Cap. II

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Rodolffo Mateus

Recife, 20 de Agosto de 2020

Hoje é o meu 30° aniversário.  Combinei de sair com uns amigos para comemorar, mas confesso que não tenho muita vontade.

Deixei o gabinete de engenharia após o expediente e fui para casa.  Faz 5 anos que me mudei da casa dos meus pais.  Eles não queriam, mas era hora.  Hora de dizer basta e viver a minha vida.

Há muito que meu pai tinha traçado o meu destino.   O curso de engenharia e um casamento arranjado.  Creio que ainda era adolescente quando ele me "casou" com a filha de um amigo endinheirado.

O curso eu pude escolher, já o casamento...

Conheci Juliette na Universidade.  Ela cursava direito e logo nos apaixonámos.  Além disso ela ainda trabalhava na empresa de meu pai que quando descobriu,  simplesmente a despediu.

Eu protestei e ele ameaçou  deserdar-me e expulsar-me de casa.

Sempre fui mimado.  Nunca senti falta de nada.  O que queria eu tinha.
Pedi-lhe um tempo, mas ela não aceitou.  Simplesmente desapareceu sem deixar rasto.

Sofri muito com a falta dela.  Meu pai dizia que passava e que era para focar nos estudos.  Assim que terminasse o curso, o casamento saía.

Terminei o curso e no dia seguinte saí de casa dos meus pais.  Já tinha conseguido trabalho e aluguei uma casa só para mim.

Da minha suposta noiva, nunca vi nem sei quem é.  O meu pai está até hoje sem me falar.  Falo com a minha mãe mas muito pouco.

Hoje é meu aniversário. Recebi uma mensagem dela, algumas de amigos, mas tem uma seguidora de Portugal que me manda mensagens muito carinhosas.  Pela foto é bem novinha, uma criança diria eu, nas não dá para saber.  A sua conta é privada.

Hoje como não podia deixar de ser lá estava a mensagem.

Hoje é o teu dia.  E quando será o nosso?  Queria dar-te um beijinho de parabéns,  mas eu sei que um dia vai acontecer.  Um dia havemos de dar risadas juntos, fazer passeios juntos.

Desejo-te um dia muito feliz
Um beijo grande

Madu

Queria tanto saber quem é esta pessoa.  Na foto tem o mesmo jeito da Juliette.   Os mesmos traços no rosto,  o cabelo idêntico.

Pensei nela.  Talvez a foto seja dela criança.  Não.   Acho que se fosse ela já se tinha identificado.

Nunca a esqueci.  Nunca tive outra.  Até tentei, mas na primeira saída desistia logo.  Tudo me lembra ela.  Meu pai diz que ela só estava à espera de se dar bem e esse era o motivo das nossas brigas.

Desliguei o telemóvel e fui ter com os meus amigos.  O encontro era num bar e a maioria já lá estava.

Fazia tanto tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora