Pedro Ícaro é o filho de um grande empresário no ramo de terras, e como qualquer rico mimado, ele não consegue enxergar a realidade caótica que o Brasil se encontra, prestes a ser partido no meio. Já Rodrigo Andrelino é o oposto, alguém que luta con...
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Rodrigo Andrelino
Meu pai sempre foi muito esperto, e malandro, não era atoa que ele só frequentava gira de esquerda. Os conselhos eram bons, e eu só percebi que não eram para o meu eu de 8 anos, mas para agora. Ele sempre dizia ㅡ depois de beber além da conta ㅡ, "Só vence a guerra quem não se acovarda diante da luta", não entendia bem, mas devo admitir que tinha transformado o sentido ao meu bel prazer. Entendi o que queria entender, e só.
Tinha trocado de blusa cinco vezes em menos de um minuto e ainda me sentia desarrumado. Eu precisava de um banho de loja o mais rápido possível, o que me faltava era o de menos, o dinheiro.
Júlia apareceu com o cabelo parecendo um ninho de passarinhos. Parecia que duas rolinhas tinham feito a cabeça dela de morada. Bem feito, eu tinha avisado umas trezentas vezes pra ela não fazer luzes no cabelo quando não tinha nem dois meses que tinha pintado de vermelho cereja e depois pro preto azulado, ai agora tava assim. Nem uma prancha e escova resolvia o problema.
Passei perfume nos pulsos e dentro do colarinho. Geralmente passava no pescoço e atrás das orelhas, mas por um segundo eu pensei que não gostaria de beijar alguém e vir o gosto de perfume na minha língua, mas eu não tava indo ser beijado.
ㅡ Vai sair?
ㅡ Preciso ir em Juazeiro pegar meu celular.
Ela me olhou sugestiva. Sorria de lado.
Eu não merecia isso. Não mesmo.
ㅡ A noite foi boa assim?
ㅡ N-não! ㅡ tentei ser firme, mas ela me olhou de lado. ㅡ Sim. Homi, eu só preciso ir lá e voltar, é rapidinho.
Júlia riu. E depois o sorriso sumiu, parecia ter se lembrado de algo, normalmente eu não deixaria isso passar, mas queria tá de volta em casa antes das 21:00. Precisava pegar o ônibus das 19:00.
ㅡ Quando você voltar a gente precisa ter uma conversa ㅡ o tom que Júlia usou não era característico dela, mas sempre que usava vinha algo pesado pra acabar de vez com a minha sanidade que andava no limite com a pressão pra conseguir um estágio.
Meu rosto se retorceu enquanto eu mal conseguia respirar. A posição que tinha escolhido pra calçar o All Star falsificado, me impedia de respirar normalmente e o nervosismo não estava me ajudando em nada.
Me levantei depois de calçado e caminhei até a mesinha que ficava meu altar e as velas coloridas, olhei pra blusa do Palmeiras com o nome grande "Pedro Ícaro", número 9. Se eu ia pegar meu celular, por que não levar a blusa dele? Não. Era minha a partir de agora.
