Victória abria mais uma caixa de lenço ao lado da sua cama. Desde que retornara para o seu apartamento, após Henrique ter mandado a mesma equipe que colocou as câmeras lá, voltar para retirá-las, ela só sabia chorar. Victória estava sentindo um buraco no peito como se uma bazuca a tivesse atingido em cheio.
- Ele não podia ter feito isso comigo! - disse, aos prantos, girando a cordinha do carrossel que ele havia dado pra ela de Natal.
Agora ela estava desempregada e sem o amor da sua vida. Precisava se recuperar para seguir em frente. Precisava arrumar forças pra ir até a faculdade reabrir sua matrícula e procurar um estágio. Agora que conseguira pagar o maldito empréstimo, as coisas ficariam mais fáceis pra ela. Pensou no pai e no quanto ele queria vê-la formada.
Chorou mais ainda!
Ele também a queria feliz e isso ela tinha a certeza de que não seria mais.
- Que drama, amiga! - disse Lívia sentada em sua cama enquanto ela, Rodrigo e Léo davam forças pra amiga bebendo cerveja e comendo pizza ali mesmo.
- Acho que deveriam conversar! - disse Rodrigo sério. - ele tentou te proteger. - Victória, Lívia e Léo o olharam feio. - Ah, qual é? Não tô defendendo o cara mas ele claramente ama você, Vic.
- É, mas meteu os pés pelas mãos! - lembrou Lívia. Victória somente queria que eles mudassem de assunto. Não queria pensar em Henrique e muito menos falar sobre ele.
- Ou vocês mudam de assunto e melhoram o meu humor, ou sai todo mundo daqui agora! - disse virando o resto de sua cerveja e soluçando. Eles foram até ela em silêncio e a abraçaram.
Ela chorou mais!
Após quatro dias em profunda depressão, Victória conseguiu se levantar. Se olhou no espelho e se sentiu um lixo. Estava com olheiras, rosto inchado, os cabelos totalmente desidratados. Olhou à sua volta e viu que, assim como ela, o seu apartamento também estava um caos.
Ela precisava de forças pra arrumá-lo. Fez uma gororoba horrorosa na cozinha e praticamente engoliu aquilo, pois não sentia fome alguma. Arrumou o apartamento do jeito que conseguiu, tomou um banho e saiu pra dar um rumo em sua vida.
Com ou sem aquele idiota, ela precisava continuar!
Foi até a faculdade reabrir sua matrícula e, como o semestre havia acabado de começar, ela já retornaria às aulas no dia seguinte. Precisaria vender o carro pra pagar mais seis meses de mensalidade, pensou. Mas, pelo menos, ela não ficaria devendo nada a ninguém. Olhou no mural as vagas de estágio e tirou foto pra entrar em contato depois.
O dia estava frio, estavam na metade do inverno e ela resolveu tomar um café em algum lugar tranquilo. Seu celular tocou pela milésima vez e ela já sabia quem era. Não atendia mas também não conseguia bloqueá-lo. Apenas bloqueou no WhatsApp para não ter que ficar lendo as cartas que ele a mandava, a desestruturando totalmente. Colocou o celular no silencioso e continuou o seu café enquanto mandava alguns currículos pelo notebook.
As noites eram os piores momentos do dia dela, onde a solidão a corroía. Por mais que colocasse filmes de guerra, ação, terror, policiais e ficção científica pra assistir, sempre sentia falta do colo quente do seu ex namorado. Sim, ex! Ela resolveu dar um rótulo para aquilo.
No dia seguinte, antes de ir pra faculdade, tirou fotos do seu carro, que era um presente de seu pai, para colocar no site de compra e venda. Seu coração sangrava, pois não queria desfazer dele. Mas também não queria ficar refém de outro empréstimo.
- Desculpa, pai! - disse abraçada ao carro.
As aulas eram um respiro pra ela e precisava se dedicar bastante, inclusive já entrou no olho do furacão com o TCC. Se conseguisse um estágio remunerado, só teria tempo de desenvolver o TCC de madrugada. Mas era ótimo! Pelo menos não teria tempo pra pensar em mais nada, além do seu futuro.
Um mês depois
Victória saía da entrevista de estágio feliz, pois os entrevistadores demonstraram interesse. E pagava bem. Não era nem metade do que ganhava como motorista mas iria ajudar muito. Já havia vendido o carro e agora transitava de metrô por São Paulo, como uma estudante comum. Graças a Deus! Pensou.
Desligou mais uma chamada de Henrique e logo depois recebeu uma ligação de Lívia.
- Oi, amiga! Tô no metrô. Posso te ligar quando chegar em casa? - disse tentando se equilibrar.
- Você ainda não tá sabendo né? - ela congelou. Havia tantas possibilidades.
- Sabendo do que? - perguntou com medo.
- Do acidente.
Ok. Agora ela estava apavorada. Odiava a forma como Lívia dava as notícias picadas.
- Que acidente, Lívia? Fala logo! - algumas pessoas a encararam assustadas.
- Com a mãe da Beatriz. Ela tava voltando da praia de helicóptero com o namorado e ele caiu. O corpo acabou de ser encontrado.
- O que? - sentiu uma mão apertar o seu coração. Não ia com a cara da ex mulher de Henrique mas amava Beatriz como se fosse sua filha. Pensou no sofrimento da menina naquele momento. - vou ligar pra Estela pra ter notícias da Bia. Obrigada por avisar, Liv!
Desligou a chamada com a amiga e ligou pra Estela que a atendeu no segundo toque.
- Ai, graças a Deus, Vic! Tentamos te ligar mas você não atendeu. Já sabe o que houve? - disse a mulher aflita do outro lado da linha.
- Acabei de saber. Como ela está? - disse saltando do vagão e subindo as escadas correndo.
- O Henrique acabou de contar pra ela. Tá chorando no quarto, abraçada ao pai. Eles... Os dois precisam de você, Vic. - Victória parou petrificada, com algumas pessoas esbarrando nela. -Que seja como amiga! O Henrique virou um farrapo desde que... você sabe. E ver a filha nesse estado vai terminar de acabar com ele. Nem que seja um abraço, Vic. Por favor! Você perdeu o seu pai, sabe o quanto dói! - Estela havia pegado o seu ponto fraco e por um segundo ela a odiou por isso. Já estava chorando.
- Tá. Só não avisa nada pro Henrique. Eu chego aí em 15 minutos. - disse desligando e chamando um carro por aplicativo.
Henrique estava destruído. Não pela morte de Letícia. Claro que ficara triste pois ela era a mãe de sua filha e conviveram por alguns anos. Mas ele estava no estado que estava por dois motivos: ter perdido Victória e ver o choro sofrido da sua pequena. Ela era tão frágil e ele não conseguia protegê-la daquele sofrimento! Mas havia conseguido fazê-la dormir. Decidiu que não a levaria para ver a mãe morta. Até porque o corpo não estava apresentável. Seria um velório de caixão fechado. Os pais de Letícia já haviam chegado do sul.
Deu um beijo na testa da filha e saiu do quarto. Quando ia descendo as escadas não acreditou no que os seus olhos estavam vendo. Deveria estar delirando por causa do calmante que estava tomando por ordens médicas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor & Justiça ⚖
Любовные романыCom um empréstimo enorme, que pegou para ajudar no tratamento de saúde do seu pai, Victória não viu outra saída: precisava abrir mão do sonho de seguir na carreira em medicina veterinária e ir trabalhar de motorista particular para um juiz renomado...