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Sebastian

Comprei minha passagem só de ida ao inferno.
Beijei Carolina, minha gata felina, e paguei mais uma vez a língua.
Eu fui contra todos os meus conceitos, os quais me protegiam de um envolvimento com
ela, ignorando os alertas que mostravam o quanto era errado avançar o sinal antes do tempo.
Falhei.
Falhei.
E pouco me importei.
Os lábios da gata devoravam-me, mordiscavam, sugavam tudo pelo caminho, deixando-me
arrepiado, envolvido pelo momento, sedento por continuar beijando-a mais e mais. Abracei sua
cintura com as mãos, deixando nosso rosto mais nivelado, puxando-a para cima, como se fosse
possível nos fundir; um roçar bruto que só serviu para deixar meu pau ainda mais duro na cueca.
Porra!
Perdi o controle.
Carolina desceu com as mãos pelo meu pescoço, raspando a unha na minha nuca, causando
uma leve ardência gostosa, uma provocação silenciosa, que retribuí ao nível quando me esfreguei
nela sem pudor algum.
Não tinha por que esconder.
Eu a queria.Eu a desejava.
E dependia dela dizer “sim” para levarmos esses amassos para um lugar reservado, onde
pudesse dar a ela alguns orgasmos gostosos antes de tomar a sua boceta para mim.
Caralho!
— Sebastian… Merda!
Carolina interrompeu o beijo, quebrando a bolha em que estávamos. Eu me vi igual a um
dependente químico, só que dela, querendo avançar o sinal outra vez e beijá-la.
— Não… Ei, espera um pouco. Eu preciso respirar — disse, como se tivesse lido meus
pensamentos.
Talvez minha expressão corporal, de ataque, igual a um lobo com fome, tenha revelado
minha intenção. Eu realmente queria continuar beijando-a, mais e mais.
— O que foi? Não conseguiu dar conta do velhote? — Passei a língua nos lábios,
provocando-a.
— Não é isso. — Parecia meio aérea, sussurrando as palavras devagar. — O que significa
tudo isso? Esse beijo?
— Necessariamente precisa de significado? Temos aqui um homem de quarenta e poucos
anos beijando uma garota de vinte e três, adulta, vacinada. — Observei seus olhos se
arregalarem. — Sim, fiz o dever de casa e sei sua altura, sua idade…
— Você fez o quê? Então eu sou um desafio para o senhor, barão? — Ali estava de volta
minha gata arisca, pronta para me atacar com palavras.
Eu não queria brigar com Carolina e estragar o momento ímpar que tivemos, então estendi
as mãos no ar em sinal de redenção e resolvi ser sincero, esclarecendo logo.
— Não é o que está pensando. Eu nunca seria capaz de colocar um detetive para investigar
sua vida, nem a do seu pai. Tudo que sei descobri através de Augusto, que está de namorico com
sua prima. Foram só duas perguntas breves e claras. Qual o problema em saber disso? E outra,
quanto a sua altura, menti, pois deduzi baseando-me nas vezes que estivemos perto um do outro.
— Você não joga para perder, barão. — Meneou a cabeça negativamente. — Estou
ferrada!
— Por que diz isso? Foi ruim assim me beijar? Me desculpe se pareci um pouco afoito, é
que nunca tive uma mulher ao meu lado que tivesse um por cento da sua personalidade forte…
Ela não parava de me olhar, como se estivesse buscando verdade em tudo que falara alto e
em bom som.
— Isso é para soar como um elogio?
— Dádiva. Finalmente tive o privilégio de sentir os lábios mais gostosos, da garota que se diz uma beijoqueira.
— E eu sou mesmo. — Deu uma piscadinha no olho, toda cheia de graça. — No entanto,
foi a primeira e última vez. Fique com as lembranças do beijo que nunca mais terá a chance de
ter novamente.
— E quem garante uma mentira dessas? Você? — Avancei em sua direção, com a boca
cheia de desejo de prová-la mais uma vez.
— Sim. Juro de coração que…
— Jura mesmo que não quer me beijar? Que não quer sentir tudo que sentimos contra essa
árvore? Mente para mim, Carolina… Mente, porra!
— Quer ouvir mesmo a verdade, barão?
— Sim. Somente a verdade e nada mais! — Pressionei, sabendo que Carolina iria ter
coragem de negar, usaria da mentira para encobrir a verdade que estava bem nítida.
— Eu…
Mordi a ponta do lábio com força.
— Resposta errada, amor. Vou te dar mais uma chance, só mais uma…
— Ah, Sebastian, vá se…
Não deixei que terminasse de falar.
— Sim, eu vou mesmo. E sabe o que é o melhor disso? Será com você! Por cima, por
baixo, de lado, de quatro.
— Não vou, não — disse, com os lábios trêmulos, incerta.
— Não adianta tentar dizer o contrário, amor. Nós dois sabemos que a mentirosa aqui é
você… Mente na minha cara sem temer do que sou capaz para fazê-la pagar por isso.
— Vai se foder, seu barãozinho!
Carolina nunca admitiria o que sentia por mim em voz alta, negaria até o fim, e eu sabia
disso pela forma como me beijara, com fome, desejo, se entregara sem pudor ou receios. Só que
ela não fazia o perfil de quem dava o braço a torcer, não perdia uma guerra, e pouco me
importava saber disso, se fosse preciso ceder por ela.
Eu cederia para ela.
Pelo beijo.
Por tudo.
Ao contrário da garota, eu não me importava em afirmar em voz alta que sentia algo por
ela, atração, desejo, tesão, e outros sentimentos sórdidos. Não era um problema para mim fazer isso, visto que sempre fora um homem muito bem resolvido em todos os âmbitos da vida, seja
amoroso ou profissional.
Não dava ponto sem nó.
Era curto e direto.
— Vai continuar esse papo de me mandar me foder a noite toda? — Torci o lábio para o
lado.
— Não, até porque, daqui, já vou para casa, se quer saber. — Deu de ombros.
Engoli em seco.
— Posso te dar carona…
— Deus me livre!
— Por que não?
— Não quero correr o risco de ser beijada novamente por você, Barão.
— Pelo visto vai continuar apertando essa tecla, de que não gostou nadinha de ser beijada
por mim. — Suspirei fundo. — Acho que posso conviver com o fato de que não entrei na lista de
melhores beijos da maior beijoqueira da cidade.
Fomos de cem a zero em minutos.
Pelo visto a nossa noite iria se encerrar por ali.
— É, você não entrou coisa nenhuma… Bom, foi um desprazer vê-lo, Sebastian. Vou
entrar para avisar a Tamiris que vou para casa.
— Sabe muito bem que sua amiga deve estar em algum lugar trocando beijos e sabe lá o
que mais com Augusto, o que vai te obrigar a aceitar minha carona. — Coloquei a mão no bolso
da calça para tirar a chave do carro. — Eu também quero ir para casa, não aguento ficar mais
nem um minuto nesta festa de casamento.
Carolina desviou o olhar para o lado, como se estivesse procurando alguém.
— Pela primeira vez vou ter que concordar em algo… E eu aceito a carona. Não quero
atrapalhar ainda mais a noite de Tamiris — concordou, cedendo, enfim.
— Então… Temos uma trégua?
— Sim. — Deu um sorrisinho de lado. — Trégua pelo tempo que acharmos necessário.
— Ótimo, melhor assim. — Foi a minha vez de abrir um sorriso. — Pode ficar aqui me
esperando? Vou tentar encontrar Augusto e avisar que irei sair com o carro.
— Pode ir. Não vou fugir daqui.
— Que bom, caso contrário, eu iria procurá-la até no Inferno, se possível.
— Então… Quer dizer que você chegou a conhecer minha mãe?
— Lembro vagamente dela. Eu era muito pequena na época…
Desviei o olhar da estrada para Carolina, voltando logo a prestar a atenção no caminho que
levava direto à casa em que morava com o pai. Dessa vez, não precisei fazer uso do GPS, visto
que decorei o caminho e não havia mais necessidade. Por sorte, consegui encontrar Augusto com
a namoradinha em algum lugar afastado de onde acontecia a festa de casamento e avisei que iria
sair no carro. Assim que chegasse à fazenda, mandaria algum funcionário vir devolvê-lo.
— Não tínhamos uma relação muito boa, quer dizer, por um tempo, sim. Só que isso foi
mudando conforme fui crescendo e passando a entender as coisas…
— Você descobriu alguma coisa que fez mudar os sentimentos que sentia por ela?
— Algo assim. — Soltei uma lufada de ar. — Eu tenho um irmão que não conheço.
— Oh, que legal! Sempre quis ter um…
— Só que ele é filho de outro homem.
— Então dona Esther teve outra família?
— Sim. E tudo que sei sobre isso se deve ao meu pai, que falou, pois não tive oportunidade
para falar abertamente com ela desse assunto, visto que veio a morrer tempo depois… — Parei o
carro alguns metros perto da casa de Carolina. — Chegamos.
— E vem cá, você não tem vontade de conhecer esse irmão? — perguntou curiosa.
— Às vezes, sim, e outras vezes não sinto um pingo de vontade. Só sei que isso irá
acontecer em algum momento, então meio que estou pronto para tudo.
— Espero que possam deixar as diferenças de lado e se acertarem.
Virei o rosto para encará-la e sorri de lado.
— Boa noite, Carolina. Não vou pedir desculpa pela cena que fiz no casamento, nem
mesmo pelo beijo, pois se pudesse faria tudo de novo e de novo — afirmei.
— Eu sei que sim, Sebastian. Boa noite!
Destravei a porta do carro para que saísse, mas antes segurei em sua mão.
— Será que qualquer dia desses podemos dar uma volta?
— Isso ainda faz parte da trégua? — Franziu o cenho, quebrando nosso contato.
— Aceita, ou não? — insisti na pergunta.
— Vou pensar, barão… Nos vemos por aí — disse, saindo logo em seguida do carro.
Trégua.
Até quando isso iria durar?

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