Chapter¹

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Costumo dizer que renasci depois dos 18 anos

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Costumo dizer que renasci depois dos 18 anos. Eu apaguei da minha vida o período anterior. Tenho sérios e grandes motivos para isso. De onde eu venho, se me vissem sujo de terra, com roupas surradas e um carro velho, seria motivo de vergonha. Para eles, não para mim. Eu estou perfeitamente feliz do jeito que estou agora.
Faz quase dez anos que não vejo minha família. Não é como se eu fizesse falta e também não é como se eu quisesse voltar. Eu não pertenço àquele lugar. Nesse período, refiz minha vida e tenho uma noiva maravilhosa. Sophie com certeza é a esposa dos sonhos de qualquer homem. Bonita, inteligente, carinhosa e ótima na cama.
Há três anos, quando fiz o pedido, ela aceitou de imediato, porém, em seguida, foi aprovada na universidade de Boston, que eu sabia ser seu sonho. Combinamos de nos casar quando ela voltasse. O que está próximo, pois faltam só algumas semanas para ela voltar.
Enquanto ela está fora, eu consegui um novo emprego como capataz na fazenda Walker. George Walker é um ótimo patrão e confia em mim como braço direito. Felizmente, consegui mostrar minha eficiência todo esse tempo para merecer tal título. Além dos inúmeros funcionários, conto também com a ajuda do sobrinho do senhor Walker: Alexander Banks. Ele é um bom rapaz. Tem um jeito meio xucro, mas é muito trabalhador, além de um bom amigo.
Sei que ele gosta de homens, não que eu tenha perguntado ou ele me dito, mas uma vez fomos à cidade para comprar algumas peças e a minha caminhonete velha esgotou a bateria, por isso decidimos dormir em um hotelzinho beira de estrada, então à noite fomos andar pela cidade até achar um bar e, enquanto eu dispensei uma moça educadamente, dizendo ser noivo, Alexander disse:
— Filha, da fruta que você gosta, eu chupo até o caroço. — E aí ele sorriu "educadamente".
Pensei que ele tinha dito isso apenas para recusar as investidas da moça, mas quando um baixinho com cara de sono e poucos amigos chegou, ele ficou todo animado. Naquela noite, ele não voltou para o pequeno hotel, e de manhã, quando o busquei em frente ao mesmo bar que estivemos, nada foi dito. Não é da minha conta com quem ele transa ou deixa de transar.
Voltando, uma das minhas maiores conquistas é a minha caranga. Foi a primeira coisa que comprei com meu dinheiro, que batalhei para ter. Não é o melhor carro do mundo, tem seus defeitos, a cor é extravagante e deve ser mais velha do que eu, mas minha caminhonete e eu temos uma conexão.
É estranho, mas parece que eu tinha que comprá-la, porque de alguma forma ela se encaixou na minha vida e eu não sei se quero outro carro. Sophie não gosta muito dela, diz que é chamativa e velha, já me pediu inúmeras vezes para vender e comprar um carro melhor. Eu sempre digo que vou pensar no assunto, mas já pensei. Desfazer-me dessa caminhonete é como perder uma parte de mim, o Logan que eu quero ser e sou. Então, não! Vender a caminhonete não é uma opção. Um dia ela vai entender.
O pai de Sophie fica botando Theodore, o irmão mais novo dela, no meu pé. O garoto é um chato com “c” maiúsculo. Todo metido à besta e cheio de "não me toque". Theodore sofre nas mãos de Alexander, que está sempre provocando o garoto. Bem, ele que se cuide, Alexander não é do tipo que aceita um não sem testar todas as possibilidades.
Resumindo bem, eu adoro o meu eu e meu cotidiano. Talvez felicidade seja isso. Talvez eu esteja muito feliz.
— Está sabendo, Jeon? — John, um dos meus ajudantes, pergunta, enquanto colocamos toda a ração do gado em cima da traseira da minha caminhonete para levar ao galpão.
— Sabendo de quê?
— O filho afrescalhado do senhor Walker chegou hoje.
Paro de erguer os sacos e o encaro.
— John, você gosta do seu emprego? Eu suponho que goste, então se não quer perder seu emprego, não faça fofocas e também não deboche da orientação sexual de alguém, principalmente do filho de quem paga seu salário.
— Qual é, Jeon? Não é fofoca e eu não estou debochando, é só que o rapaz é todo… Como posso dizer? Baitola.
— Chega! — grito. — Não é da sua conta, não é da minha conta, faz o seu trabalho e cuida da sua vida, ou eu vou perguntar ao senhor Walker o que ele acha sobre funcionário caçoando do filho dele.
— Não! Por favor. Não digo mais nada.
— Ótimo.
Nesses anos aqui na fazenda, eu nunca vi o filho do patrão. Tudo o que sei é que o garoto mora com a tia em Green Fall e que faz faculdade lá. Saber agora que ele está aqui na fazenda me desperta curiosidade. Eu gosto muito do pai dele, é uma inspiração para mim, e certamente tenho que conhecer o primogênito Walker.
Quando terminamos de descarregar os sacos no galpão, deixo John perto do estábulo e dirijo para a sede.
Entro pela porta da cozinha, onde está Emília, a cozinheira da família Walker.
— Boa tarde, gatona — cumprimento a cozinheira que, já com seus sessenta e cabelos grisalhos, sorriu envergonhada.
— Menino Jeon, como sempre, galanteador. Boa tarde, filho — ela respondeu, ajeitando pãezinhos de queijo para assar. — Espere um pouco que vou passar um café fresquinho, enquanto assa os pães de queijo.
Sento-me em uma das cadeiras para esperar.
— Onde estão todos dessa casa? — pergunto e ela deixa o caneco com água no fogão para ferver.
— Senhor Walker foi levar a namorada para fazer compras, e o Miles está no quarto, falando no celular com o namorado.
— Então ele é mesmo gay?
— Sim. Aparentemente, o namorado ia vir com ele, mas houve um imprevisto.
Ela vai passar o café e continuo sentado, esperando, apenas quieto até que ele entra na cozinha.
— Mila, o cheiro está ótimo, é pão de quei- — Ele para de falar e me encara.
Não faço muito além de encarar de volta.
Quero poder controlar meus pensamentos, mas a primeira coisa que penso quando o vejo é: como ele é lindo. A segunda é: será que esses lábios grossos são macios e apetitosos como realmente parecem?
Certo. Eu preciso realmente parar de pensar.
— E você quem é? — ele pergunta, cruzando os braços.
Levanto-me e estendo a mão.
— Logan Jeon, o capataz da fazenda. Prazer em conhecer — eu digo com a mão estendida.
Ele olha minha mão e não descruza os braços.
— Hum, tanto faz. Mila, cadê meu pai? — Ele me ignora e continua falando com a cozinheira.
Ignore-o também, Logan, devolve na mesma moeda, penso comigo mesmo, antes de falhar:
— Você é alérgico a homem bonito? Por isso não quis pegar minha mão?
Ele me olha incrédulo.
— O quê? Que petulante! Escuta, você é só um funcionário e eu não sou obrigado a nada.
— Hm... Arisco. Pelo visto, papai não deu umas palmadas por ser malcriado.
— Que absurdo! Seu caipira abusado.
Enquanto isso, ele vai ficando vermelhinho e nervoso, e Emília prepara a mesa contendo o riso.
— Foi um prazer conhecer você também. — Sorrio para ele. — Mila, minha gatona, até mais. Cuidado com a síndrome de esconde-esconde dele, vai que é contagiosa.
— Que síndrome de esconde-esconde? — ele esbraveja.
— Aquela em que o infectado se acha.
Então saio e o deixo resmungando com a cozinheira, me chamando de caipira, abusado e outras coisas. Volto para o celeiro, onde Alexander está, e o ajudo a terminar de arrumar o cercado de madeira.
— Está rindo de que, Jeon?
— Acabei de conhecer seu primo, uma graça. — Nego com a cabeça enquanto rio.
— É o jeito dele. Miles tem personalidade forte, mas é legal.
— Ele vai ficar muito tempo?
— Um mês. Pelo que soube, houve um recesso na faculdade dele e meu tio pediu que ele viesse ficar um tempo. Sem contar que o garoto não vinha aqui desde que a mãe dele morreu. Vai ver tio George quer apresentar a nova namorada.
— Eu só troquei meias-palavras com ele e já queria esquentar a bunda dele com uns bons tapas por ser tão arrogante. Coitada dessa mulher que vai ser sua nova madrasta.
— Miles e eu crescemos juntos, ele não era assim, tudo mudou quando a mãe morreu e ele foi morar com a tia.
— Uma coisa não justifica outra, mas enfim... É só eu ficar longe do caminho dele.
— Dele quem? Eu? — E então Miles aparece no celeiro.
— Mi, quanto tempo... Olha só para você, está lindo. — Alexander intervém.
— Senti sua falta, Alex.
— Vou deixar vocês à vontade — digo. — Como já está acabando o dia, vou para meu dormitório.
— Você não me respondeu. O que estava falando de mim? — Ele se aproxima e só então, quando ficamos frente a frente, e ele ergue a cabeça para me olhar nos olhos, noto ser mais alto que ele. Nada exorbitante, mas ainda assim…
Ele não é do tipo que se deixa pisar, não que eu fosse fazer isso, mas gostei dessa pose, todo decidido.
— Quer minha atenção, coisinha? Achei que eu não fazia seu tipo. Sabe? Bonito e caipira.
Ele cora com minha resposta e abre a boca para rebater quando o pai dele chega.
— Oh, Mimi, aí está você. Vejo que já conheceu meu braço direito, Logan Jeon. Esse homem é meus olhos quando não estou por perto, mais que um funcionário, outro filho.
— Como vai, senhor Walker? — Sorrio para o mais velho.
— Sem essa de senhor Walker, já disse muitas vezes, apenas George. Estou ótimo, meu Mimi está em casa outra vez.
— Pai, pelo amor de Deus, esse apelido não, não sou mais criança — Miles diz emburrado.
— Por que, Mimi? — Questiono só para irritá-lo.
— Ah, quando meu pequeno era criança e não conseguia dizer o próprio nome, ele dizia que se chamava Mimi, a mãe dele e eu achávamos adorável.
— Mas agora eu cresci e sei dizer meu nome, pai, já podemos parar com esse apelido.
— Eu achei muito fofo. Mimi combina com você. — Sorrio para Miles e o vejo revirar os olhos.
— Alexander, meu querido, vai se juntar a nós hoje no jantar? — Senhor Walker pergunta.
— Claro, tio, estava com saudades do Miles, então estarei lá.
— Jeon, quer se juntar a nós?
— NÃO! — Miles responde por mim. — Quer dizer, não creio que ele queira isso, deve ter a própria família para jantar junto.
Eu posso quebrar o talo dele, mas vou deixar passar.
— Obrigado pelo convite se- George. Mas essa noite eu tenho um compromisso.
— Que pena. Fica para uma próxima, então — George responde.
— Com certeza.
Deixo os três no celeiro e vou para meu dormitório. Eu gosto desse lugar. Por mais que seja um cômodo com um banheiro, é aconchegante. Nada perto do luxo que já tive, mas ainda assim muito melhor. Aqui eu consigo me deitar e dormir. E houve um tempo em que dormir não era fácil para mim, pelo menos dormir sem ter pesadelos. Felizmente, não sonho com Louis há bastante tempo.
Tiro minhas roupas e tomo um bom banho. Enquanto a água percorre meu corpo, repasso todo o meu dia cansativo, porém produtivo, em minha cabeça até parar em meu primeiro encontro com Miles. As coisas que pensei quando o vi… Eu nunca pensei nada parecido sobre outro homem. Não que me lembre.
Primeiro, ele é, sim, bonito. Segundo, ele tem uma boca muito chamativa. Lábios cheios e convidativos. Mas ainda assim lábios de um homem. Outro homem, e não gosto de homens. Então, por que me peguei pensando em provar aqueles lábios? Testar a maciez contra meus lábios.
Ok! Deve ser a falta de sexo. Afinal, tem mais de três anos que não transo.
Termino meu banho, me deito na cama e ligo para Sophie. Toca por um tempo consideravelmente longo até ela atender.
— Oi, Logie...
— Olá, querida, atrapalho?
— Não, tudo bem. Eu estava estudando um pouco. Minha colega de quarto foi comprar uma pizza para a gente, estou esperando. Como foi seu dia?
— Tirando o filho de meu patrão estar na fazenda, nada de novo. Estou com saudades.
— Também estou. Mas logo estarei aí, Logie. Posso te perguntar uma coisa importante?
— Claro, querida. Pode perguntar.
— Você ainda me ama, como antes?
— Por que isso agora? — Sento-me.
— Eu não sei, só... — Ela suspira derrotada e continua: — Vamos deixar para lá.
— Não, não vamos deixar para lá. Por que você quer saber se te amo como antes? Algo mudou?
— Não. — Ela ficou em silêncio até que ouvi a voz de outra mulher. — Eu preciso ir, boa noite, Logie. — E então ela desliga sem nem esperar eu responder.
Deixo meu celular na cama e vou preparar algo para comer. Enquanto corto alguns legumes, fico pensando: eu ainda a amo como quando a pedi casamento? Ela é uma mulher incrível e com certeza eu serei feliz casado com ela. Mas, após tanto tempo sem vê-la, sem tocá-la, conversando vagamente por mensagens antes de dormir, raras ligações, eu acho que contribui para essa dúvida.
Eu ainda a amo?
Termino o meu jantar e, enquanto comia, fiquei pensando na minha vida. Não sei em que momento comecei a pensar naquele dia em questão, o dia em que minha vida virou um inferno. Eu não tinha como prever e me culpo até hoje pelo resultado de tal imprudência. Pensar nisso me deixa inquieto, e eu preciso refrescar a mente.
Visto-me, entro na minha caminhonete e dirijo até a entrada da fazenda. Provavelmente o jantar na casa principal já deve ter acabado e está tudo muito calado. Algumas luzes acesas, mas definitivamente quieto. Fico observando a escuridão no horizonte, perdido em árvores e mais árvores, até que escuto a voz dele.
— Maddox, isso não é desculpa, eu tentei falar com você a tarde toda, custava uma mensagem?
Forço meus olhos e então enxergo Miles andando no escuro com o celular no ouvido.
— Eu não quero saber se seu primo está doente, Maddox. Cadê os pais dele? Os amigos? Um padre para exorcizar... Tinha que ser você? — ele esbravejou. — Achei que teríamos um tempo juntos. Você sabe, quase não temos ficado juntos e eu sinto sua falta.
Ele parece chateado. E eu me sinto péssimo por estar ouvindo, mas parte de mim, está querendo ouvir até o final. Adivinha que parte eu escutei?
— Você não sente minha falta não? Poxa, Mad, tem tempos que nem fazemos mais. Claro que eu sinto vontade, você não...? Ok, eu estou saturado. Todo dia isso, seu primo, seu primo, que se foda seu primo. — E aí ele desliga.
Abro a porta da caminhonete e desço, e é quando ele me vê e ri incrédulo.
— Fala sério, estava ouvindo? Está me vigiando, seu psicopata?
Eu já ouvi falar de amor à primeira vista, mas ódio é a primeira vez. Ele já me detesta e eu nem fiz nada de mais... Ainda.
— Boa noite, Mimi.
— Era só o que faltava. É Miles Walker para você… Quer dizer, não me chame. Finge que eu não existo.
— Todo arisco, Mimizinho, que malvado. Deixa de ser um pé no saco que eu não te fiz nada, e não é de mim que você está com raiva, e sim do seu namorado.
— Você não pode falar assim comigo, seu caipira. Eu sou quase seu patrão, cadê o respeito? — Ele cruzou os braços.
Aproximo-me dele e o noto ficar nervoso. Coragem para tal ato não sei de onde tirei, mas não recuo.
— Você não me assusta fazendo esse bico, Mimi. Eu não te fiz nada e você já decidiu que não gosta de mim.
— Tem razão, eu não gosto.
— Que pena, eu gosto de você. — Sorrio.
Os olhos dele se arregalam por não esperar tais palavras.
— Um menino tão bonito, estudado e decidido se deixando levar por um namorado que deixou de passar um tempo com ele para cuidar do primo.
— Maddox é ótimo, ele gosta de cuidar das pessoas e o primo dele está com virose. Não que isso seja da sua conta.
— Entendi... Que homem deixa de dar prazer ao próprio namorado para cuidar de alguém catarrento? Uh? Se é que esse primo está mesmo com virose.
— Minha vida pessoal e sexual não é da sua conta. — E então ele tentou me empurrar, mas por reflexo o puxo junto. Consequentemente, nós dois caímos, eu no chão e ele em cima de mim.
— Vai me sujar todo, seu ogro, caipira, filho da mãe! — Ele começa a espernear.
Viro nós dois, ficando em cima dele. Enquanto ele resmunga, não posso deixar de observá-lo tão de perto, cada detalhe do seu rosto bonito. E só quando se dá conta de que eu o observo fixamente, Miles para de falar e me observa de volta. Ficamos assim, por quanto tempo não sei, mas a intensidade do momento está me fazendo realmente enxergar Miles como eu jamais imaginei enxergar outro homem.
— Sabe o que você precisa, querido? De boas maneiras, um pouco mais de simpatia e obviamente um namorado novo.
Levanto-me e estendo a mão para ajudá-lo a levantar, sendo outra vez ignorado, já que ele se levanta sozinho.
— Você, não me toque mais. Está entendendo, seu caipira sujo e abusado? Eu vou contar ao meu pai que você está me vigiando e me perseguindo.
— Novamente a síndrome de esconde-esconde, Mimi?
— Mimi é o caralho. Meu nome é Miles, Miles!
— Isso, grita mais.
— E outra coisa, não preciso de nenhum novo namorado, está insinuando o quê?
Começo andar em direção à minha caminhonete e o ignoro. Primeiro, eu preciso conversar comigo mesmo e tentar entender porque de repente estou me sentindo atraído por Miles e, pior, de pau duro.
— Estou falando com você, caipira.
— Meu nome é Logan. E eu vou dormir porque você não quer minha presença aqui. Boa noite, Mimi.
— Tem razão, vá embora, eu não quero falar com você, você é metido, enxerido, abusado e um caipira! — Ele caminha e fala sem parar atrás de mim, até que me viro.
Desviando de mim, Miles se encosta na caminhonete e eu fico em sua frente, com as mãos na lataria eu impeço que ele fuja tão depressa.
— Posso ser tudo o que você disse, mas eu garanto que sou mais simpático que você. Você é tão arrogante e malcriado com todo mundo ou eu estou tendo tratamento especial? — Nem espero ele responder e prossigo: — Eu podia te dar uns tapas, mas vai que você gosta.
— Você não seria capaz...
— Quer pagar para ver?
— Eu posso demitir você, sabia?
— Então vamos lá, Mimi. Demita-me! — Cruzei os braços.
— Você está demitido!
Descruzo os braços e seguro suas bochechas, resultando numa carranca com um bico fofo, até mesmo engraçado.
— Repete agora.
Vici ti dimitido... — ele tenta falar enquanto aperto mais as bochechinhas dele.
— Como pode ser fofo se você é tão chato? — Solto suas bochechas e continuo andando para dar a volta e entrar na minha caminhonete.
— Eu não sou fofo! E eu vou contar tudo ao meu pai, que você é um abusado!
Quando ele diz isso, paro, viro e o encaro.
— Algo mais?
— Sim. Vá embora! Vá domar algum boi lá na casa do caralho.
— Por essa lógica, posso domar você também.
— Está me chamando de boi? — Ele coloca as mãos na cinturinha fina e respira fundo.
Abro a porta da caminhonete e dou partida, abaixo o vidro do passageiro e sorrio antes de responder:
— O chifre você já tem. Boa noite, Mimizinho.
Acelero e vou para meu dormitório. Deixo ele para trás, me xingando ainda mais, completamente adorável. Quando chego em casa, tomo outro banho, já que estou sujo de terra. Mas não é apenas a sujeira que me faz tomar banho gelado à noite, é também a minha reação natural ao cheiro de Miles.
O cheiro de outro homem. O que está acontecendo comigo?
Com a água fria batendo em minhas costas, apoio minha mão na parede e começo com firmes golpes de mão para me aliviar. Tento pensar em Sophie. Nada. O orgasmo parece se recusar, meu corpo não me obedece e está tão dolorido.
Mais golpes e nada, até que imagino Miles, ajoelhado em minha frente, fazendo biquinho com as bochechas rosadas e com os olhinhos brilhando em expectativas. Ouço sua voz na minha cabeça: vem para mim, Jeon. Só então meu orgasmo vem, arrebatador, de forma tão intensa que meu gemido sai alto o suficiente para ser ouvido por terceiros, mas felizmente, apenas eu vivo aqui.
E pensar que em cinco minutos caminhando, eu poderia estar ao lado dele novamente… São apenas cinco minutos de distância do homem que está mexendo comigo.
Seco-me e visto uma cueca limpa. Deito na minha velha cama e tento refrescar minha mente. Sophie quer saber se a amo. E eu não sei se a amo mais. Meu corpo e mente estão atraídos por um cara. Eu estou atraído pelo filho do meu patrão.
Caramba!
Debato-me na cama até bem tarde e só consigo dormir quando meu corpo me vence pelo esgotamento de um dia cheio.
Acordo por volta das seis da manhã, respiro fundo e procuro meu celular. Digito uma mensagem de bom dia à Sophie, respondendo sua pergunta, sinceramente.

LARANJA JEON Onde histórias criam vida. Descubra agora