Capítulo 38 - Pavê & Passas.

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Rodrigo Andrelino

24.12.2024

O clima calmo ㅡ dentro do possível, levando em consideração que a minha família é o próprio caos ㅡ, e relaxante se mesclava ao ar sereno e frio da Serra. Eu nunca fui do tipo que gosta de estar em lugares movimentados e barulhentos, a menos que sejam bares com cerveja quente e corpos colados dançando um piseiro como bonecos de posto de gasolina. O som dos pássaros e das cachoeiras da Serra me fazia relaxar, isso antes de ter meu mais novo namorando junto da minha família doida.

Renata veio em minha direção. Vestida por um biquíni vermelho que se adequa às curvas grandes de seu corpo. Minha irmã era uma deusa plus size. Os cabelos negros que passavam da bunda, amarrados iguais a toda dona de casa prestes a enlouquecer.

Procurei por Pedro Ícaro por todos os lados do maldito sítio. Não o vi, então significava dizer que o desgraçado tava pescando com meu cunhado e Fernando, já que Felipe tava uma fera com o ficante. Era estranho porque tinha duas pessoas com o mesmo nome: Fernando de Felipe e o Fernando de Renata. Pra facilitar todo mundo decidiu chamar o ficante de Felipe pelo segundo nome, Henrique. Mas não deu pra fazer a mesma coisa com o cunhado de Renata, que também se chamava Felipe. Ou seja, meu Natal tava uma loucura. Dois Fernandos, dois Felipes e muita coisa pra acontecer.

ㅡ Que carinha é essa, hein meu amor? ㅡ perguntou Renata, se abaixando pra pegar a fralda melada de bosta da pequena Victoria, que tinha fugido pro terreiro minutos atrás.  ㅡ Num tá gostando da família toda unida?

ㅡ Num é isso não, Rê ㅡ falei rápido, sorrindo e balançando a cabeça, tentando me livrar da cena que não saia da minha mente por um segundo; Pedro com uma vara de pesca na mão e só um short tactel, ele provavelmente iria pegar enrolação. Eles precisam mesmo pescar tanto? Porra, já tinha o Perú. ㅡ São só… É besteira de viado.

ㅡ Dramático do jeito que você é… Fala logo, Rodrigo! ㅡ ela se aproximou, o rosto receptivo, mas assustadoramente autoritário. Renata se sentou na cadeira de plástico, a qual estava remendada e costurada por um arame enferrujado. ㅡ Aproveita enquanto o imprestável do Fernando tá com as meninas.

ㅡ Mas e as panelas?

ㅡ Relaxa que o Felipe tá de olho pra mãe não colocar uma concha de sal no feijão.

Eu ri, mas parei quando ela não me acompanhou. Renata estava séria como nunca tinha visto antes. Ela era do tipo que fazia piada de tudo, até mesmo no último parto, mas agora… Ela simplesmente me esperava, enquanto a única coisa que eu conseguia pensar era… O que eu faço?

ㅡ Vai falar hoje ou eu preciso marcar horário pra escutar o desabafo do meu próprio irmão?

ㅡ Não fresca ㅡ cuspi, rindo. ㅡ Eu me envolvi com um cafajeste que não sabia se gostava de rola ou boceta, ou oa dois, que seja! ㅡ me irritei. Cacete, eu até toparia um ménage, caralho, além de emocionado eu ainda era trouxa… É muita maldade, cara. ㅡ Agora a gente tá aqui prestes a comemorar o Natal, como namorados. Ele diz que não tem preocupações com o descobrimento da sexualidade, mas eu sei que as coisas não funcionam desse modo.

Ela me tocou no braço e me encarou com uma cara de pena, eu odiei isso.

ㅡ Vocês conversaram?

ㅡ Sobre o que? ㅡ Perguntei, aumentando a voz. Olhei pra fora da área do alpendre e vi o olhar curioso de Mainha, com metade do tronco pra fora da janela. Voltei a olhar Renata e me ajeitei na cadeira de plástico..ㅡ Tá tudo tão perfeito que eu tenho medo de estragar, de alguma forma.

ㅡ Você… Tu gostava mesmo desse menino e ele gosta de tu?

ㅡ Demais ㅡ divaguei, extasiado com tantas possibilidades. ㅡ Eu quero me casar com esse idiota.

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