Rodrigo Andrelino
Ver o que eu vi ativou em mim o meu pior lado. Eu queria publicar a notícia que acabaria com os Martins, não pelos motivos certos, pelos quais usei para escrevê-la pra começo de conversa... A dor da traição me fazia pensar em tantas formas de me vingar, de me acabar com o meu pau dentro de qualquer pessoa próxima a Pedro Ícaro, até mesmo pensei em aceitar o ménage proposto por seus próprios pais, mas a julgar pela relação familiar dos Martins, essa jogada não seria tão baixa quanto o que eu queria.
Peguei o celular do bolso do short jeans com rasgos. Estava na praça da encosta do Seminário, estava ali a uns cinco minutos para ser sincero, meu coração pedia para esperar horas a fio para que Pedro Ícaro viesse até mim com suas desculpas ou seja lá o que meu peito descompassado quisesse.
Digitei o número de Júlia três vezes, a primeira, por conta das lágrimas, já as outras duas fora a falta de coragem que me apossou até que não pudesse nem mesmo respirar. Meus dedos tremiam e eu me sentia patético demais para alguém que se apaixonou pela pessoa errada.
Eu quis morrer.
Eu quis matar.
Não sabia o que queria. Pela deusa! Que indecisão maldita que me tirava o que já não tinha; o ar, a paciência, a vontade de minha própria existência.
Então era essa a dor da traição? Se fosse, como poderia Júlia ter aguentado tantas outras vezes? Sabia que minha amiga era tão forte, mas não a ponto de aguentar tantas rajadas mais quentes e frias que a de uma bala rasgando e queimando carne humana.
O celular estava chamando, não Pedro, não Ícaro, não qualquer outra versão maldita e doce que meu cérebro criou para uma pessoa que sequer merecia minha confiança, era a qual eu julgava sempre. Quem um dia eu chamei de irmã, rebaixada a melhor amiga, conhecida, agora só colega de casa, e em algum tempo, nem isso.
ㅡ Rodrigo?
ㅡ E-ele me tra-traio...
Eu chorava tanto que babava. Não cabia uma piadinha autodepreciativa, não quando o que eu sentia era tão doloroso.
ㅡ Nossa amigo. ㅡ Ouvi-a suspirar, estalar a língua no céu da boca. O próprio som de sua respiração do outro lado da linha me dizia tantas coisas. ㅡ Quer conversar mermo por celular, Rô?
Droga, ela falou Rô.
Respirei, com muita diculdade, muita mesmo, aspirei o catarro do nariz e suprimi a tosse seca, quase sentindo os olhos escapando do meu rosto.
ㅡ Eu não sei. ㅡ Desabei com a força de mil e cem demônios. Chorei, mas não tinha feito dessa forma desde minha primeira queda de bicicleta, lembrei-me disso só agora.
ㅡ Amigo respira. ㅡ Pediu. ㅡ Eu sei que dói, mas o que tu precisa agora é respirar! Viado respira bem devagar e solta. ㅡ fiz como ela pediu. Eu sugava e soprava, enquanto as lágrimas escorriam.ㅡ Isso, repete, repete e repete...
TERCEIRO ATO
Querido blog, hoje eu finalizei a notícia que traria ㅡ sim, o verbo está no passado do futuro ㅡ, justiça ao meu pai, mas não sei se quero fazê-lo por justiça, propriamente dita, ou se é por vingança. Pela primeira vez na vida eu pensei em deixar de mão e abandonar isso de trazer paz ao meu pai, porque, aqui entre nós, eu não acho que meu pai foi uma boa pessoa. Às vezes penso que, de onde veio o dinheiro que ele usou para financiar a casa, foi seu carma vindo tão rápido quanto o dinheiro do tráfico veio para seu bolso.
Pensei que iria engatar em um relacionamento sério, mas acabei sendo traído, nem sei se posso chamar de traição, a gente nem tinha nada sério. Meu peito tá ardendo tanto que tô seriamente pensando em publicar a notícia do ano.
22:23PM For Android.
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SUBVERSIVO | COMPLETO.
RomancePedro Ícaro é o filho de um grande empresário no ramo de terras, e como qualquer rico mimado, ele não consegue enxergar a realidade caótica que o Brasil se encontra, prestes a ser partido no meio. Já Rodrigo Andrelino é o oposto, alguém que luta con...