Hollywood, Califórnia, 1960
— Sexo é o que vende hoje, sabe, Luna?
Ela não prestou atenção. Estava ocupada demais se esforçando para entender os impossíveis livros de contabilidade da lanchonete. Era em dias como aquele que Luna pensava em Demetria. Uma garota nascida com um talento fenomenal, forçada a enterrá-lo juntamente a todos os seus outros sonhos. Demetria, que tinha deixado de responder às cartas de Luna há dois anos.
— Ei, Luna? Quem você considera o ator mais sexy?
— Não sei — respondeu ela sem levantar o olhar da contabilidade.
Roy Madison fechou a cara sobre a revista Variety que segurava e disse:
— Estou falando sério, Luna. Vamos lá, quem é o homem mais sexy das telas na atualidade?
Luna abaixou o lápis e levantou a cabeça de seu assento e olhou para o fim do balcão.
Roy estava sentado na mesa de canto de sempre, aquela mais próxima ao telefone, com as edições mais recentes da Variety, Casting Call e Hollywood Report espalhadas diante dele. E como de costume, vestindo roupas limpas, porém remendadas, posicionara a cadeira de um modo que podia checar a aparência na parte brilhante do jukebox, e segurava uma xícara de café comprada duas horas antes (ele nunca comprava nada para comer — Royes estava tão falido que não podia comprar nem os sanduíches de Eddie) enquanto procurava por oportunidades. Um típico ator sem trabalho.
— Não sei mesmo Roy. Não vou ao cinema.
— E que tal ?
Era uma manhã tranquila — entre a correria do café da manhã e do almoço — e só havia dois fregueses nas outras mesas. Até mesmo a Avenida Highland logo em frente parecia menos movimentada.
— O que quer saber Roy?
— Estou pensando em, talvez, mudar de aparência. Para ficar mais sexy.
Ela refletiu a respeito. Embora Luna mal prestasse atenção aos homens de maneira geral e não os considerasse atraentes nos últimos seis anos, ela era observadora o bastante para saber que não havia nada de errado na aparência de Roy Madison.
Ele era bem bonito, ao modo dos ídolos padronizados das telas. Eddie sempre dizia que era uma pena que a aparência de Roy não o estivesse ajudando a conquistar mais trabalhos. O problema é que ele era um peixe pequeno desconhecido em um oceano de tubarões. Ele conseguia alguns papéis pequenos, sem fala, aqui e acolá — até apareceu em , em cores, mas isso não bastou para fazer a sua carreira deslanchar.
Ele arranjou empregos de meio período, demitindo-se quando em alta, vivendo às custas dos outros quando em baixa novamente. Como naquele dia. Já fazia mais de um mês desde que a sua agente retornou uma de suas ligações.
— Não acho que haja nada de errado com a sua aparência Roy.
— O último diretor de elenco que vi me disse que pareço demais com o Fabian. É verdade, Luna?
Ela viu o modo como ele se observava no reflexo do Jukebox, virando a cabeça de um lado, depois para o outro, ajeitando seu penteado perfeito e ela teve de concordar: ele se parecia muito com Fabian.
— Se ao menos eu conseguisse um papel bom, sabe? Um papel com fala. Para mostrar o que sei fazer. Mas não se consegue um papel com fala se não tiver um cartão SAG. E não se consegue um cartão SAG sem ter feito um papel com fala. Caramba, Luna. Uma vez, pelo menos uma vez eu gostaria que as pessoas vissem o que sei fazer.
—Você vai conseguir Roy — disse ela com suavidade. — A oportunidade vai aparecer um dia desses.
— É — bufou. — Como apareceu para o Eddie.
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Scorpion
Literatura FemininaUm rosto. Um nome. Um caminho. E apenas uma pergunta: O passado só nos deixa quando nós o deixamos?