23

52 9 2
                                    

Carolina

— Não era você que ia terminar o namorico com o Augusto?
— Bom, isso foi antes de perceber que quero continuar, só um pouquinho… — Tamiris
sussurrou baixinho. — Sabia que tem como se divertir sem avançar o sinal?
Arregalei os olhos com sua resposta, dei uma olhada ao redor da praça, verificando se
ninguém passava por perto. A missa tradicional do domingo ainda não tinha terminado, então
havia poucas pessoas por ali, visto que muitas estavam dentro ouvindo o sermão do padre. Eu só
ia mesmo para vender, gostava de ficar fora e assim me sentia confortável.
— Não me diga que andou fazendo esse tipo de coisas, Tami…
— Um bocadinho…
— Vem, vamos conversar mais para cá. — Segurei a cesta com os doces em uma mão e saí
puxando-a para o lado mais afastado da praça.
Viemos um pouco mais cedo dessa vez, não eram nem sete horas da noite quando pisamos
os pés no centro da cidade, onde ficava a igreja e o local onde nós vendíamos os docinhos.
Tamiris não conseguiu a caminhonete emprestada dessa vez, dado que seu irmão precisou usá-la
em uma viagem, restando-nos ir de bicicleta.
Não podia pensar em carro, que automaticamente lembrava do meu pai.
Desde a discussão que tivemos, o clima azedou total de vez e só nos falávamos por
educação ou quando eu precisava medir sua glicemia, coisas que realmente me obrigavam a ter
contato direto com seu Antônio. Eu ainda estava muito chateada com a ideia que ele tivera de
querer vender um pedaço dos hectares aos fundos da nossa casa, algo que não tinha a minha
aprovação, de forma alguma.Só o tempo para resolver esse impasse.
Nunca havia tido problemas com meu velho, nem mesmo quando era adolescente, rebelde
e que queria fazer as coisas do meu jeito. A relação que tinha com meu pai era extremamente
saudável, respeitosa, e sempre fora assim, antes mesmo de minha mãe morrer. O problema em si
começou no momento em que ele colocou na cabeça que queria vender aquilo que foi nos dado
com amor.
Isso não!
Dona Esther, mãe de Sebastian, sempre fora muito amiga da minha família, porque meu
pai trabalhava nas plantações de café desde que começou a produção na fazenda, o que fez este
laço de amizade ficar ainda mais fortificado. E o lugar que era somente emprestado por ela
acabou se tornando nosso. Nosso!
Um ato de amor e humildade.
A mãe de Sebastian foi muito generosa em abrir mão de um pequeno pedaço do seu
império para dar a minha família, e este sem dúvidas era um dos motivos pelos quais eu tanto a
admirava, mesmo depois de ela ter encontrado o descanso eterno.
Pensar na falecida me fez lembrar das palavras do barão do café, que compartilhou sua
experiência. Levando em conta o que me contou, ele não teve uma boa relação com a mãe, o que
me surpreendeu. Pelo pouco que eu me lembrava dela, jurava que era uma mulher carinhosa e
humilde. Era como se algo não se encaixasse, uma vez que no mínimo deveria ter sido a melhor
mãe do mundo, mas Sebastian, pelo visto, não concordava com isso.
Alguma peça dessa história do barão e a mãe não se encaixava, e eu esperava um dia
descobrir por quê.
Pensar nele me fez lembrar de que nunca mais o encontrei por aí. A última vez que o vi foi
quando fomos jantar, o que acabou com uma leve discussão no carro. Desde então, tive um
fôlego por não o ver mais.
Foi até melhor assim…
Ainda que não conseguisse tirar o sabor do seu beijo, o calor que despertou em mim e a
vontade absurda que senti de perder o controle, como nunca fizera antes.
— Então, Tami… Que história é essa?
Parei perto de uma árvore, ficando ao lado da minha prima, que ainda estava ficando com o
amigo de Sebastian.
— Ué. — Deu de ombros. — Augusto me mostrou algumas formas de sentir prazer sem
fazer sexo…
— Virgem santíssima!
— É sério, Carolina… Ele… Ele…— Fez o quê?
— Me ensinou um lado desconhecido. E, por sinal, amei demais, prima. Augusto me
chupou, você acredita?
Prendi o lábio no dente, evitando rir da forma engraçada como ela falara.
— Lambeu, sugou, usou dedos… Minha nossa! Como algo proibido pode ser tão gostoso?
— Pelo visto, aquele papo de casar virgem vai cair por terra — lembrei-a.
— Nada disso! Vou ser fiel a esse conceito de me manter pura até o altar, até porque foi só
oral, sem penetração capaz de romper minha barreira — disse certeira.
Eu a conhecia o suficiente para saber que ela tinha o juízo fora do lugar, então era bem
provável que cometesse uma loucura nesse percurso de beijos vai e vem. Tamiris sempre foi
muito pé no chão e nunca teve um namoradinho capaz de fazer essas coisas igual ao Augusto.
Ele meio que era diferente.
Talvez por isso ela não conseguiu colocar um ponto-final no que tinham.
— Admiro seu autocontrole. No seu lugar, acredito que já teria dado carta-branca. — Dei
de ombros.
— Então aproveita enquanto o barão está na cidade…
— Por que toda vez que falamos sobre essas coisas você insiste que vou ficar com ele e
tudo mais? — Isso porque ela ainda nem sabia do jantar a que fui com o barão do café. —
Então?
— Vocês têm química, muita, por sinal. Acredito que é questão de tempo até que essa
raiva que juram sentir um pelo outro exploda de outra forma.
— Entendi. Então… vamos vender. Chega desses assuntos de homem para cá ou para lá. — Sorri de lado.
— Você que manda, Carolina.
Olhei dentro dos olhos da Tamiris e me senti péssima, como se a estivesse traindo pelas
costas, já que não tive coragem de contar nada sobre o jantar com Sebastian.
Eu precisava criar coragem e falar…
Até o final da noite faria isso.A única coisa que passava pela minha cabeça era que, assim que encontrasse minha prima,
iria matá-la a sangue-frio. Tamiris saiu para vender os doces e não a encontrei mais, nem sinal de
vida para piorar a situação. Ela saiu para um lado e eu, para outro, algo que fazíamos sempre
para vender, mas, quando deu o horário, fiquei plantada esperando, e nada!
Nada!
Tamiris sumiu!
Nem sequer tive coragem de ir para casa, afinal os pais da garota iriam procurar pelo
paradeiro da filha assim que me vissem chegar sozinha. Tentei mandar mensagem para ela, que
não foi respondida, e a ligação, recusada.
Droga!
Onde você está, menina?
Olhei no celular e vi que já passava das nove da noite, tudo silencioso, a igreja já havia
sido fechada, e na praça, quase ninguém. Eu já estava morrendo de medo de estar ali.
Tentei ligar mais uma vez…
Chamou até cair na caixa-postal.
Mal percebi quando um carro parou do outro lado da rua e buzinou.
Quem era?
Desviei o olhar para o automóvel, atenta a cada movimento dele.
— Carolina. — Os vidros se abriram, revelando o rosto de Sebastian. — Está perdida de
novo?
— Quase isso — resolvi responder, sem rodeios, estava cansada para começar a trocar
farpas com ele. — Sabe me dizer se Tamiris está com seu amigo Augusto?
— Podemos descobrir. Entra aqui no carro…
— Estou de bicicleta.
— Isso não é um problema — disse abrindo a porta do carro e saindo. — Vou colocá-la
aqui na parte de trás da Hilux, tudo bem para você?
— Tranquilo. Vou aceitar porque também estou cansada e preocupada com a minha prima.— Suspirei.
— O que aconteceu? — perguntou, preocupado, enquanto pegava a cesta com os doces
para guardar no carro, repetindo o processo com a bicicleta.
— Saiu para vender e sumiu. Pior é que não deu nem sinal de vida depois disso…
— Acho que ela está com Augusto. Ele saiu cedo de casa, dizendo que vinha para a cidade
encontrá-la. Mas, com uma única ligação, tiro a limpo essa história. — Guardou tudo e, assim
que acabou, parou em minha frente. — Boa noite, Carolina.
— Boa noite, Sebastian. — Sorri de lado.
— Podemos ir então?
— Sim, sim — respondi no automático.
Era bem provável que acabasse dormindo no caminho de tão cansada que estava da rotina
de trabalho.
— Augusto respondeu.
Eu disse.
Dormi assim que entrei no carro, acordando somente porque ouvi a voz potente e grossa de
Sebastian Ward.
— Foi… O que ele disse? — Eu me ajeitei de imediato no banco do carro, visto que estava
toda de mau jeito.
— Estão juntos e já está levando sua prima para casa, não precisa mais se preocupar.
— Que bom então, ainda que eu queira matar Tamiris por fazer isso. Sair sem dar
satisfações ao colega de trabalho não é uma atitude nada sensata — resmunguei.
— Isso é coisa de quem está muito apaixonado, quem pode julgá-la?
— Entendi… Onde estamos?
— Parei em uma lanchonete na estrada, suponho que esteja de barriga vazia e queira comer
alguma coisa — respondeu, sorrindo. — Um lanche fará muito bem, não acha?
— Ahn… Pode ser.

— Estou começando a ficar preocupado. Ainda não me chamou de velho, nem me mandou
tomar… — Não terminou de falar para rir. — Você sabe o resto. Que bicho te mordeu?
— Cansaço. É só isso. — Pisquei um olho. — Mas já me sinto bem e pronta para dizer que
você é um pé no saco. E, vem cá, o que estava fazendo na cidade a essa hora?
— Vim comprar os remédios do meu pai que estavam faltando… Aproveitei o caminho
para ver você na praça. Que sorte a minha ter te encontrado.
— Então… Vai pagar o lanche ou não?
— É claro que vou, não sou mão de vaca, Carolina.
— Acha que não tenho dinheiro para pagar uma merenda para mim?
— Eu não disse isso — ele se justificou.
— Foi o que pareceu. E, só para constar, eu tenho dinheiro, sim.
— Que bom, isso é bom.
— Mas você paga o seu. Não pega legal, para mim, pagar coisas para alguém que é
ultramegabilionário.
— Que coisa feia, Carolina… E se eu disser que não trouxe a carteira?
— Problema seu, barão. Se vire!
Recebi como resposta sua gargalhada rouca.
Droga!
Por que ele tinha que ser tão bonito?

Dêem ⭐

Só postei hoje, pq é meu aniversário então estou feliz por muitas motivos

Os trigêmeos perdidos Onde histórias criam vida. Descubra agora