Fazer sexo com um desconhecido não era novidade para Dinah Hansen. Era assim que ela costumava passar as noites de sábado. Contudo, fazer sexo com um estranho naquelas condições específicas, concluiu ao vislumbrar o logotipo em forma de escorpião acima da porta, definitivamente era algo novo. E a excitava além da imaginação.
Ao receber o tíquete de estacionamento do manobrista e ouvi-lo se afastar com seu Corvette azul ferrete, Dinah sentiu uma repentina e inesperada descarga de medo.
Mas do que tinha medo? Afinal, sua prima Jane Hansen visitava aquele lugar há semanas; Jane não parava de discorrer sobre as maravilhas fantásticas dali. "Onde você pode realizar qualquer fantasia que quiser", ela lhe dissera. E também havia a doutora Normani Kordai, para quem Dinah havia projetado e construído um solário e um spa na casa de praia. A doutora Kordai era uma das associadas do Scorpion, segundo Jane, por mais tempo ainda. Na verdade, fora Normani Kordai quem recomendara a prima de Dinah para se associar ao local, uma vez que eram amigas íntimas desde o tempo da faculdade de medicina. Portanto, lá estava Dinah, com seus trinta anos, à procura de algo, parada na calçada da Rodeo Drive, prestes a ter o seu desejo mais cobiçado atendido. De fato, graças à doutora Kordai.
Era assim que o Scorpion operava, Jane lhe explicara. Já que era um clube pequeno e reservado, cada associada tinha a permissão de indicar uma pessoa. A doutora Kordai escolhera sua melhor amiga, Jane, e Jane decidira recomendar a prima, Dinah. Duas semanas antes, logo após o Natal, Dinah fora até lá para fazer uma entrevista e receber orientações da diretora. Há três dias, recebeu uma pulseira especial, e agora ela também era uma sócia habilitada com todos os direitos e privilégios que o Scorpion proporcionava.
Dinah levantou a gola do casaco e estreitou o olhar para o prédio diante da luz ofuscante daquele mês de janeiro frio.
— O que Scorpion proporciona... Vou te contar, Dinah — a prima lhe disse. — O Scorpion já fez maravilhas por mim. Está ajudando a me encontrar, a me descobrir. Talvez ele consiga salvá-la também.
Salvar. Era o que Dinah esperava. Os encontros de apenas uma noite infindáveis e degradantes com homens que nunca ligavam depois, ou que se mostravam verdadeiros desapontamentos à luz do dia seguinte, fizeram com que Dinah trilhasse um caminho para lugar nenhum. E ela queria, desesperadamente, ir para algum lugar... Com alguém. Bem, o primeiro passo teria de ser dado.
Por isso ela o deu, atravessando a porta de vidro da Fanelli, a butique Masculina de Luna Maaujre, o enigmática escorpião em sua simples fachada. Dinah conhecia a loja; há alguns anos fora até lá para comprar uma camisa social Loire Valley para o namorado, e ele se virou para dar a camisa ao namorado dele. A loja era elegante com sua decoração mogno-bronze, e naquele instante estava lotada de clientes trocando presentes de Natal.
Dinah parou um momento para acalmar o coração sobressaltado. Reconheceu alguns dos rostos naquela multidão: o diretor de cinema cuja piscina ela projetou e construiu; o famoso ídolo do rock Mickey Shannon, tentando passar despercebido; e, na seção de higiene pessoal, Dinah reconheceu Luna Maaujre, a famosa anfitriã da sociedade.
Por um segundo, Dinah se perguntou se ela era associada da operação secreta que se desenvolvia no andar superior. Mas todos sabiam que Luna Maaujre era uma defensora ferrenha do Ministério da Boa Nova, e que tipo de vida moral e exemplar ela levava. Além disso, Dinah notou a ausência do bracelete de escorpião em seu pulso.
A maioria dos clientes da loja, Dinah sabia ao abrir caminho, desconhecia o que se passava no andar de cima. A diretora havia lhe garantido isso. Aquelas pessoas estavam ali, de fato, para comprar alguma coisa; bem poucas agiam como ela, seguindo para os fundos da loja, fazendo questão de que seu bracelete fosse visto — o bracelete feito de elos delicados de ouro com um pingente de um pequeno escorpião.

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Scorpion
Romanzi rosa / ChickLitUm rosto. Um nome. Um caminho. E apenas uma pergunta: O passado só nos deixa quando nós o deixamos?