Capítulo 29 - Caos, Rose & Gucci.

46 4 0
                                    

Pedro Ícaro

Sabia bem que, se demorasse, Rodrigo inventaria alguma desculpa pra não me ouvir, igual as vezes que eu ia na sala dele pra falar com o professor de educação física, quando na real eu só tava indo dar uma sondada nele e nas amigas gostosas... Mais nele, confesso, mas nelas também. A questão é que ele sempre inventava moda só pra não falar comigo, o que me deixava irritado de verdade.

Eu pegava as chaves quando Isadora apareceu na porta do meu quarto. Duas visitas desavisadas estavam começando a me irritar, eu até tinha pensando em um ou outro comentário maldoso sobre carência, mas o olhar que ela me enviou não me permitiu fazer isso, no lugar de uma risada às custas dela, eu só recebi um leve tremor nas pernas e um frio do cacete subindo pelas costas. Que merda.

ㅡ Que cara é essa, Isa? ㅡ eu perguntei a ela, sentindo meu estômago se revirando em agonia congelada.

Minha irmã suspirou, coçou a sobrancelha micropigmentada e me olhou com a cabeça tombada pro lado. Só tinha visto ela assim quando veio me dizer que as gurias da escola dela tavam zoando ela, e eu como o melhor irmão existente, dei uma navalha pra ela. Foi a única vez que Isadora foi mais imatura que eu, por sorte ela não tinha puxado ao lado da mãe, igual a mim, ou teria arrancado os olhos das filhas da puta que viviam com o seu nome na boca.

ㅡ Desculpa, irmão. Eu sei que isso tudo com o Rodrigo não era uma piada.

Dei um passo, quase vacilando e caindo. Deixei as chaves em cima da cômoda marrom ao lado do guarda-roupa.

Isadora buscou por alguma coisa em sua bolsa, agoniada de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Ela achou, e tirou de dentro da Gucci branca o celular, desbloqueou com a digital e mostrou a tela com o brilho alto pra mim. Isadora não tinha percebido, mas tremia muito e eu não conseguia ver nada, exceto por linhas borradas no meio branco. Segurei firme o pulso dela, e mesmo assim não via.

Franzi o cenho e foquei, quase fechando os olhos de vez. Um texto que ia muito além das bordas do iPhone surgiu.

ㅡ O que é isso?

ㅡ É um dossiê reunindo algumas pessoas que o pai e a mãe ferraram no passado ㅡ disse Isadora, o rosto mergulhado em medo e apreensão, não do que poderia acontecer aos nossos pais, mas medo do que eu podia fazer. Pisquei algumas vezes, talvez se demorasse mais alguns segundos calado, Isadora me falasse que era uma pegadinha, mas seu rosto estava sério demais, e Isa não é uma boa mentirosa. ㅡ De alguma forma o Rodrigo conseguiu publicar isso e os números são... Não é brincadeira.

ㅡ Não podemos entrar com um processo? ㅡ pensei rápido, perguntando a ela. Não queria parar pra pensar, porque se eu ousasse fazer isso, tinha medo do que podia fazer.

Minha mente viajou até a noite em que eu reencontrei Rodrigo, ele não tava bem, longe disso, meu peito deu um leve tropeço e senti como se meu sangue fervesse. Um segundo eu tava quase tendo uma recaída, e no outro... O moleque que me deixava de pau duro no ensino médio tava me esculachando sem nenhum pingo de medo. Eu não tinha como fugir dele, das sensações, da agonia profunda e congelante que ardia mais do que fogueira de São João. Rodrigo tinha entrado na minha vida de novo e não me restava nada além de mergulhar de vez na toxina que me instigava pra cacete.

Naquela noite eu tinha brigado com Rogério e Amanda. Eu tinha combinado com eles muito antes, que ia pra um rolê em Barbalha, mas Rodrigo tava dormindo em meu colo, e tinha, mesmo que inconsciente me livrado de uma recaída na cocaína, eu devia a ele. Ao menos preferia pensar assim, a aceitar de cara que eu só gostava de ver como ele dormia tão calmo. Pedi pra Rogério me deixar em casa, Amanda ficou puta comigo na hora, mas a única coisa que eu tinha dito foi um "boa noite" e um "obrigado". Saí do carro com Rodrigo com um pé no coma alcoólico e um pé na sobriedade.

SUBVERSIVO | COMPLETO.Onde histórias criam vida. Descubra agora