Ally gritou quando certou em cheio..
Então, voltando à expressão atônita de John, ela se virou e começou a correr. Mas a neve estava funda demais e suas roupas atrapalharam a sua fuga; John logo estava ao seu lado, puxando-a para baixo e prendendo-lhe os braços acima da cabeça.
— Não vai se safar com essa! — exclamou ele, sentando-se sobre ela ao juntar um punhado de neve com a mão desocupada.
Ela gritou e se debateu, mas ele era muito mais forte do que ela. Enquanto ele esfregava neve no rosto dela, dizia:
— Peça água! Vamos, Jess, peça!
Ela tentou combatê-lo, mas, por fim, admitiu a derrota e disse: água! E só depois ele a soltou. Mas quando ela rolou debaixo dele, ajoelhou-se na neve, amontoou um punhado de neve às pressas entre suas mãos enluvadas, e jogou nele, acertando-o em cheio mais uma vez. Antes que ele conseguisse revidar, Ally se pôs de pé, riu, correu e olhou por cima do ombro, mostrando a língua para ele.
John, também rindo, correu atrás dela. Daquela vez, quando ele a alcançou, ele a girou, a abraçou e a beijou.
Ela se deixou cair sobre ele, exausta, sem fôlego e contente.
— Vamos, querida — disse ele, segurando-a. — Bonnie e Ray devem estar se perguntando aonde fomos parar.
Ally não se importava. Sabia que o outro casal tinha voltado ao chalé uma hora antes e estavam esperando por eles, mas a caminhada de volta das pistas de esqui se mostrou tão revigorante para Ally que ela não tinha resistido a uma guerra de bolas de neve. Ela não queria ir a Mammoth para passar o fim de semana, dividindo o chalé com o sócio de John e a esposa dele — ela tinha trabalho demais esperando por ela no escritório. Mas naquele instante sentiu-se feliz por ter cedido. Era daquilo que precisavam: uma escapada de fim de semana. Bateram a neve das botas antes de entrar no calor reconfortante da casa.A lareira estava acesa, e Ray e Bonnie estavam sentados diante dela, jogando Scrabble.
— Ah! — exclamou Ally, livrando-se da parca e das luvas.
— Sinto cheiro de vinho quente?
— Está no fogão — respondeu Bonnie. — Sirva-se.
Quando Ally se punha na direção da cozinha, John disse:
— Por que não sobe e se troca antes?
Ela pensou em protestar — queria, desesperadamente, algo quente para aquecê-la —, mas em vez disso, disse:
— Está bem — e partiu para a escada.
Enquanto vestia uma túnica de veludo, ouviu o barulho de risadas no andar de baixo. Bonnie e Ray se gabavam de serem peritos em jogar Scrabble. Não era um dos jogos prediletos de Ally, mas John gostava, por isso estava resignada a passar a tarde jogando aquilo. Antes de sair do quarto, parou para se olhar no espelho. As faces estavam coradas, os olhos castanhos escuros brilhavam de felicidade. John fez amor com ela naquela manhã, antes de seguirem para as pistas de esqui. E foi muito prazeroso. E ela sabia que eles voltariam a fazer amor à noite.
Uma caneca de vinho quente já a aguardava quando se juntou aos demais. Enquanto John lhe entregava a caneca, encarou a túnica verde-esmeralda com um olhar crítico.
— O que foi? — perguntou ela, olhando para si, falando baixinho para que os outros não a ouvissem.
— Quando comprou isso?
— Na semana passada. Pensei que seria confortável vesti Ia depois de um dia na neve. Não gostou?
— Verde não a favorece, querida. Sabe disso. De qualquer forma, vamos lá, Bonnie e Ray estão esperando por nós para começarmos uma nova partida.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Scorpion
ChickLitUm rosto. Um nome. Um caminho. E apenas uma pergunta: O passado só nos deixa quando nós o deixamos?