Cap 1

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A doutora Normani Kordei estava sentada diante da penteadeira, com o braço erguido, pronta para escovar os cabelos, quando ouviu um barulho.

Sua mão parou no ar. No pulso havia uma pulseira de ouro na qual um berloque — um tipo de escorpião — se pendurava. Absolutamente imóvel, aguçou os ouvidos na noite, o escorpião tremulando de leve em sua corrente delicada, reluzindo na luz do abajur.

Ela observou o quarto pelo reflexo do espelho. Nada parecia fora de lugar. A cama king size sobre o chão de madeira, as cortinas de cetim do dossel, a colcha sobre o colchão, tudo em um delicado tom de pêssego. Sobre a cama estavam seu jaleco do hospital, a blusa, a saia e a maleta médica que jogara depois de um dia cansativo na sala de cirurgia. Os sapatos italianos de couro estavam no carpete, próximos ao punhado da meia de seda castanha.

Prestou atenção ao seu redor. Mas só havia o silêncio. Voltou a escovar os cabelos.

Era difícil relaxar. Havia tanto em que pensar, tantas coisas exigiam sua atenção: aquele paciente na Unidade de Terapia Intensiva; a reunião do Comitê de Revisão Cirúrgica pela manhã; o discurso que ainda teria de escrever para o jantar anual da Associação Médica do Condado; e, ainda, o mais perturbador: os telefonemas que vinha recebendo daquele produtor de TV, Simon Cowell muito insistentes, e nada relacionados a um problema de saúde, diziam suas mensagens.

Ela ainda tinha de encontrar tempo para retornar as ligações.

Lá está o som novamente! Um som furtivo, com um quê de secreto, como se alguém estivesse do lado de fora, tentando entrar, tentando não ser ouvido...

Abaixando a escova devagar e colocando-a em meio aos cosméticos e perfumes da penteadeira, a doutora Kordei inspirou fundo, prendeu a respiração, e o som reapareceu.

Fitou as cortinas fechadas. Será que o som vinha do lado de fora da janela?

Deus, será que ela está trancada?

Estremeceu. Olhou fixamente para as cortinas pesadas de veludo. Sua pulsação começou a acelerar.

Minutos pareceram se passar. O elaborado relógio estilo Luís XV sobre o mármore da lareira marcava o tique-taque. Tique-taque.

As cortinas se mexeram. A janela estava aberta! Normani prendeu a respiração.

Uma brisa fria pareceu invadir o quarto conforme as cortinas começaram a se distanciar. Uma sombra recaiu sobre o carpete cor de champanhe.

Ela se pôs de pé e, sem pensar, correu para o closet. Fechando a porta atrás de si, viu-se envolvida pela escuridão; segurou-se à parede até a gaveta secreta.

Deveria haver um revólver ali.

Encontrando a gaveta, Normani a abriu em frenesi e colocou a mão lá dentro. O metal frio parecia obsceno em sua mão; era longo, duro e pesado. Será que dispararia? Estaria ao menos carregado?

Voltando para junto da porta do quarto, pressionou a orelha contra ela para tentar escutar. Sons sutis se difundiam no cômodo espaçoso: o ranger da veneziana da janela, o sussurrar das cortinas afastadas, o som abafado de solas de borracha contra o carpete.

Ele estava lá. Estava dentro do quarto.

Normani engoliu em seco e segurou firme o revólver. O que pensou que faria com aquilo? Atiraria nele? Pelo amor de Deus! Começou a tremer. Seu coração batia forte.

E se ele também tivesse uma arma?

Escutou um pouco mais. Conseguia ouvi-lo se movimentar pelo quarto. Ela abaixou uma das mãos, segurando a maçaneta, e entreabriu a porta. A princípio, viu apenas o quarto vazio. Mas depois...

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