SETE

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 – O que você está vendo? – Odete perguntou depois de insistir para que Enzo a acompanhasse para o pátio do colégio após deixar o filho na sala.

– Estou vendo o lugar onde as crianças brincam no recreio. – Ele se aproximou dos três balanços que pendiam de uma viga sustentada por quatro estacas de madeira, duas convergindo para cada ponta. – É legal, mas o que tem a ver comigo?

– Bom, vou dizer o que eu vejo, mas antes tenho que explicar o que eu vi. Ontem, entrei na sala do seu filho e me deparei com o mural de desenhos da turma. Dava para ver claramente quais eram os dele.

– Dava? Vinícius disse que tentaria desenhar como os colegas.

– E tentou. Mas deve haver um significado quando você tenta imitar garranchos de jardim de infância e produz um resultado tão bom que incomoda. É isso o que eu vejo agora: o talento do garoto não pode ser contido. Ele pode ajudar as pessoas.

– Ajudar, é? – Enzo se sentou no balanço e esticou as pernas. – Acho que já tivemos essa conversa antes.

Odete segurou na corrente.

– E não vamos mudar nada do que foi dito. Seu filho não terá atenções indesejadas sobre si, mas sua arte pode ser valiosa para as pessoas.

Enzo olhou para cima.

– A que se refere?

– Estou me referindo à escola e aos alunos. Como deve saber, estamos planejando uma campanha de arrecadação de fundos para algumas famílias que sofreram com o furacão e não podemos esquecer nosso ambiente de convivência. Consertamos a maior parte das avarias causadas pela tempestade, mas proporcionar um ambiente mais bonito também faz parte da restauração e do cuidado que temos com nossas crianças. Elas precisam ser inspiradas para ter esperança. Então, seria maravilhoso se seu filho enfeitasse o colégio com os desenhos.

– Você quer que ele desenhe nas paredes?

– Só no pátio. Estamos repondo a tinta nas outras partes, mas aqui pensei que seria interessante uma decoração mais chamativa, por ser o lugar favorito e mais frequentado de nossas estrelinhas. O que você diz?

Ignorando os olhos ansiosos de Odete sobre ele, Enzo olhou para os brinquedos do playground e para os cata-ventos, arbustos e nuvens que ilustravam as paredes ao redor.

– Parece muita coisa. Não é uma página de caderno.

– Ele não vai se cansar, garanto. Ele pode fazer os esboços e no dia seguinte pintores profissionais preenchem de tinta. Eles já estarão aqui para pintar as outras paredes.

Enzo hesitou em silêncio, flexionando um pouco os joelhos e se balançando suavemente.

– Se for questão de dinheiro, eu posso pagar...

– Não! – Ele se apressou. – Não é isso. Acha mesmo que vai ser importante para as crianças?

– Não tenho dúvida.

– Eu tenho que conversar com o Vinícius. Prometo dar a resposta hoje.

– Se quiser vir tomar um café na minha sala enquanto pensa no assunto, pode vir.

– Obrigado, mas gostaria de ficar um pouco aqui, se não for inconveniente.

– Claro que não. A casa é sua. Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar. – Odete se afastou, pisando leve no piso do pátio. A empolgação dela era visível mesmo de costas.

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