Capítulo 44: Leve e segura

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Confesso que não acreditei em Alícia e Luke quando disseram que “correu tudo bem”. Eu podia sentir a tensão deles, e o esforço que faziam para esconder seus medos em suas armaduras, e isso só aumentou meu receio. Falar do passado é difícil, mas sei que é necessário. Porém, ao ver Andrew deixar a sala sorridente e descontraído, relaxou meus pensamentos conturbados, e eu pude ver o mesmo alívio nos olhos de Kara.
Saber que ao menos um de nós estava bem, esvaiu minha ansiedade, provando o quanto somos diferentes mesmo com tantas semelhanças, pois sempre pensei que Andrew daria mais trabalho, mas agora vejo que me enganei.

— Nervosas?

Kelly perguntou, assim que Kara e eu entramos no escritório e nos acomodamos nas poltronas. Nossos pequenos ficaram sozinhos por alguns minutos, pois minha esposa e eu decidimos fazer a sessão juntas. Eu gosto de tê-la por perto, sua presença me transmite conforto e segurança.

— Talvez um pouco… Ou, bastante…

Kara respondeu, sua voz em um misto de afirmação e dúvida. Ela está tão nervosa quanto eu.

— Okay. Vamos usar a mesma técnica que usei com Andrew. Inspirando pelo nariz, e expirando pela boca.

Seguimos rapidamente as instruções de Kelly, e em questão de segundos, já nos sentíamos mais relaxadas.

— Não quero que vejam isso como um simples momento para contar seus problemas e frustrações. Quero que vejam esse momento como uma conversa entre amigas, regada por confissões descontraídas e pequenas risadas reconfortantes!

Kelly indicou, fazendo uma pequena pausa antes de prosseguir:

— Vamos iniciar perguntando como se sentem nesse momento. Kara, você começa!

Minha loirinha pensou no que dizer por alguns segundos. Sua respiração tranquila não camuflou suas mãos trêmulas.

— Sinceramente, estou me sentindo bastante ansiosa. Parece que minha mente não para, sempre pensando no pior cenário possível.

Ela finalmente falou, pondo em palavras os meus pensamentos...

— Lena. Sua vez!

Kelly disse, tirando o olhar de Kara e depositando em mim.

— Eu também estou assim. Tenho um aperto no peito o tempo todo e não consigo me concentrar no trabalho.
Desabafei, recebendo o olhar preocupado de Kara sobre mim.

— Entendo. A ansiedade pode ser muito desgastante. Vamos tentar entender melhor esses sentimentos. Kara, você mencionou que está sempre pensando no pior cenário. Pode me dar um exemplo recente?

Kelly voltou-se para minha esposa…

— Eu me culpo por não estar lá, no dia que meu filho foi sequestrado pelo pai dele, e isso me assombra todos os dias, me deixando nervosa e aflita a cada despedida com as crianças!

Pousei minha atenção em Kara enquanto ela desabafava, me perguntando como nunca percebi que ela se culpa por isso?

— Antes de tudo, precisamos estabelecer uma regra para vocês.

Kelly se pronunciou…

— Saber seus limites e até onde deve explorá-los é muito importante. Você fez o que pôde, e ninguém poderia imaginar que Jack sequestraria o próprio filho!

Ela concluiu…

— Eu sei, mas isso não parece suficiente!

Kara sussurrou, tristonha e com o olhar perdido.

— O processo é lento, mas tudo vai se encaixar se você se deixar envolver, Kara. E entender que é normal errar ou ter medo. Isso não te faz uma mãe ruim ou desatenta!

• A propósito, sou sua! - KarLenaOnde histórias criam vida. Descubra agora