Cap 21

82 5 0
                                    

Texas, 1963

" Wilmer quase me matou dessa vez! Você tem de me ajudar, Lauren! "

As palavras da carta desesperada de Demetria ecoavam sem cessar na mente de Luna enquanto ela acelerava pela estrada em seu Corvair azul, cruzando o Novo México a caminho do Texas. Fazia cinco anos que as cartas de Demetria tinham deixado de chegar, E então, de repente, na semana anterior, um envelope chegou à lanchonete, endereçada a Lauren Jauregui.

— Tivemos uma briga — Demetria escreveu. — Wilmer tentou me matar. Não posso mais viver assim, Lauren. Você e eu prometemos ajudar uma à outra se estivéssemos com problemas. Espero que esta carta chegue até você porque estou verdadeiramente encrencada.

Luna deixou a lanchonete aos cuidados de Ann Hastings e agora acelerava pela vastidão do Texas. Pela primeira vez em nove anos. Havia mudanças no ar. Ela sentia isso. O mundo parecia estar se movendo cada vez mais rápido. Os russos tinham enviado um homem ao espaço, todos dançavam o twist, abrigos antibombas eram uma obsessão nacional. Luna tinha a impressão de que o mundo estava à beira do abismo, e que o estilo americano de viver, conhecido por todos há tanto tempo, estava para se alterar de repente, drasticamente e para sempre.

Se lhe pedissem para ser específica, ela não seria capaz. Era simplesmente algo que ela sentia, mas não conseguia nem ver, nem tocar. Havia sinais em todos os lugares para quem quisesse ver: rebeliões aumentavam entre os negros oprimidos do sul; cantores populares emergiam da cultura anti materialista e ganhavam notoriedade; mesmo os filmes mudavam, deixando a todos enlouquecidos com histórias de espiões e agentes secretos. E Luna parecia enxergar tudo isso enquanto fitava os desertos planos do Texas, em contraste com o pano de fundo formidável de uma nuvem em formato de cogumelo.

Era isso o que causava a mudança? A bomba? A ameaça sempre crescente que vinha do outro lado do oceano?

O que, ela se perguntava enquanto " terminava e os Beach Boys começavam a cantar ".", aconteceu com o estilo de vida inocente e insular da década anterior? E se aquilo fosse só o começo, como Luna suspeitava, o que haveria depois?

O que quer que fosse, qualquer que fosse o futuro além do horizonte, Luna tinha certeza de uma coisa: ela seria rica.

Naquele mesmo ano, Eddie recompensou Lauren com 1O% da companhia. Com catorze lucrativas lanchonetes Royal Burgers, Luna começava a receber belos dividendos. E quando ela decidiu que sua poupança não aumentava com a rapidez desejada, aceitou o conselho de Eddie e comprou uma das novas casas anunciadas em Encino. Não morava nela; alugou-a para uma família. O valor da casa já se elevara; o Vale de San Fernando passava por um boom imobiliário. Por isso, ela sacou mais dinheiro das suas economias e comprou outras duas casas que imediatamente foram alugadas. As três casas no Vale estavam, naquele exato momento, enquanto ela cruzava o Rio Pecos, trazendo dinheiro para o seu fluxo de caixa.

Em seguida, Luna planejava expandir para as novas casas nas colinas Tarzana, que estavam sendo construídas com belas vistas e piscinas. Estavam sendo vendidas por 20 mil; em dez anos, Eddie garantia, elas valeriam dez vezes mais do que isso.

Contudo, Luna continuava a ser cautelosa com o seu dinheiro. Quando Eddie tentou encorajá-la a investir em ações e títulos públicos, ela se ateve à sua conta no banco. Ela via que San Fernando era uma cidade em expansão; seu bom-senso lhe dizia que aquele investimento cresceria.

Mas ela se esquivava das apostas financeiras em que Eddie e Laverne vinham se envolvendo. E, do mesmo modo, enquanto Eddie e Laverne se mudaram para uma casa luxuosa, Luna continuava em seu minúsculo apartamento na Cherokee. Cada dólar guardado era um dólar a mais para o seu futuro. O azul que ela agora dirigia pela cidade de Sonora não era novo quando ela o tinha adquirido, e ela o comprou mais por necessidade do que por conveniência.

ScorpionOnde histórias criam vida. Descubra agora