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— Você viu quem não tirou o olho de você desde que pisou os pés na festa?
Revirei os olhos, cruzando os braços.
— Você não tem mais nada para fazer, não, Tamiris? Tipo procurar seu paquera?
— Eita, que mulher brava! — Balançou a cabeça para os lados, rindo como se fosse a coisa
mais suportável do mundo ter que respirar o mesmo ar que Sebastian Ward.
— Não… Só podemos não falar dele? Eu meio que já estou incomodada por estar vestida
nisto. — Gesticulei com os dedos me referindo ao vestido. — E agora mais ainda por saber que
estou no mesmo ambiente que o barão. Por sorte não existe nenhuma cachoeira por perto, ou eu
seria capaz de jogá-lo dentro para pagar o que fez da última vez que nos vimos.
— Esse ódio todo de vocês não tem fundamento, sabe? É uma briguinha para lá e para cá,
sem sentido algum. — Tamiris estalou a língua. — Aposto que isso é só uma tensão que pode ser
resolvida com uns beijinhos.
— Olha, se não parar com isso eu vou embora agora mesmo! — Bati o pé no chão, por
sorte ninguém prestava a atenção por causa da música alta.
— Tudo bem, tudo bem… Me desculpa. — Deu de ombros. — Quer beber alguma coisa
para relaxar?
— Quero algo que me faça esquecer que estou nessa droga de lugar. — Cruzei os braços,
irritada. — Que Tininha não me escute falando isso… Até minutos atrás, a festa parecia
superagradável, mas agora…
— É só fingir que ele não está aqui. Simples, não? — sugeriu.— Aham. Daqui a pouco você corre para os braços de Augusto e me deixa sozinha. —
Suspirei fundo.
— Posso abrir uma exceção e ficar só com você, que tal? Acho que ele nem vai sentir falta
mesmo…
Franzi o cenho, confusa.
— Aconteceu alguma coisa que não estou sabendo?
— Nada de mais. Não precisa se preocupar.
Algo estava errado…
— Pode ir contando logo, mocinha!
— Você não desiste, não é mesmo? É que mamãe falou umas coisas ontem e faz total
sentido. Augusto não vai querer ficar só me dando beijinhos, em algum momento ele vai querer
algo que não posso dar, entende?
— E qual o problema disso?
Por sorte, estávamos no canto da parede e podíamos conversar à vontade, sem que
ninguém atrapalhasse ou escutasse.
— Que é o momento de dar tchau ao bonitão. Eu só tenho dezoito anos, ele tem quase o
dobro da minha idade, nós não temos futuro algum. É óbvio que mais cedo ou mais tarde
Augusto irá embora com o barão, então preciso evitar ter que lidar com um coração partido.
— Você acha que isso que está rolando entre vocês não tem futuro algum?
— Não é não — foi sincera. — E é por isso que vou terminar com ele.
Soltei uma lufada de ar.
— Tem certeza disso?
— Tenho, sim…
— Acho que precisamos beber um pouco. Essa conversa me deixou estranha, sei lá… —
Pisquei os olhos. — Você fica aqui enquanto vou procurar uma bebidinha?
— Fico, sim, não vou fugir.
Sorri e dei um beijo em sua bochecha, antes de deixá-la sozinha ali, em seu mundo
particular e perdida em uma decisão que poderia mudar tudo.
Tamiris era muito jovem, tinha sonhos e uma vontade imensurável de casar, inclusive
virgem, aquela coisa toda do tempo da sua bisavó, visto que isso não acontecia mais nos tempos
atuais. Minha prima era meu completo lado oposto. Eu não queria casar antes dos trinta, nem ter
um namorado por agora, e perder a virgindade era questão de tempo até encontrar um homem
que fosse capaz de ativar essa vontade em mim.Sebastian.
Merda!
Por que pensei justo no Diabo?
Talvez porque, desde o minuto em que piscou o olho para chamar minha atenção, não
consegui parar de pensar nele e no quanto estava lindo. Sebastian sempre andava bem-arrumado,
deixando todo mundo que o visse de boca aberta, inclusive eu. É claro que, antes de sair de casa,
imaginei que fosse encontrá-lo na festa, porque não havia ninguém na cidade que não beijasse os
pés o barão, e mesmo sabendo dessa possibilidade me arrisquei vindo.
Droga!
Eu estava em um beco sem saída.
Correr ou encarar?
Escolhi ficar e lidar com o fato de que estávamos mais uma vez perto um do outro. Pelo
menos agora nos víamos rodeados por várias pessoas, o que nos fazia ter uma trégua para não
protagonizar uma discussão no meio de todos.
Cumprimentei o pessoal conhecido por onde passei, por educação, e segui direto para os
fundos da casa, onde estava tendo o churrasco e havia os freezers com bebidas.
Só que, antes mesmo de chegar ao meu alvo, senti uma mão forte tocar no meu ombro, um
roçar suave.
— Quase não a reconheci…
Virei-me em um rompante.
— Digo o mesmo. Você, dentro desses ternos, consegue esconder o brutamontes que vive
aí dentro. — Gesticulei com os dedos, desdenhando.
— Não perde tempo mesmo… — Passou a língua nos lábios. — Você está muito linda,
Carolina.
— Obrigada. — Forcei um sorriso tentando disfarçar que seu elogio atingira em cheio meu
coração.
Boba!
— Mas, como falei antes, quase não a reconheci, vestida igual a uma mulher de verdade,
não a uma gata felina dentro daqueles pedaços de trapos.
— Velho maldito! — Mordi a ponta do lábio com força, a mão coçando para não rodopiar
em seu rosto bonito.
— É uma gracinha vê-la assim com esses olhinhos pegando fogo, sabe? E, bom, retiro o
que disse… Estou brincando com você, garota.— Não parece verdade. Por que sempre tem que dizer essas coisas?
— Que você é uma gata felina? Que parece uma pobretona? — falou, aproximando-se de
mim, devagar. — Ou que te acho arisca e que, toda vez que fala, parece soltar fogo pelo nariz?
— Falar isso só piora as coisas… — Dei um passo para trás. — Fique longe de mim,
Sebastian! Eu te odeio.
— Não pode me pedir uma coisa dessas, garota.
— É uma ordem, barão. E só não vou retribuir ao nível tantas ofensas porque tenho
respeito pelo lugar em que estamos. Eu vim aqui para me divertir e é isso que vou fazer. — Dei
um passo em sua direção, mirei o meu pé no seu, dando uma pisada forte com a ponta do salto. — Boa noite, barão.
— Desgraçada! Porra!
Dei uma gargalhada, vendo-o se acabar com a pisada forte que dei em seu pé. Eu podia
muito bem conter a língua em respeito ao local em que estávamos, mas usei outra forma mais
silenciosa para revidar ao nível.
Dor se paga com dor.
Ignorei-o e voltei pelo caminho em que vim, já que perdi a vontade de beber qualquer
coisa senão água.
Só Sebastian para acabar com qualquer resquício da minha paciência.
Horas mais tarde, finalmente consegui esquecer o ocorrido com o Barão e tratei de curtir
na companhia da minha prima, até que encontrei Mateus, o rapaz que conheci nas comemorações
da festa da padroeira. Foi assim que deixei Tamiris ficar com Augusto e me conformei com a
companhia do bonitão da cidade.
— Então, você pretende algum dia montar uma confeitaria?
— Talvez. Está nos meus planos, mas ainda é muito cedo para pensar nisso.
— Entendi. Você não quer beber nada mesmo?
Neguei com a cabeça.
Mateus era um homem muito bonito, tinha aproximadamente minha idade e altura, mas,
sempre que eu olhava para ele não conseguia sentir nada, nem sequer vontade de dar um beijinho, afinal era tudo de que eu precisava; um pouco de distração na minha vida.
— Que pena então… Quer dançar um pouco? — sugeriu.
— Pode ser — concordei.
Mateus deixou a bebida na mesa, levantou-se e estendeu a mão para mim. Aceitei, indo
junto com ele para o centro, onde havia um pessoal dançando. Esperamos uma nova música se
iniciar para começarmos.
No começo, eu entendia
Mas era só cama, não tinha amor
Lembro quando você dizia
Vou desligar porque ela chegou
E a gente foi se envolvendo, perdendo o medo
Não tinha lugar e nem hora pra dar um beijo
Coração não tá mais aceitando
Só metade do seu te amo
Ciumeira - Marília Mendonça
Mateus envolveu as mãos em volta da minha cintura, dançávamos na batida da música, ele
me girava, não parava de sorrir e eu me sentia fora da casinha, perdida, como se ali não fosse o
meu lugar, em seus braços.
Fui rodopiada e sem querer meu olhar parou de frente para o do barão. Sebastian assistia a
tudo, a mandíbula travada, e foi questão de segundos até que viesse em passos rápidos em nossa
direção, o que me fez arregalar os olhos surpresa com sua atitude.
O que ele pretendia fazer?

— Devolve minha mulher, seu projeto de homem! — O barão só deu um empurrão,
tirando o pobre Mateus de perto de mim. — Agora vem cá.
Fiquei sem saber o que fazer.
— O que significa isso, cara? Eu cheguei primeiro…
— E daí? Acha que pode mesmo disputar peito a peito comigo, moleque? Ela — Sebastian
falou, pegando na minha mão —, não gosta de caras cheirando a leite azedo…
— Seu… — Abri a boca para falar, mas parei ao perceber que as pessoas estavam parando
de dançar para olhar o que acontecia. — Vamos sair daqui, Sebastian. Depois converso com você, Mateus — falei tentando amenizar a situação.
Foi a minha vez de pegar no braço do barão, tomando as rédeas e levando-o para fora da
casa, ignorando todos à nossa volta e o que iam falar no dia seguinte. Eu procurei um lugar mais
tranquilo e vi que só tinha perto das árvores, então foi para lá que fomos.
— Que merda foi isso, Sebastian? Quem você pensa que é para chegar me impedindo de
dançar com os outros?
— Seu macho alfa, garota! — murmurou com tom de provocação.
— Você não é nada meu. Olha aqui, não faça mais isso ou, em vez de pisar no seu pé, eu
vou quebrar sua cara! — ameacei.
— Nossa, quanta valentia! — falou, parando em minha frente. — E, só para deixar claro,
caso entre de novo naquela casa para dançar com outro, saiba que farei a mesma coisa, ou até
pior…
— Você não ousaria!
— Sim e sim. — Estendeu as mãos, colocando-as em meu rosto. — Você precisa entender
uma coisa…
— O quê? Que você não manda em mim? Que, apesar de ter idade, não é o meu pai?
— Garota petulante! Pelo visto só tem uma forma de acabar com essa braveza toda…
Abri os lábios para responder, mas fui engolida pela sua boca.
Droga!
Sebastian me beijou!

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