Capítulo 30 - Irmandade, Doce & Lágrimas.

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Pedro Ícaro

Meus nervos já estavam no limite, minha alma estava em frangalhos e meus pés doendo pra cacete. Toda essa situação só servia pra trazer à tona feridas que nunca sararam realmente.

Eu não sabia o que fazer, tava sem chão num nível que nem respirar direito eu conseguia. Rodrigo tinha escolhido me foder. A raiva e a decepção me deixavam louco, ao ponto de querer socar ele até não sentir mais minha mão doer, mas... Era o Rodrigo. A porra do homem que fez eu aceitar minha não heterosexualidade na força do ódio, e o mesmo que agia como uma criança no corpo de um homem feito. Ele era doce, balanceava minha alma de velho ranzinza, e isso me deixava alegre pra dedéu.

Minha mente mandava eu ir atrás de Rodrigo pra socar a fuça dele, mas a droga do meu coração estúpido pedia pra correr até a casa dele só pra explicar que eu e a Amanda não estávamos prestes a foder.

Limpei o rosto, levando com a barra do moletom as lágrimas que deixavam minha cara molhada. Isadora tentou um sorriso, mas não rolou, ela desistiu e suspirou. Eu estava escorado na grade e sentado no banco de pedra. Minha irmã se sentou ao meu lado, imitando a mim, vendo os telhados das casas encosta abaixo.

ㅡ Não conte ao Rodrigo ㅡ pediu ela. Eu estranhei, por que eu contaria algo ao pau no cu do Rodrigo? ㅡ Mas acho que deve ir atrás dele.

Só podia ser piada.

ㅡ Como?

ㅡ Devia saber da versão dele ㅡ insistiu, batendo em meu ombro com o dela. ㅡ Sei que pode achar que nada pode justificar o que ele fez, mas... Rodrigo veio de baixo, de um lugar onde a gente nunca conheceu completamente. Se eu, que adoro todos os aspectos do dinheiro e do poder, vivia tentando acabar com os negócios da família... Imagina o que ele, que nunca sentiu isso, não pensava?

ㅡ Vocês são diferentes.

Eram? Talvez eu só tivesse caçando uma forma de escapar do que poderíamos ser, sem que no futuro eu me arrependesse. Eu era um covarde maldito.

ㅡ Exatamente. Se eu fosse um pouco mais forte, talvez tivesse acabado com tudo. E você não precisaria ficar de coração partido.

Fugi com os olhos pra imensidão do Crato. A vista da encosta do Seminário era sempre linda, mas de noite se superava. Isadora tinha dormido ali, e eu passei a noite em claro, andando entre o sofá e o portão do AP. Meu coração mandava eu ir atrás de Rodrigo, e minha mente mandava eu fugir de tudo isso. O problema era que eu queria ouvir os dois.

ㅡ Eu não...

Desisti quando notei seu olhar direcionado a mim.

ㅡ Sabemos que você e o Rodrigo ㅡ Isa começou, parando, segurando o ferro com força e inspirando fundo, suspirando e me olhando com cautela. ㅡ são bem mais do que sexo casual. Não sei se o odeio, ou se o amo por ter te feito lembrar de como era doce na infância.

ㅡ Eu vou vomitar ㅡ comentei, realmente enojado. Isa ria as minhas costas. Comentários engraçados podiam me livrar de uma intervenção. Isa sempre conseguia me convencer.

ㅡ Ainda dá pra consertar ㅡ disse ela, segurando meu ombro.

Meu sorriso murchou.

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