23- Uma pessoa cheia de brilho

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Embaixo do chuveiro, enquanto as lágrimas se misturavam com a água e as aflições transbordavam junto com o restante do sangue em seu corpo, o mundo parecia parar para Elídio. Ao menos um pouquinho.

É o tipo de coisa que você não quer acreditar que aconteceu. Você vive o choque da notícia absurda e, então, depois que esse momento passa, você parece querer entrar em negação.

Ele queria acreditar que nada daquilo aconteceu, que tudo estava bem e quando saísse do banheiro, encontraria Anderson preparando um pouco de café preto para acompanhar a noite de filmes que fariam, enrolados juntinhos em uma só coberta enquanto trocavam diversos beijos e carícias e, se olhassem um para o outro, iriam sorrir como bobos apaixonados.

Mas o sangue no ralo provava o contrário.

Era tão injusto. Anderson sempre foi uma pessoa tão incrível, nunca fez mal a ninguém, e por culpa de um homem desequilibrado e obsessivo agora estava pendendo entre a linha da vida e da morte. Já tinham sofrido tanto, e mais uma vez um problema enorme entrava em seus caminhos.

Elídio saiu do banheiro depois de um longo tempo tentando acalmar a mente e o coração, prendendo os cabelos de qualquer forma e vestindo as primeiras roupas de frio que encontrou. Não tinha cabeça pra se preocupar com a aparência no momento. Separou um dos moletons da loja Barbixas para emprestar à Bella antes que fossem ao hospital.

Encontrou a mulher em sua cozinha, com uma xícara em mãos.

— Tomei a liberdade de preparar um chá — explicou, servindo uma xícara também para Elídio — Pra nos acalmarmos um pouco. Daniel me mandou a localização do hospital em que ele foi levado. A Karina está lá com ele agora.

— Dani disse se ele está bem? Se… se ele vai sobreviver? — perguntou, hesitante, bebendo um longo gole do chá como se pudesse engolir também aquelas palavras desagradáveis. Não é uma pergunta fácil de se fazer.

— Foi pra sala de cirurgia, porque parece que uma veia foi atingida… por isso ele perdeu tanto sangue.

Os dedos de Elídio apertaram a porcelana da xícara com força, a tensão voltando. Bebeu seu chá com rapidez, largando a xícara na pia.

Bella fez o mesmo, sabendo que já estavam indo ao hospital. Elídio não aguentaria ficar muito tempo longe.

— Serve pra você? — perguntou Lico, estendendo o agasalho para a mulher.

— É suficiente.

O caminho até o hospital foi silencioso e desconfortável. Chegando lá, buscaram descobrir onde estava Anderson com uma das funcionárias, e ao descobrir isso, a dupla andou apressada até o quarto indicado.

Encontraram Daniel e Karina sentados próximos à entrada do quarto. Ka se levantou imediatamente, indo abraçar Elídio e Bella, tentando oferecer palavras de conforto enquanto ela mesma tinha lágrimas nos olhos.

Karina sempre foi uma amiga extremamente próxima de Andy, já que se conheciam desde os três anos de idade e foi graças a ele que conheceu o marido, então também estava extremamente afetada com a situação. Anderson era praticamente um irmão para ela.

— Como você tá, Lico? — ela perguntou baixo, abraçando o amigo com força.

— Ainda sem acreditar, Ka… — foi tudo que conseguiu responder, retribuindo o abraço.

Daniel também foi na direção dos recém chegados. Seus olhos vermelhos e a feição cansada eram apenas mais um lembrete da situação dolorosa que enfrentavam.

— Sabem como ele está? —  Lico perguntou imediatamente.

— A faca perfurou uma veia, por isso os médicos levaram Andy pra sala de cirurgia, mas já repararam a veia que foi danificada — Nascimento explicou, e teve de secar uma lágrima que brotou no canto do olho graças a isso — Ele quase morreu, Lico. Se tivesse sido atendido um pouco mais tarde a perda de sangue teria sido fatal.

- Unwanted love <3 (barbixas • anidio)Onde histórias criam vida. Descubra agora