Capítulo XXX

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Mikaela Evans⭐

A Hilux verde oliva brilhante deslizava pela avenida e era silenciosa, mesmo quando seu condutor exigia o máximo da potência dos seus motores.

Os bancos confortáveis de couro preto macio eram largos o bastante para que eu cruzasse as pernas sob meu corpo, atraindo o olhar cobiçoso do Ethan, ainda que cobertas pela calça.

O interior do carro tinha o aroma mentolado característico do seu dono, que misturado ao cheiro do couro novo e o frescor do ar condicionado, tornava-se uma combinação agradável e aconchegante. Quase calmante, se não fosse tão sexy.

Após minutos de silêncio que a atenção ao trânsito mais pesado exigia, além de estarmos concentrados em nossos próprios pensamentos, ele comentou.

- Você disse que o Brian é a melhor pessoa que você conheceu.

- Disse...

- E eu?

- Você está em outro nível.

- Que seria?

- Na minha escala de importância...

Ansioso pela minha demora em terminar a frase, ele tirou os olhos perigosamente azuis da estrada e pousou em mim.

- Qual lugar eu ocupo?

- O segundo. Você só perde pra minha irmã.

O sorriso vaidoso acompanhou a mão enorme que acariciou delicadamente minha nuca, me fazendo sentir aquela energia poderosa que atravessava meu corpo e fazia meu íntimo tremular de excitação em segundos.

Recolhida a mão para nossa própria segurança e tendo meu corpo sob controle, voltamos a conversar.

- Partiu meu coração deixar o Brian, mesmo que ele não esteja sozinho.

- Ter se acertado com a Sarah vai ajudar a manter o foco.

- Ele é tão família, me fez lembrar como é. Eu já tava apegada também. - falei com sinceridade e trocamos um sorriso cúmplice.

- Como aconteceu... a morte dos seus pais? Eu gostaria de saber mais sobre você. Se quiser falar sobre isso, claro.

Suspirei escolhendo as palavras para descrever uma família unida e feliz. Que vivia a tranquilidade de uma cidade pequena, quase rural naquela época.

- Meus pais formaram um casal improvável por algum tempo, mas o amor que os uniu provou que foram feitos um para o outro. Laura e Heitor. Minha mãe foi Rainha do Festival da Colheita por anos seguidos, a moça mais linda e doce da região, com longos cabelos prateados e olhos muito azuis.

Meu pai não quis ser médico ou advogado. Preferiu ser policial em uma cidade pequena. O chamavam de "guarda florestal" por proteger os animais silvestres e pela falta de ocorrências criminais na cidade. Alguns bêbados conhecidos, caçadores teimosos e rapazes que abusavam da velocidade na estrada quando ganhavam carros possantes dos pais ricos. Foram anos de uma vida sem percalços, uma casa simples e duas filhas já na adolescência.

Minha voz vacilante demonstrou que eu revelaria a parte trágica da história. Me mexi no banco buscando uma posição confortável e culpei o cinto de segurança pelo aperto que sentia no peito. Ethan me olhou de lado e esperou.

- Muitos Festivais da Colheita depois, eu era a Rainha. No último ano do colegial, eu estava decidida a ir em busca de outros horizontes, para o desagrado do meu pai. A Manu ficaria em casa, já namorava o Alessandro, um universitário promissor que passou no crivo do Sr. Heitor e que tinha o objetivo de se estabelecer na região como veterinário. Então, meu reinado seria uma despedida à altura e uma homenagem para minha mãe.

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