Bloody sea

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Abra os olhos

Me engasgo com a água salgada, que me faz acordar perdido em uma praia vasta, escura, sendo banhada pela luz da Lua, que se parecia se esconder por trás de uma nuvem fina. A costa de areia estava logo ali, me esforço para alcança-la, como se fosse o meu maior objetivo em toda a minha vida, meu corpo estava ardendo muito, quando lembro de checa-los, me assusto com o sangue escorrendo de meus braços, eram cortes não tão profundos, mas pintados pelo meu sangue vermelho escuro, que queimavam como fogo mesmo sendo limpo pela água, por conta dos sais aquilo agonizava.

Tossindo, com a água que invadia minha boca sem minha permissão, sou arremessado contra a areia, mas puxado de volta para o mar por conta das ondas revoltas.

A lua observava tudo aquilo de forma silenciosa, talvez tudo aquilo fosse culpa dela.

Não me culpe pela maldade humana.

Em momentos assim eu desejava ser uma estrela, assim como sempre desejei quando criança, elas não eram tão chamativas como a lua, eu também não queria ser uma das maiores como o sol, ou como as que mais brilhavam no céu, eu queria ser aquela que você só nota ao observar cuidadosamente o céu escuro, aquela que brilha de forma leve, que não quer chamar atenção, ela apenas quer fazer parte do amontoado de estrelas no céu.

Estrelas chamativas.

Eu choro, tirando o sangue que escorrida de minha pele, ainda sendo jogado para lá e para cá dentro da água, com o corpo fraco, te avisto de longe, de costas para mim como em todo sonho

Seus cabelos dançavam com o vento, seu vestido branco agora estava sujo de algumas manchas de sangue, seus pés descalços agora também estavam sujos e levemente machucados pelas pequenas pedras e cacos de vidro deixados na areia.

Eu clamo por sua ajuda.

Eomma!

Grito.

Por quê você não esteve lá para me ajudar? Assim como me ajudou em meus primeiros passos? Assim como me ajudou a morrer nos braços alheios. Eu estou morto? Você está morta?

Você está morta?

Em um piscar de olhos você desaparece, como sempre, engraçado, não? Por favor me ajude.

Dessa vez consigo escapar do emaranhado do oceano, que decidiu descartar um resto de poluição naquela areia fina, que colava na minha pele e em meus cortes, gemendo de dor, tudo piora quando um estrondo ecoa, nuvens enormes se formam, resultando em uma tempestade, selvagem.

Raios iluminava o céu de forma aleatória, me fazendo tremer ao escutar seus barulhos nada discretos, ainda chorando cubro meus ouvidos, você esteve lá para cobrir meus ouvidos?

- onde está você? - eu limpo meus braços, notando os cortes desaparecerem.

- por quê me deixou aqui? Oque eu fiz pra você? - soluçando, perdido diante do caos, aquele caos era nada mais nada menos que minha mente, lotada de tudo que mais odeio.

Abandono, tempestades, sangue...

- por quê?! - suplico em minha língua nativa, talvez assim ela me escutasse se quer uma vez.

O vento secava aos poucos o meu cabelo, mas não secava minhas lágrimas que pareciam nunca cessar.

Me pergunto diversas vezes ao dia, sem me cansar, oque te fez me deixar sozinho? Eu estive sozinho? Chenle está sozinho? Quem está com ele? Eu poderia passar horas em um telefonema, apenas contando-lhe tudo oque aconteceu perante esse meio tempo em que esteve ausente, me ensine seus passos, seu jeito harmônico de se movimentar, você é um cisne branco ou Negro?
Me diga oque Há de errado em mim, por quê não posso ser amado igual a todas as crianças do colégio? Oque tem de errado com minha língua? Eu posso corta-la fora? Eu sou uma pessoa ruim?

Me deixe longe de sapos, por favor, eu tenho medo.

Chenle ainda seguraria minha mão da mesma forma que antes? Ele sentirá medo de mim? Lhe abraçar mesmo banhado de sangue sujo, tentar lhe acalmar mesmo estando no meio de um inferno, seus erros de fala, seu desespero, apenas uma criança.

Eu também era uma criança.

- Winwin! -

Alguém grita meu nome, eu levanto a cabeça vendo alguém de rosto borrado sentar-se a minha frente. Dominado pela apatia, pela melancolia profunda, eu lhe encaro, tentando decifrar seus trejeitos, reconhecer o desconhecido.

- acorde! - ele pede, segurando meus ombros.

- acorde! - os trovões aumentam, o maré sobe, já cobrindo minhas pernas cruzadas, cobrindo os joelhos de quem tomava minha frente. - abra seus olhos! - ele insiste, eu sinto o mesmo me abraçar, mas aquele abraço desaparece, me deixando sozinho novamente.

- vagalumes espaciais que vagam pelo vasto universo tendem a viver mais. - ouço sua doce voz, tão ingênuo...

- Chenle seria Vênus, o planeta do amor, Winwin seria um cometa! - ele diz - por quê um cometa? - pergunto. - por quê ele é lindo! Mas desaparece em poucos minutos. - brilhante, ele diz, levantando e correndo, seguindo a trilha que levava a uma colina, desaparecendo em poucos minutos também.

- todos nós iremos morrer. -

Digo, vendo-o voltar com capa de chuva. - está chovendo! Vamos tomar banho de chuva! - ele diz, correndo e pulando mas pequenas ondas. - cuidado! - grito me levantando desengonçado, ao vê-lo cair, indo até o mesmo e ajudando o pequeno a levantar - para de se bobo! Vamos brincar na chuva! - o menor diz se soltando de meus braços - medroso! - ele ri.

- eu sou medroso? - pergunto - sim, você é! Você foge de algo que é incapaz de esquecer, pra falar a verdade você nunca fugiu, você sempre esteve preso em marcha ré, voltando seus passos para trás ao invés de ir para frente, você tem medo do futuro por que tem medo de ser pior do que o seu passado! - a criança diz - oque você quer ser quando crescer? - ela pergunta, ainda molhando os pés na água. - eu quero ser... - tento verbalizar - você não sabe! Por que nunca parou pra pensar nisso pois está preso das ruínas do passado, na sua infância perdida, você quer ser um veterinário? Um médico? Um juíz? Você quer estar morto, você quer ser uma estrela, daquelas que menos brilham no céu, você tem medo de chamar a atenção por que liga demais para oque os outros pensam, outras estrelas irão te deixar cego. - o pequeno chenle continua a falar, e eu permaneço no mesmo lugar, repensando em casa palavra que o garoto jogava em minha cara. - você é tão medroso, você é medroso por que ainda é uma criança perdida, no fundo ela ainda está viva ai dentro, não teve tempo o suficiente para crescer, nem se desenvolver, tem medo de tempestades por que nunca teve ninguém para lhe proteger de uma. -

Você ainda é uma criança.

Acorde!

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