DEZESSETE

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– Ele está melhorando?

– Não. – A mulher, com a cabeça de Guto apoiada em suas pernas, passou a mão no rosto dele. – Ainda não acordou.

O carro já percorria a rua do Colégio Compostela. Virou à direita e ouviram um barulho de derrapagem, embora não tivesse sido um movimento brusco.

– Estamos indo aonde?

– Não temos como deixar o menino na escola desse jeito – disse Enzo. – Ele precisa de uma avaliação médica.

Percorreram algumas quadras, com pausas nos sinais fechados, e em poucos minutos visualizaram um prédio reluzente, semelhante a um bloco de mármore com rampas e uma ambulância parada ao lado.

– Vamos levá-lo. – Enzo tirou o cinto. – Vai ficar aqui, amigão?

Vinícius se encolheu no banco, ao lado dos pés de Guto. Não era um entusiasta da ideia de entrar em um hospital de novo.

– Está bem. Fique no carro. Eu já volto.

Enzo e a babá saíram do carro, levando Guto, e sumiram além das portas de vidro. Pouco depois, o primeiro estava caminhando de volta ao carro e se sentando novamente no banco do motorista.

– E o Guto? – perguntou Vinícius.

– O médico o atendeu. – O pai tirou o telefone do bolso e procurou por um número na agenda. Houve toques, sinalizando chamadas, e a voz da diretora apareceu do outro lado da linha.

– Alô? Enzo?

– Alô, Dona Odete. Estou ligando para informar um atraso.

– Vinícius também? – Ela se alarmou. – Como ele está?

– Meu filho está ótimo. Quem não parece estar muito bem é um colega dele que encontramos no caminho da escola. Nós o trouxemos para o hospital. Mas o que a senhora quis dizer por também? Está acontecendo alguma coisa?

– Os pais dos alunos da turma do Vinícius estão ligando para dizer que os filhos não poderão vir. As crianças estão paralisadas. Algumas acordaram assim. Não reagem a nada.

Enzo ficou calado por um momento, absorvendo as palavras.

– Sabe me dizer o que estavam vendo quando paralisaram?

– Não. Ninguém sabe por que ficaram assim. A professora Daniela vai ter que suspender a aula. Alô? Você ainda está aí?

– Estou. Desculpe. É que me ocorreu uma coisa agora. Vou ter que desligar. Qualquer coisa me avise, está bem? Por favor!

– Aviso, sim. Um beijo para você e para Vinícius.

Ele afastou o telefone da orelha e ligou para outro número. Ficou rígido no banco e parecia prender a respiração enquanto a chamada não era atendida.

– Alô?

– Cristina! – Enzo liberou um pouco a tensão dos ombros. – Onde você está?

– Na cama de um dos quartos da família Castilho. – A voz ainda estava rouca e sonolenta. – O que houve?

– Bem... Como se sente?

– Não sei. Acabei de acordar... – Ela deu um suspiro.

– Tudo bem?

– Sim. Só fui me levantar e percebi que estou um pouco tonta.

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