Juliette saiu do carro e correu para a filha. Rodolffo seguiu atrás.
De novo ouviu-se outro disparo. Rodolffo correu para a entrada do barraco, mas impedido pela polícia que entretanto chegara.
...
Depois de ligar à mãe Rodolffo e Juliette ficaram desesperados sem noção de onde procurar.
- Pensa no que o teu pai costuma fazer. Onde costuma ir ou com quem, Rodolffo! Acha a minha filha por favor.
- Nossa filha, Juliette. Porque a deixaste ir comprar o sorvete sózinha? Tínhamos combinado.
Faz anos que eu não sei dos passos do meu pai.- Maldita hora que eu decidi vir para cá. Malditos sejam todos gritava Juliette.
- Não adianta esse desespero. Vamos encontrá-la.
- Onde Rodolffo? E como?
Rodaram e rodaram até finalmente o telefone tocar.
- É o telefone dele.
- Atende, Rodolffo, rápido.
Atendi o telefone e falei com a minha filha, mas desconfiei da calma dele. Não é possível uma pessoa mudar de uma hora para a outra.
Liguei à polícia e dei a localização do barraco.- Amanhã mesmo eu pego a minha filha e regresso a Lisboa. Nunca mais piso aqui. Deus permita que ela esteja bem.
- Não é assim, Juliette. E eu? Não conto?
- Neste momento só conta a Madu. O resto que se exploda.
Resolvi não dizer mais nada. Estávamos quase a chegar.
...
Mateus e Rebeca pais de Rodolffo sempre foram um casal dito normal.
Não sendo ricos tinham uma vida desafogada o que permitia dar ao único filho o suficiente para que não tivesse que trabalhar.
Ambicioso, Mateus, estava de olho na fortuna do primo e sonhava casar as duas crianças. Dizia que a fortuna assim nunca se desviaria.
Mas o destino trocou-lhe as voltas e apareceu uma Juliette na vida de Rodolffo para estragar o esquema do velho, que com ameaças conseguiu separá-los e que ela fosse embora.
Certo de que o seu plano tinha dado certo, esperou Rodolffo terminar a licenciatura e quando foi confrontado com a saída do filho de casa fez o maior escândalo.
Rodolffo não se acobardou desta vez. Já o tinha feito lá atrás e muito se tinha arrependido. Virou costas aos pais e foi viver a sua vida.
Depois daquele dia a vida de Mateus e Rebeca nunca mais foi a mesma. Mateus tornou-se agressivo com a esposa e para piorar foi diagnosticado com leucemia.
Proibiu a mulher de contar ao filho. Dizia não precisar da pena dele. Ela vivia com medo, mas perante esta doença não teve coragem de o deixar sózinho, mas também nunca contou.
Hoje de manhã o marido saiu cedo. Rodolffo chegou logo de seguida. Conversou com ele e alertou-o. Após a partida de Rodolffo, Mateus entrou de novo e Rebeca viu ele pegar a chave do barraco.
- Onde vais?
- É hoje que tudo termina, disse ele com sangue nos olhos. O que é que ele veio aqui fazer?
- Veio ver-me, só.
Rebeca após o marido sair, saiu também. Pegou a motinha eléctrica que há muito Rodolffo lhe tinha oferecido e dirigiu-se ao barraco.
Entrou por um buraco nas traseiras, escondeu-se atrás de um monte de madeira velha e esperou. Sabia que ele ia aparecer.
Algum tempo depois ouviu o motor de um carro e alguém abrir a porta.Quando ouviu a voz de uma criança soube logo tratar-se da neta. Estranhou a conversa deles. Não lhe pareceu haver tanta agressividade na voz dele. Não entendeu o plano.
Quando ele tossiu e desmaiou ela não percebeu. De onde estava não os via, apenas ouvia. Rebeca estava feliz por ouvir a neta falar.
Quando ele ligou ao filho, entendeu tudo. Queria atraí-los para ali. Ali teria a família toda.
Ouviu chegar outros carros e ele mandar a neta sair. Respirou aliviada, mas logo o ouviu dizer:
- Vai ter com eles fedelha. Assim apanho os três de uma vez.
Rebeca ouviu ele engatilhar a arma, saiu do esconderijo com um pedaço de pau e desferiu-lhe uma paulada na cabeça. Mateus que estava sentado, caiu para o lado largando a arma que Rebeca pegou e sem pensar duas vezes apontou à cabeça dele.
- Já fizeste muito mal. Deixa o meu filho ser feliz.
Disparou e Mateus morreu no mesmo instante. Depois virou a arma para si e disparou de novo.