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Sebastian

— Então… está indo viajar mesmo, filho?
— Serão só duas semanas, pai. — Fechei a mala que levaria para a capital.
— Suponho que vá deixar aquele mauricinho aqui na fazenda? — disse com desdém,
entrando no meu quarto em passos lentos.
— Augusto, este é o nome dele, pai. E sim, respondendo a sua pergunta: ele vai ficar aqui,
cuidando das coisas enquanto eu estiver ausente — deixei claro.
— E acha que eu não tenho capacidade de fazer isso? — falou autoritário. — Sei que,
depois do infarto, fiquei debilitado, mas estou com a saúde da cabeça perfeita, posso muito bem
resolver as coisas na sua ausência, Sebastian.
— Este é o problema, pai. Você não sabe resolver mais nada. — Virei-me de frente para
encará-lo com a expressão fechada, incomodado com sua presença.
— Como não? Sou o dono de tudo isto aqui, filho. O lugar onde está hospedado, o império
de café e todas as filiais espalhadas pelo mundo — murmurou, orgulhoso.
— Devo lembrá-lo de que o dono sou eu? Ah, é, minha mãe era a dona disto tudo. —
Gesticulei com os dedos. — E, como filho, sou o herdeiro do império do café, pai.
— Está se revoltando contra seu próprio pai? Foi para isso que veio de tão longe?
— Não. Eu vim visitá-lo e de quebra resolver pendências deixadas pelo senhor, que foram
muitas, pelo visto. — Semicerrei os olhos, contendo-me para não falar demais, dado que não
podia deixar escapar que já sabia dos desvios de dinheiro dele.
Meu pai não podia saber que descobri seu segredo.Augusto estava empenhado em descobrir se a garota da foto que encontrou nas coisas do
meu pai tinha alguma coisa a ver com o dinheiro tirado por Marcos Ward, ele precisava
averiguar se a transferência tinha sido feita para a conta da mulher, o que não seria uma tarefa
muito fácil. Foi desviada pelo meu pai sem ligação com a conta jurídica do império do café,
então somente o banco tinha acesso a isso, a menos que conseguíssemos roubar o celular do
velho para puxar os extratos gerais.
O primeiro passo era conseguir essa informação.
Como ou quando, somente meu amigo e advogado poderia responder.
Em caso de não obter nenhum retorno, o negócio era partir para o jogo sujo…
Eu não tinha acesso às contas pessoais do meu pai, exceto pelo que foi retirado do caixa
principal e enviado para sua conta pessoal sem explicação alguma ou nota fiscal; aliás, isso foi o
que abriu um alerta na minha cabeça para descobrir o porquê de ele ter feito isso. É claro que o
valor era irrelevante, nós tínhamos muito dinheiro, mas, ainda assim, era de suma importância
descobrir a raiz dessas movimentações suspeitas.
Algo estava errado…
Muito errado!
Se meu pai estivesse tentando cobrir rastros de seus malfeitos, eu iria descobrir.
— E o que te pedi, Sebastian? Os dias estão passando e sua presença aqui tem sido cada
vez mais inútil — desviou-se do assunto, tentando sair ileso.
Como se eu já não o conhecesse o bastante…
— Se está falando sobre conseguir as terras, saiba que tenho tudo sob controle.
— Não me diga que já conseguiu executar o que te pedi.
— Tenho tudo sob controle, papai. O senhor não precisa se preocupar com nada.
O velho barão realmente não precisava. Tudo estava saindo dentro do combinado.
Não o que selei com ele, é claro.
Dias atrás fui surpreendido com a presença do pai de Carolina, determinado a vender as
terras e, com o dinheiro, oferecer à filha uma vida segura, livre de miséria. Confesso que fiquei
surpreso com sua atitude, provando mais uma vez a mim que, por amor, somos capazes de
muitas coisas.
Ele amava a filha. E eu não tinha a menor dúvida disso. Foi aí que pedi para que me
procurasse outro dia para negociarmos a venda das terras, e assim veio.
Ninguém além de Augusto sabia sobre essa negociação.
Eu ofereci ao pai de Carolina uma contraproposta. Os hectares seriam vendidos, e ele
receberia por isso, centavo por centavo, mas tudo seria passado oficialmente para a minha gata felina, com a condição de que essa negociação ficasse em segredo.
Ele aceitou.
E assinou o acordo.
As terras foram compradas por mim e passadas para Carolina. Eu sempre soube que essa
escolha era a melhor coisa a ser feita, não podia compactuar com o plano sórdido do meu pai de
tirar algo daquela família humilde e que não tinha nada a ver com seus problemas. Por sorte, tive
conhecimento de tudo, antes mesmo de tomar atitudes erradas com quem não fazia parte de um
quebra-cabeça.
Isto não!
Augusto apoiou minha decisão, junto de seu Antônio, que pela sua filha estava disposto a
concordar com tudo, até mesmo a trair a confiança de Carolina, visto que ela não tivera
conhecimento de que seu pai venderia as terras justo a mim.
Ela não sabia de nada.
E era até melhor que não soubesse.
Carolina me odiaria, assim como iria odiar o pai pelo que fizera, caso descobrisse o acordo
que fizemos pelas suas costas. Eu não o julgava, seu Antônio queria dar a ela uma vida melhor,
mesmo que no pacote tivesse de abrir mão de muitas coisas. No seu lugar, e em outras condições,
eu também seria capaz de fazer isso por Enzo.
Sem sombra de dúvidas.
— Espero que não tenha que me preocupar com nada mesmo, ou irei pessoalmente fazer
negócios com aquela família a qual desprezo — falou com asco, nojo. — Quero aquelas terras e
elas serão minhas!
Engoli em seco.
— Não vou repetir outra vez, pai. E, se me der licença, preciso terminar de me arrumar.
— Posso saber se vai levar alguém nessa viagem?
— Com quem ando ou deixo de andar, deixou de ser da sua conta há muito tempo.
— Estou torcendo para que não esteja aprontando alguma coisa, Sebastian, ou terei que
agir…
— Isso é uma espécie de ameaça, Marcos Ward?
— Entenda como quiser! Faça uma boa viagem.
Não respondi, esperei que ele saísse do meu quarto e assim fui fechar a porta.
Caralho!Não podia chegar aos ouvidos do meu pai que eu estava tendo um envolvimento amoroso
com Carolina, ou colocaria tudo a perder, em dose dupla. Compraria uma briga com ele e
perderia minha gata felina. Sorte que eu estava tendo todo o cuidado possível, ficando com ela às
escondidas, e era melhor que tudo continuasse dessa forma, até que eu conseguisse as cartas
necessárias para encurralar o velho barão.
Era questão de tempo…
Eu teria duas longas semanas longe dali.
Duas semanas vivendo uma mentira com a minha mulher.
— Pensei que não viria… — Abri um sorriso largo assim que avistei Carolina se
aproximando com uma mala pequena, logo fui ao seu encontro. — Oi, baby.
— Eu até pensei em não vir, mas depois mudei de ideia. Por que não ir? — Deu de
ombros. — É a primeira vez que vou para longe de Soledade Santa. — Sorriu
— A minha missão é fazer da sua primeira vez a melhor de todas. — Peguei sua mala para
guardar no porta-malas. — Tudo bem com seu pai?
— Sim. Eu menti que ia visitar uma tal amiga que conheci na praça…
— E como ele acreditou facilmente nessa história? — Terminei de guardar suas coisas, e
fui logo puxando-a pela cintura, para encher seus lábios de beijos.
Carolina me fez esperar a quilômetros e quilômetros de distância da sua casa, assim como
quando a trazia tarde da noite, já que por ali não havia chance de alguém nos ver.
— Calma, homem… Me deixa falar! — pediu, enquanto eu não parava de beijá-la.
— Estou com saudades, amor. Faz exatamente quarenta e oito horas que não a vejo. Já me
sinto a porra de um dependente de você, gatinha. — Deixei um último beijo em sua testa. —
Agora pode finalmente me contar essa história direito?
— Meu pai sabe que fiz uma amizade nova… Então meio que só precisei unir uma coisa à
outra. — Envolveu os braços em volta do meu pescoço. — E outra, ele confia em mim acima de
todas as coisas. temos uma boa relação de pai e filha, por isso não me prende dentro de casa nem
me impede de ir em uma viagem.
— Que bom saber disso, gatinha. Quer dizer que a terei por duas semanas?
— Duas semaninhas, barão. — Sorrio. — Confesso que estou nervosa, ansiosa…— Não precisa se sentir assim, apesar de que é sua primeira viagem, só precisa saber que
estarei ao seu lado na maioria do tempo. Estou indo resolver algumas coisas da fazenda, mas
cuidarei muito bem de você. Eu juro.
— Jura mesmo? — Piscou os dois olhos, toda meiga.
— É uma promessa, amor. E sou muito bom em cumprir promessas.
— Você não me disse se íamos de ônibus ou carro…
— Vamos de carro até a pista onde há um jatinho à nossa espera.
— Ai, Deus do céu! — Arregalou os olhos. — Tem certeza disso?
— Sim, não me diga que minha gatinha felina tem medo de voar?
— É a minha primeira vez, esqueceu?
— E eu prometi que iria cuidar de você, então saiba que nada de mau vai acontecer
enquanto estiver sob a minha proteção. — Deixei um beijo em sua testa. — Podemos dar fim a
nossa trégua enquanto estivermos sobrevoando.
— Que tentação! Não sabe o quanto estou me segurando para não brigar com você…
— Ou podemos nos divertir um pouco — falei malicioso. — Tudo para deixá-la relaxada e
para que não se preocupe com nada que acontece ao seu redor.
— É uma excelente opção, barão, mas não vou abrir as pernas para você quando o piloto
ou quem mais estiver por lá podem nos pegar no flagra.
— Então, quando chegarmos ao hotel. vai abrir as pernas para mim, amor?
— Não sei… Tem que se esforçar muito. — Cutucou minha barriga com o dedo.
— Vamos, gatinha. — Abracei-a apertado. — Obrigado por aceitar vir comigo…
— É um prazer atender ao seu pedido, barão — brincou, rindo.
Gargalhei.
A vida era doce com Carolina ao meu lado.

Dêem ⭐

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