"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar."
— Machado de Assis, Ressurreição
Jadna Martins
31.03.2024
O tempo costuma passar mais rápido quando já não se tem o peso lhe sufocando. Eu poderia fazer tudo o que eu quisesse, mas ainda estava amarrada a trama de culpa que me amarrava no mesmo lugar desde que comecei com toda essa história de separação. Eu queria traçar meu próprio destino, talvez a preço de destruir a minha família para isso. No fim, tudo o que rondava minha cabeça era se realmente tinha valido a pena. Só o fato de tal indagação pairar em meio aos meus pensamentos, já me dizia claramente o que eu não queria ouvir ou aceitar.
Lembro perfeitamente de como eu fiquei tão satisfeita em descobrir toda a merda que Rodrigo estava escrevendo sobre minha família. A escrita do garoto era boa até, mas não tinha qualquer futuro, não tinha provas concretas, mas isso mudou no segundo em que passei o arquivo de seu celular para meu notebook. Naquela noite, Isadora estava tão louca que nem percebeu as horas em que passei com o celular de Rodrigo em minha posse.
Adicionei as contas bancárias em que recebíamos propina de vereadores da região do Cariri, era muito dinheiro para ser desconsiderado em uma possível investigação… O fato da conta ser em um país distante e que o dinheiro não era declarado na receita, era um prato cheio para pessoas curiosas, em específico a polícia federal. Envolvi o projeto de máfia do jogo-do-bicho da família Machado e minha obra prima estava finalizada.
No fim do mês eu pedi a separação. Eu e Ronaldo casamos com comunhão total de bens, as provas que apresentei me garantiu mais do que cinquenta por cento de todo seu patrimônio. Meu ex-marido foi preso, não por muito mais tempo do que alguns meses e está em prisão domiciliar. Até hoje eu escuto seus parabéns sobre minha jogada, eu sempre tento jogar a culpa em seus ombros.
O que eu não tinha calculado tinha sido a dor da culpa que iria me corroer por dentro nos meses seguintes.
Ver mês após mês Pedro Ícaro correr atrás de Rodrigo e nunca ter, de fato, uma chance para se explicar deixava uma sensação ruim em meu peito. Amanda estava fora do país com sua família esperando a poeira baixar. Eu tinha comprido com minha parte do combinado, já Rodrigo… Devo admitir, ainda ria às vezes de como Rodrigo tinha levado a culpa por tudo o que eu mesma havia arquitetado.
Ronaldo passou alguns bons meses presos, agora deve estar em alguma península da Europa em prisão domiciliar… Com apenas metade de todo patrimônio, mas era muito mais do que o pela-saco chegava a merecer.
No fim, eu e meu ex-marido acordamos uma parceria, diferentemente de quando éramos casados, éramos ao menos agora, sócios com poderes plenos e iguais. Eu ficaria em posse dos rumos do conglomerado de empresas em solo Brasileiro, enquanto ele cuidaria de todo o resto, o que era quase meio a meio. Eu finalmente tinha tudo o que sempre quis, mas… Porque ainda me sentia como refém em minhas próprias consequências de ações relapsas? Estava tão perdida quanto Iracema quando decidiu trair seus próprios princípios por um homem estranho… Rio, porque é muito irônico pensar na completa oposição a minha analogia regada a vinho e delírios de uma madrugada chuvosa.
A verdade que tentava a todo momento renegar, era de que estava sendo ainda mais patética do que todos que vinha manipul… Digo, guiando por onde meu querer bem pretendia.
Meus pecados eram como pedras amarradas em meu pescoço e eu me sentia fraca por sentir a tensão da corda grossa arranhando a pele.
Deus! Que infame malassombro.
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SUBVERSIVO | COMPLETO.
RomancePedro Ícaro é o filho de um grande empresário no ramo de terras, e como qualquer rico mimado, ele não consegue enxergar a realidade caótica que o Brasil se encontra, prestes a ser partido no meio. Já Rodrigo Andrelino é o oposto, alguém que luta con...