Cap 25

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Hollywood, 1971

Quando Luna veio da claridade externa e acompanhou a recepcionista pelo saguão escuro do restaurante, ela não notou o homem ao bar, observando-a. Ele era um homem grande, bem vestido e negro. Ele cravou os olhos sobre ela enquanto era conduzida para uma mesinha em um canto, onde ela ficava parcialmente escondida por plantas e uma vela iluminava seu rosto.

Ainda que mulheres brancas não fossem normalmente do seu agrado, ele percebeu que ela era muito bonita, e perguntou-se se o preto do cabelo era natural. O nome dele era Jonas Buchanan e ele carregava uma pistola no coldre debaixo da jaqueta.

Buchanan era a única pessoa no bar. Ele sabia que aquele lugar estaria lotado mais tarde, com gente esperando para ser atendida. Mas passava pouco das duas; o maior movimento só começaria às quatro.

Lentamente, ele sorveu um gole do seu drinque enquanto lançava olhares furtivos para a jovem morena. Ela pediu algo para a garçonete, depois pegou um caderno da bolsa e começou a escrever. Ele viu que vez ou outra ela olhava de relance para o relógio.

Quando terminou o drinque, Buchanan deixou o dinheiro no balcão, abotoou a jaqueta, certificando se de que o volume da pistola não aparecesse, e foi lentamente na direção da mesa do canto.

Escondido pela abundância de plantas, ele conseguiu se aproximar sem ser notado. Ele a observou, notou a cabeça morena inclinada captando os feixes dourados da luz da vela, viu a mão se movimentar rapidamente sobre o caderno. Ela era dona de uma intensidade interessante, como se mal estivesse sentada na cadeira, como se estivesse encolhida como uma mola, pronta para saltar e sair correndo. E ele se perguntou se, ao vê-lo, era o que ela faria.

Por fim, chegou à mesa. Sentindo a sua presença, ela levantou a cabeça. Seus olhos encontraram-se.

— Senhorita Maaujre ? — ele perguntou.

Ele não lhe contou ao telefone que era negro. Nunca fazia isso. Era um teste com clientes em potencial. Com certa frequência, eles o olhavam, viam sua negritude e saíam.

Mas não havia hesitação alguma nos olhos dela ao dizer:

— Sim. O senhor é Jonas Buchanan?

Ele assentiu.

— Por favor, sente-se. Posso lhe oferecer algo?

— Não, obrigado. Se pudermos ir direto ao assunto, senhorita Maaujre ...

Luna pegou um grande envelope e o colocou diante dele.

— Aqui está toda a informação de que disponho. Lamento, mas não é muita coisa.

— A senhora disse que usou o serviço de três investigadores particulares. Eles não conseguiram nada?

— Isso é tudo o que descobriram.

Ele olhou para o envelope. Era desapontadoramente fino. Depois olhou para a sua cliente. Jonas Buchanan ficou imaginando quanto ela poderia gastar. Ela parecia rica, mas ele nunca se deixava enganar pelas aparências. No entanto, ele explicou os seus honorários pelo telefone, e ela não recuou.

— Muito bem — disse ele, abrindo o envelope e espalhando o seu conteúdo insignificante e começando a ficar irritado. Quando tinha deixado a força policial para abrir a própria agência de investigação, não imaginava que casos como aquele (localizar filhos fugidos dos caras brancos e ricos, ou os parentes desaparecidos de moças brancas e ricas) fossem representar boa parte dos seus negócios. De forma geral, não gostava de lidar com os brancos, motivo pelo qual tinha abandonado a força policial. Mas, infelizmente, eram eles que tinham problemas e dinheiro.

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