, piorou consideravelmente ao ver aquela cena ridícula. Helena, advogada assessora da promotoria, estava massageando os ombros do seu ex cunhado enquanto esse soltava leves gemidos.Constrangedor!
Ele não gostava de Helena por tabela. Foi com ela que Gustavo traiu Heloísa e sua irmã tinha ódio da linda, competente e descarada advogada.
- Preciso falar com você a sós, Gustavo! - disse jogando o jornal em cima da mesa do promotor, assustando os dois.
- Bom dia, Henrique! Feliz ano novo! - disse Gustavo, ajeitando a gravata enquanto Helena pedia licença e saía.
- É sério isso? Você tá com ela de novo e levou a minha irmã pra cama, seu desgraçado! - estava a ponto de dar outro soco na cara de Gustavo.
- Opa, pera aí: primeiro que eu não tô com a Helena e segundo que eu não obriguei a sua irmã a dormir comigo. Se quiser me bater, procura outro motivo. O que é isso? - disse pegando o jornal e lendo a manchete de primeira página
"JULGAMENTO DO TRAFICANTE CARLINHOS ANDRADE TEM DATA MARCADA".
- Alguém vazou a data do julgamento pra imprensa! - disse nervoso, andando pela sala do promotor com as mãos no bolso. - Isso não poderia ter saído antes de ser comunicado formalmente para defesa e acusação. Agora ele não vai ser pego com as calças na mão como queríamos.
- Que droga! Mas quem vazou essa informação? Pouquíssimas pessoas sabiam disso, Henrique.
- Agora já era! Você vai precisar usar todo o seu brilho pra convencer o júri de enviá-lo pra penitenciária de segurança máxima no meio do mato. Se vira! - disse com ironia saindo de volta para a sua sala.
Pra Victória, o dia também não estava muito bom. O mau humor de Henrique e a forma grosseira como a tratou havia acabado com o seu dia. Ela mal havia voltado ao trabalho e já queria sumir. Esperava que Henrique fosse gentil, igual vinha sendo. Mas seu comportamento infantil apenas demonstrou que ela estava certa em querer esquecer aquele beijo. Mesmo não conseguindo.
- Victória, ele irá almoçar em casa. - Ouviu Lucas pelo ponto.
- Entendido! Estou no carro já.
Não demorou muito para que Henrique enchesse a garagem com a sua presença. Ela se endireitou no banco e aguardou ele entrar, colocar o cinto para partir.
- Quero ouvir música, por favor! Música de qualidade! - ordenou mexendo no celular. Victória tentou não revirar os olhos e conseguiu com muito custo não demonstrar reação. Colocou em uma rádio mais sofisticada e olhou pelo retrovisor.
- Quer que aumente o volume, senhor?
- Não precisa!
A música era bonita, tinha uma melodia gostosa e era bastante romântica. Quis mudar a estação mas ele a impediu.
- Deixa aí! - ordenou.
Quando chegaram ao apartamento, Victória aguardou ele sair para subir em seguida. Entrou nervosa na cozinha onde Estela terminava de servir a mesa dos empregados.
- Que cara é essa? - perguntou. Victória não teve tempo de responder pois Lucas a chamou.
- Ele quer falar com você no escritório.
- Ah, mas não é possível! Eu devo ter colado chiclete na cruz! - Estela riu e Lucas se sentou pra almoçar.
Victória deu duas batidas na porta e ouviu a voz grave de Henrique mandar entrar. Mandar, porque hoje ele não estava pedindo nada.
- Pois não, senhor! - disse com a voz mais formal que conseguiu. Viu quando ele atravessou o escritório e trancou a porta, o sentindo parar atrás dela.
Perto demais!
- Eu... queria te pedir desculpas. Fui um idiota hoje com você.
- Era só isso? Posso sair?
- Não! - ela sentiu ele se aproximando mais e seu coração acelerou.
- Não faz isso! - disse com a voz falha.
- Isso o que? - disse ele fingindo que não havia entendido. Respirando o perfume de Victória.
- Isso! Não sei o que pensar sobre você. Quer dizer: sobre o senhor. Uma hora é um cavalo comigo e depois se aproxima como se fosse simples somente me pedir desculpas.
- Eu também não estou conseguindo me entender, Vic. O que eu tô sentindo por você é novo pra mim. Eu senti a sua falta. - ele então colocou a mão na sua barriga e a virou para que ela ficasse de frente pra ele.
- Não, por favor! - sussurrou sem forças. Ele estava lindo, cheiroso e seus olhos claros, que ela achava tão atraentes, escureceram. - têm pessoas lá fora. Imagina o que devem tá pensando?
- Eu não me importo nem um pouco! - disse olhando pra boca de Victória.
- Mas eu sim! Não quero ficar conhecida como a vadia que tem um caso com o chefe.
Ele então a puxou pra si, causando um susto nela. Susto era pouco, Victória quase desmaiou com aquele gesto bruto.
- Nunca mais refira a si mesma dessa forma! - ela podia sentir seu hálito de hortelã e café fazer cócegas na sua boca.
- Sim, senhor! - disse assustada.
- Agora vai almoçar antes que eu faça uma besteira aqui. - soltou Victória e se sentou atrás da mesa sorrindo. Ela abriu a porta e saiu rapidamente. Estela e Lucas a olhavam curiosos. Rosa, a camareira, e os seguranças conversavam distraídos. Ela comeu em silêncio.
Em um ponto não tão nobre da cidade William e Daniel também almoçavam.
- Ela não retornou as minhas mensagens. - disse o rapaz mais novo olhando apreensivo para o chefe. Este jogou o jornal em cima da mesa. Com a mesma manchete que deixou Henrique furioso mais cedo.
- Não temos tempo, Daniel! A minha cabeça está em jogo também. Vou resolver isso eu mesmo.
Terminaram de almoçar e Daniel seguiu pro seu apartamento em um conjunto habitacional simples. Bem diferente da moradia de um investidor de criptomoedas. Quando entrou em seu quarto, foi surpreendido por trás por um homem com luvas e capuz, que o enforcou com um fio de aço. Daniel tentou se soltar mas acabou perdendo suas forças.
Já estava morto!
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Amor & Justiça ⚖
RomanceCom um empréstimo enorme, que pegou para ajudar no tratamento de saúde do seu pai, Victória não viu outra saída: precisava abrir mão do sonho de seguir na carreira em medicina veterinária e ir trabalhar de motorista particular para um juiz renomado...