Capítulo 18 - Copos-de-leites.

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"A ocasião faz o homem.” 
ㅡ José de Alencar.


Pedro Ícaro

Tava com raiva de Deus e o mundo. O gosto amargo não largava da minha língua nem com reza braba. Já tava começando a imaginar que tinham feito um trabalho pesado pra cima de mim, mas dispensei essa teoria quando entrei no Instagram e vi os três últimos post feitos por Rodrigo. Eram uma série de três fotos em cada post, em todos ele parecia muito feliz, enquanto eu me sentia um merda por ter mentido pra ele. 

Cansei de esperar que o universo ou seja lá o que comandasse minha vida ditasse como e quando eu iria ver Rodrigo novamente. Tava mais que decidido a criar a ocasião, nem que fosse na marra mesmo.

Não foi difícil fazer amizade com o povinho do curso de jornalismo e principalmente da atlética deles, um sorriso aqui e um flerte levinho ali, puff, já tinha o endereço de Rodrigo. Acabei encontrando até o Felipe, primo de Rodrigo e uma peça! Aquele moleque era responsa nas maquiagens que fazia. Tinha me empenhado ao ponto de saber seu tipo sanguíneo e seu signo celta, mas eu que num ia piar isso pro maldito.

Fiquei assustado pelo quanto Rodrigo Andrelino tinha domínio sobre mim. Nunca tinha vivido algo sequer parecido com isso tudo, mesmo nessa situação angustiante, meu pau pedia por sua atenção, todo meu corpo. Não gostava de pensar muito, mas acho que não era apenas meu corpinho delicioso que queria o seu.

•••

Bati dez vezes seguidas. Qualquer pessoa em sã consciência do outro lado da porta esconderia qualquer coisa comprometedora ao pensar que se travava dos homi, então nesse cenário criado pela angústia que comia os meus últimos neurônios, não pretendi derrubar a porta de Rodrigo.

Quando ouvi passos senti meu cu trancar e não passava nem um fio de linha. Cacete. Cacete. Cacete. Cacete. Cacete. Cacete.

A porta se abriu e o olhar de Rodrigo veio até mim, as rugas ficando evidente a cada nanosegundo por conta da decepção. Seu olhar fugaz se dividiu entre meu rosto e o buquê que eu carregava. Eram copos-de-leites, tinha visto em um dos seus destaques do perfil no Instagram.

ㅡ Eu tenho alergia ao pólen. ㅡ disse seco. Era uma mentira descarada.

Ergui as sobrancelhas, sem conseguir sacar se era sarcasmo, verdade ou só ódio da minha fuça.

ㅡ Ué, uma rosa dessas com alergia a copos-de-leite? ㅡ sorri de lado.

Rodrigo só revirou os olhos e bufou, provavelmente cansado demais pra lidar comigo no momento.

ㅡ Esse papinho funciona mesmo, macho?

Macho? Cadê o docinho, caralho? Não mané, isso não ia ficar assim de jeito maneira. Num era possível um ultraje desse tipo.

ㅡ Espero que funcione com você, amorzinho. 

Mais um revirar de olhos. Porra, se a gente continuasse desse jeito ele iria acabar ficando vesgo, papo reto.

ㅡ Eu vim pedir desculpas pela mentira e o show de horrores do jantar com meus país.

Ele deu de ombros.

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