Ele rolou sobre ela como se estivessem mudando de lado para tomar sol — cinco minutos de frente, cinco de costas. As nádegas dele subiram e desceram algumas vezes até que, por fim, ele se deixou cair sobre ela.
Afastando-se dele para apanhar o maço de Virginia Slims, Dinah deu uma olhada para o cara que representava um: É só isso?
Mas ele não percebeu. Já estava roncando. Tragando o cigarro e inalando profundamente, ela saiu da cama e caminhou pelo quarto até a janela, de onde via as luzes da UCLA.O campus parecia uma cidadezinha, e do outro lado da rua, uma das casas das fraternidades, onde uma festa das boas acontecia.
Deus do céu, garota, ela disse silenciosamente para o seu reflexo no vidro, o que pensa que está fazendo aqui?
Ela sabia muito bem o que fazia ali, no apartamento de um rapaz cujo nome ela mal sabia, que tinha vinte e um anos (e isso ela só descobriu depois de chegar à casa dele) e cujo cérebro se localizava entre as pernas. Era mais uma noite de sábado. Era por isso que estava lá.Dinah acreditava que havia três ocasiões que deviam ser partilhadas na vida de uma pessoa, duas das quais eram os sábados à noite e os domingos de manhã. Por isso, vestiu-se com esmero em seu melhor jeans e renda, e saiu com a prima Jane para o Pikme-Up, onde beberam em copos de plásticos. As pessoas de sempre estavam lá, alegres e vestindo suas roupas de segunda mão e bijuterias cafonas, sentadas em cadeiras de cozinha na calçada ao lado, e Dinah e Jane estavam discutindo sobre a sorte com a runas quando um jovem vestido de branco se aproximou sorrindo.
Ela gostou dele imediatamente. Dinah sempre teve uma fraqueza por homens com cabelos até os ombros. E ele tinha um brilho inteligente nos olhos. Mas o que a convenceu foi quando ele disse:
— Runas, uau. O poder de Odin e Thor.
Eles saíram do lugar juntos, despedindo-se de Jane, que tinha uma cirurgia marcada para a manhã seguinte, mas dirigiram carros separados, Dinah seguindo o VW de Miles em seu Corvette. Uma vez dentro do apartamento desarrumado que ele dividia com outros dois que estavam fora da cidade durante o final de semana, Miles serviu a ela um copo de vinho de uma garrafa de rosca e colocou para cantar no estéreo. Cinco minutos mais tarde, Dinah percebeu ter cometido um erro.
— Podemos só conversar por um tempinho? — ela pediu quando ele começou a agir.
— Sobre o quê?
— Como, não sei... O que acha de ? — uma de suas personalidades prediletas lhe veio à mente.
— Carl Sagan? Ah, o cara da Cosmos... Vi o show. Música incrível.
Foi então que Dinah percebeu que para ela bastava.
E ainda assim, um corpo jovem e viril ainda era um corpo jovem e viril, e Miles demonstrava grande potencial na cama. Pelo menos no começo, Depois, isso também se transformou em mais um caso de identidade trocada, e lá estava ela de novo, em um apartamento estranho, sexualmente frustrada e sozinha, perguntando-se o que a fazia agir assim...
Encontrou o banheiro na primeira tentativa (alguns apartamentos tinham plantas que enganavam, ainda mais se ela estivesse bêbada) e se olhou bem no espelho. A mulher com cabelo californiano espetado e maquiagem borrada dizia: Isso tem de parar.
O problema era que ela não sabia como parar. Pelo menos não até encontrar o homem que procurava. Onde nesse mundo, Dinah se perguntava ao lavar o rosto, ela encontraria um homem de boa aparência, inteligente, que soubesse fazer amor e tratasse as mulheres como iguais?
Bill, o encanador, lhe veio à mente. Ele vinha fazendo isso com bastante frequência. Para seu total aborrecimento, porque ela, definitivamente, não gostava dele.Ah, ele preenchia muito bem um par de calças jeans, e sabia o que fazia no que se tratava de assentar o aço e o encanamento em uma piscina, mas ele tinha aquele ar chauvinista malevolente, chamando-a de querida e falando com ela como se fosse uma idiota.
Pensou em "Thomas". O que havia de especial nos momentos com ele que não conseguia recriar com ninguém fora das paredes do Scorpion? Qual era o ingrediente secreto?
Ela foi para a porta do quarto e se recostou contra a soleira, fumando silenciosamente. Miles, sem dúvida, tinha conseguido se satisfazer, porque agora dormia como um bebê. Dinah estava para considerar a ideia de cutucá-lo e excitá-lo para lhe mostrar como era, de fato, uma relação sexual quando rolou de lado e peidou.Ela olhou para o relógio digital na mesinha de cabeceira dele. Passava pouco das dez. A noite ainda era uma criança.
Ela foi para a cozinha, encontrou o telefone e discou um número, e quando alguém do outro lado atendeu, ela disse:
— Boa noite, é do Scorpion? Aqui é Dinah Hansen. Ele está disponível? — Ela aguardou, depois sorriu. — Reserve-o para mim. Chego em dez minutos!

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Scorpion
ChickLitUm rosto. Um nome. Um caminho. E apenas uma pergunta: O passado só nos deixa quando nós o deixamos?