Enquanto Rafael atravessava os corredores da instituição socioeducativa, mergulhado nas complexidades de suas sessões de aconselhamento e terapia, além dos compromissos voluntários, sua jornada rumo à reinserção social se desenrolava. Cada passo era uma batalha, mas também uma oportunidade para o arrependimento.
No programa de intervenção comportamental, Rafael se viu confrontando suas próprias sombras. Era ali que ele encarava seus demônios interiores, lutando para domá-los, enquanto buscava construir uma ponte para uma vida mais equilibrada e construtiva. Cada encontro, cada exercício, cada conversa, era um tijolo na edificação de um novo eu, mais resiliente e consciente.
Enquanto isso, Verônica se via envolta em uma teia de preocupações cada vez mais densa. O estresse de lidar com as vicissitudes da vida de Rafael já era suficiente, mas agora uma nova ameaça pairava sobre ela: Cláudio Brandão, o nome que só de ser pronunciado causava arrepios na espinha de qualquer um. O serial killer, após demonstrar "bom comportamento", havia conquistado o direito ao regime aberto.
"Eu não acredito" - murmurou Verônica, seu rosto franzido de indignação enquanto suas mãos batiam impacientes na mesa.
"O que aconteceu?" - indagou Nelson, seus olhos se arregalando diante da tensão no ar.
"O Carvana me contou que Brandão conseguiu regime aberto." - relatou Verônica, sua voz carregada de incredulidade.
"Puta merda Verônica..." - Nelson soltou um palavrão, incapaz de conter sua surpresa e preocupação.
"É isso mesmo" - concordou Verônica, sacudindo a cabeça em descrença.
"Você acha que..." - Nelson começou, mas foi interrompido bruscamente.
"Com certeza, Nelson" - afirmou Verônica com determinação. "Ele me encarou nos olhos e jurou que acabaria com a minha vida e a daqueles que amo."
"Escrivã!" - A voz de Anita rompeu o silêncio, ecoando pelo corredor enquanto ela chamava Verônica, agitando os dedos impacientemente.
Verônica lançou um olhar resignado para Nelson, uma mistura de urgência e desânimo, antes de se levantar e se dirigir para a sala da delegada, deixando para trás um Nelson preocupado e impotente em sua mesa.
"Pela sua reação, já deve estar sabendo que o Brandão..." - começou Anita, mas antes que pudesse concluir, Verônica bufou com evidente frustração.
"Ele vai querer se vingar. Jurou isso quando o prendemos..." - Verônica falou, seu tom carregado de preocupação.
"Meu amor..." - Anita se aproximou, delicadamente colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha da escrivã. "Ele não vai fazer nada..."
"Como pode garantir?" - Verônica a encarou desafiadoramente. "Você não tem ideia do que aquele homem é capaz, Berlinger..." - sua voz carregada de seriedade. "Ele fez aquilo com a própria esposa, imagine o que faria comigo ou com meus filhos..."
"Ele não vai tocar na Lila, eu te asseguro" - respondeu Anita, com firmeza. "Você a leva e eu a busco na escola todos os dias, é impossível que ele faça algo com ela."
"Você está certa, meu bem" - Verônica se acalmou. "Mas ainda tenho medo do que ele é capaz, especialmente quando envolve a Lila e o Rafa..."
Anita parecia ignorar todas as menções de Verônica a Rafael, como se o garoto não fizesse parte do universo delas. Verônica já havia percebido isso e compreendia os motivos de Anita para focar apenas em Lila, especialmente considerando o histórico de Rafael, que havia tentado tirar a vida dela.
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Consequências - Veronita
General FictionRafael Torres, 16 anos, diagnosticado com transtorno de conduta, cujos sintomas surgiram na infância. Seus comportamentos inquietos e a aparente frieza calculista geram preocupações tanto em sua família quanto nos profissionais de saúde mental. Apes...