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Sebastian

— Mande meus parabéns ao casal, filho. Eles sabem que só não vou junto porque estou
nessas condições.
— Pode deixar, pai. — Ajeitei o colarinho do terno que escolhera para usar na noite.
Eu não fazia ideia de quem era o casal que ia dar uma festa de casamento, só estava indo
porque meu pai pediu para marcar presença em seu lugar. O noivo por muitos anos fez parte do
seu quadro de funcionários e, como eu não tinha muito o que fazer ali na fazenda, concordei em
ir acompanhado de Augusto.
Por pensar nele, lembrei que meu melhor amigo ainda estava de casinho com a garota que
morava ao lado da casa de Carolina e, pelo que eu soube, elas eram parentes. Augusto
conversava pelos cotovelos e o advogado não perdia tempo em me contar que estava
terrivelmente de quatro pela sua paquera.
Isso cheirava a problema.
Augusto tinha conhecimento de que nossa passagem ali pela fazenda tinha prazo de
validade para chegar ao fim. Eu vim com um objetivo e ele, outro, o que não implicava um
envolvimento amoroso. Tal regra valia para os dois, que tinham uma vida estabilizada bem longe
dali. E foi com esse pensamento que decidi me afastar completamente de Carolina, era isso ou
colocar tudo a perder.
Não podia cair em tentação.
Nosso último encontro, na cachoeira, foi a gota d'água.
Eu não consegui ficar mais de dois minutos perto dela sem controlar a língua e as
piadinhas, assim como ela fizera o mesmo. Estava mais do que claro que nunca iríamos nos entender, nem mesmo éramos capazes de ter uma conversa decente, como dois adultos, visto que
parecíamos mais duas crianças ainda na escola. O melhor a fazer era manter o máximo de
distância possível de Carolina.
Tentaria fugir dela sempre que a encontrasse.
Só não sabia por onde começar.
— Aproveite para distrair a cabeça, filho. E quem sabe, em breve, teremos novidades…
— O que quer dizer com isso? — Virei-me de frente para encarar meu pai.
Marcos Ward estava sentado em uma cadeira de balanço, bebericando um chimarrão, uma
de suas bebidas favoritas desde que tenho idade para entender as coisas. Ele se encontrava
estável, ainda que estivesse limitado a algumas atividades. Vez ou outra, saía do quarto para dar
uma voltinha pela plantação de café, apenas para espairecer a cabeça, e logo voltava para o seu
casulo.
O velho barão não era mais o de antes e saber disso me preocupava.
Se a fazenda estava cheia de irregularidades por causa do meu pai, algo me dizia que eu
precisaria voltar mais vezes para tomar conta do meu império de perto, era isso ou deixar nas
mãos de alguém que não tinha mais capacidade de fazer nada.
Isso não!
Havia a parte dos negócios, esta que tirava meu sono, e a possibilidade de cair em
decadência, sem uma mão firme para tomar o posto, evitar isso dependia exclusivamente de
mim. Augusto continuava investigando o motivo por trás das saídas de dinheiro que não foram
justificadas pelo meu pai, nem pelo setor administrativo e contábil, mas ainda não tinha
conseguido nada. E era isso que me preocupava mais ainda, pois algo estava muito errado, uma
peça fora do lugar.
Eu iria descobrir.
Nem que para isso tivesse que mentir para meu pai.
Marcos Ward queria as terras da família Santos, e eu iria mentir, dizer que estava
negociando a fim de ter mais tempo para descobrir para onde nosso dinheiro foi.
Este era o meu plano.
Enganar para não ser enganado.
— Você é muito jovem, filho, e precisa encontrar uma namoradinha…
— Acho que não tenho mais idade para namorar — minimizei, irônico. — Estou me
divorciando depois de passar anos preso em um casamento fracassado, e tudo que não quero
daqui para a frente é colocar um cadeado no meu pau, pai.
— Não precisa colocar um cadeado, apenas deixe-o aberto para entrar onde encontrar lugar livre para se acomodar; depois siga como se nada tivesse acontecido. — Lançou-me um sorriso
de lado. — Aqui pelas redondezas só o que tem são garotas solteiras, e muito bonitas, por sinal.
— E espera que hoje eu encontre um rabo de saia onde me enfiar?
— É isso que homens solteiros fazem, filho.
— Não completamente. — Soltei um suspiro. — Ainda preciso voltar aos Estados Unidos
para formalizar meu divórcio com Luciana.
— Suponho que irão optar pela guarda compartilhada da criança.
— Algo assim, pai, mas ainda é muito cedo para falar sobre isso. Se me der licença, estou
indo esperar Augusto para irmos na tal festa de casamento.
— Não esqueça de mandar meus cumprimentos aos noivos.
— Pode deixar.
Acenei com a cabeça, deixando meu pai terminar de degustar seu mate, e saí em passos
rápidos para fora da sala, indo direto para a varanda esperar Augusto.
Assim que me vi sozinho, pude respirar o ar fresco da noite. Eu já deveria ter pegado a
estrada com meu amigo, mas tive a péssima ideia de ficar um pouco conversando com meu pai,
enquanto Augusto terminava de se arrumar.
Peguei meu celular no bolso da calça e fui averiguar algumas mensagens no aplicativo. Vi
de cara que, na conversa principal, havia fotos do meu filho enviadas pela mulher que tomava
conta dele em tempo integral, foi impossível não sorrir.
— Bora, ou não bora?
Levo um susto ao ouvir a voz de Augusto, chegando de supetão, sem avisar.
— Babaca! Quer me matar do coração?
Observei-o parar do meu lado.
— Eu? É claro que não! Temos uma festa para curtir, chefe.
Dei uma última olhada no celular antes de guardar de volta no bolso.
— Então vamos logo! — Antes de dar um passo para fora da varanda, lembrei-me de algo. — Aquela sua namoradinha vai estar lá?
— Vai, sim. E espero conseguir dela alguns beijinhos…
Franzi o cenho.
— Um homem como você, de trinta e cinco anos, ainda está preso na fase de beijos?
— É lógico que sim. Tamiris quer se casar virgem, acredita nisso?Acabei dando uma gargalhada.
— E você, meu amigo, não pretende se casar tão cedo, estou certo?
— É por isso que irei me conformar com apenas beijos e nada mais. — Augusto suspirou
fundo. — Quem, em pleno século vinte e um, quer uma coisa dessas?
— Garotas como ela, que viveram uma vida toda no meio do mato. Então, respeite-a. —
Coloquei as mãos nos bolsos da calça. — É o melhor a fazer.
Se a tal Tamiris estaria lá, era provável que Carolina também.
Elas não se desgrudavam, pelo pouco que pude observar da garota petulante.
— E o senhor vai fazer o mesmo, chefe?
— Como assim?
— Vai conseguir ficar só nos beijos com a Carolina?
— De onde tirou isso? Eu e aquela garota? — Dei uma risada alta. — Isso nunca!
— Nunca diga dessa água não beberei…
— Não me faça dar meia-volta e desistir da ideia de ir a essa festa de casamento, assim
nem eu irei me divertir, nem você dará beijinhos na sua garota.
— Ok. — Augusto levantou as mãos em rendição. — Não está mais aqui quem falou.
— Então vamos — falei, por fim.
Dito e feito.
Assim que pisei na casa em que acontecia a festa de casamento, a primeira pessoa que
avistei de longe foi Carolina acompanhada da melhor amiga. Quase não a reconheci, ela usava
um vestido florido, cabelos feitos em ondinhas e um rastro de maquiagem no rosto que destacava
sua beleza feminina, descomunal e única.
— Cuidado para não babar demais…
— Vai se foder, Augusto — murmurei baixo, engolindo em seco. — Vá buscar um pouco
de álcool, pelo visto vou precisar de muitas doses para aguentar esta festa.
— Não é uma daquelas festas a que vamos, mas dá para quebrar o galho, não?— Só vai buscar a bebida, porra — falei, irritado.
Pior que não consegui tirar o olho da garota petulante, observando todos os seus
movimentos, como se não houvesse mais ninguém ali no salão, apenas ela, só ela.
Porra!
Paguei com a língua.
Prometi que iria fugir caso a encontrasse, mas falhei miseravelmente.
Eu queria continuar ali, parado, apenas admirando-a em silêncio. Foi assim que nossos
olhares se encontraram pela primeira vez, e aproveitei para piscar um olho. Vi o exato momento
em que ela ficou estática, quase sem acreditar no que fizera.
Ponto para mim.
Que comecem nossos joguinhos.

Dêem ⭐

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