Quando o juiz disse: "Favoreço o réu, Mickey Shannon", o querelante pulou da cadeira e gritou:
— Não vai se safar dessa, seu merdinha!
E a sala de tribunal veio abaixo.
Mickey Shannon, famoso astro do rock, estava bravo e pronto para lutar, mas Ally Brooke pôs a mão no braço dele, mantendo-o sentado. Ela o manteve na cadeira enquanto o juiz batia o martelo pedindo ordem no tribunal. Em seguida, certificando-se de que o jovem Mickey não pretendia saltar e atacar o homem que o chamara de merdinha, Ally se levantou, no meio daquele pandemônio, pedindo em uma voz que reverberou em toda a sala:
— Meritíssimo, solicito uma medida cautelar imediata, mantendo o senhor Walker afastado do meu cliente.
O advogado do querelante se ergueu e gritou:
— Meritíssimo, protesto!
Os fotógrafos e os jornalistas lotando a sala do tribunal estavam tendo um dia glorioso. Aquele era um daqueles julgamentos de celebridades que produziam manchetes sensacionais. Mas, enquanto a discórdia interna parecia estar dividindo a equipe do querelante o cliente e o advogado trocando farpas murmuradas, porém acaloradas Ally a Franklin tinha o seu lado sob controle.
Aprendeu a controlá-lo nos sete anos de seu relacionamento de representante legal e cliente. Mickey era um ator desconhecido quando Ally, recém-formada, tinha acabado de instalar a placa de seu escritório na Sunset Strip. Ele passou pela sua porta, um jovem humilde e confuso que tinha sido passado para trás por um agente inescrupuloso.
Ela conseguiu recuperar o dinheiro de Mickey e, desde então, vinha aconselhando-o com contratos e negociações salariais, ficou ao lado dele quando ele não tinha como lhe pagar, e até mesmo apresentou-o a quem o levou, finalmente, ao estrelato. Quando as músicas dele chegaram às paradas de sucesso e Mickey obteve fama quase que instantânea, ele não trocou Ally por um dos escritórios badalados em Century City, onde todas as grandes estrelas contratavam seus agentes e advogados. Mickey Shannon foi firme em sua lealdade para com a jovem advogada que ficara ao seu lado quando ninguém mais em Hollywood pensava nele. E agora, naquela manhã ensolarada de janeiro, ele colhia os frutos daquela lealdade.
Quando Les Walker, famoso fotógrafo de celebridades, abordou Mickey muito mais do que uma vez, provocando-o a ponto dele arrancar sua máquina fotográfica, estraçalhando-a na calçada, o filme saiu e se expôs à luz, Walker processou a estrela do rock alegando interferência em seu sustento e danos para a reposição do equipamento.Walker também exigia cinco milhões de dólares por danos punitivos.
Mickey, desvairado, procurou Ally, e ela calmamente lhe disse que não havia com o que se preocupar. Também entrariam com um processo. Ela passou a defender seu cliente com muito sucesso em uma sala de tribunal lotada, usando em sua defesa uma interpretação dramática dos excessos que o fotógrafo tinha cometido — seguindo Mickey Shannon perigosamente na via expressa, bloqueando-lhe o carro estacionado, provocando-o maliciosamente todos os minutos do dia —, com isso exigindo agora uma restituição pela angústia mental causada pelas situações perigosas que o fotógrafo lhe impingira. E o juiz tinha julgado o caso a seu favor!
Quando a agitação diminuiu e a sala voltou a ficar silenciosa, o juiz garantiu uma medida cautelar temporária contra o senhor Walker e marcou uma data para uma audiência onde se determinaria se essa medida deveria ou não ser permanente. Mickey Shannon, o lindo ídolo do rock de milhões de adolescentes, passou os braços ao redor de sua advogada e plantou-lhe um beijo na boca.
Tinham vencido.
Nos degraus do tribunal, Ally e seu cliente foram imediatamente envolvidos por repórteres e câmeras de TV e suas equipes. Ela fez uma declaração um tanto exagerada, seu rosto brilhava com a vitória, a voz saía forte e triunfante, enquanto a imprensa anotava o fato de que Ally Brooke, "advogada poderosa de Mickey Shannon, um dínamo no tribunal, mignon e feminina, vestia conservadoramente um conjunto de alfaiataria com uma pasta que combinava com a bolsa e os sapatos...".

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Scorpion
Literatura KobiecaUm rosto. Um nome. Um caminho. E apenas uma pergunta: O passado só nos deixa quando nós o deixamos?