Ouvi o segundo tiro e corri para a entrada do barraco, mas a polícia não permitiu que eu entrasse.
- Fique aqui, disseram.
Com cautela eles entraram.
- São dois. Um homem e uma mulher ouvi um deles dizer.
- Não me contive e entrei. Minha mãe ainda respirava, já meu pai jazia ali de lado com um buraco na cabeça.
- Mãe! Porquê?
- Ele ia matar os três disse ela. Eu não ia deixar.
- Mas tu...
- Adeus, filho. Tenta perdoar-me. Fiz por amor a ti.
- Eu sei mãe. Não fales. Já vem uma ambulância.
- Não adianta, Rodolffo. Chegou a minha hora e eu vou em paz comigo por permitir que sejas feliz com a tua família. A tua menina é muito especial.
- Vais conhecê-la, mãe.
- Adeus, meu filho.
Rodolffo abraçava a mãe e sentiu-a desfalecer. Chorava e chamava por ela.
- Já não há nada a fazer. Vá ter com a sua família e leve-os para casa.
Rodolffo chegou perto de Juliette. Madu abraçou-o e ele mandou as duas para casa.
- Leva a Madu. Eu vou depois disto terminar.
- Rodolffo, houve dois tiros.
- A minha mãe, Juliette.
Elas foram embora e Rodolffo voltou para junto dos policiais. Era necessário esperar pela retirada dos corpos e isso ainda ia demorar.
Em casa, Madu questionava a mãe sobre os tiros.
- Eu acho que o teu avô se arrependeu e tirou a própria vida.
- A avó estava lá também.
- Não. Nós estávamos sózinhos, mas o avô nem estava muito bravo.
- Mas o pai diz que a avó também estava lá. Chegou depois e não quis aparecer. Não sei. Vamos tomar um banho e esperar o pai.
- Morreram os dois?
- Sim, mas não quero que penses nisso. Não quero que isso te afete.
Depois do banho, fez um lanche para a filha e logo adormeceu na cama da mãe. Juliette sentou-se na cadeira como que de guarda.
Analisou os últimos acontecimentos e achou que tinha sido um pouco bruta com Rodolffo.Já era noite quando este voltou. Estava abatido. Deu um beijo nas duas e seguiu para o banheiro.
Abriu o chuveiro e sentou-se deixando a àgua misturar-se com as lágrimas.
Juliette deixou a filha na sala a assistir uma série que ela era fã e foi ter com ele.
Esperou que ele saísse. Rodolffo vinha com uma toalha enrolada na cintura e tinha os olhos vermelhos.
- Vem cá. Senta aqui comigo.
Juliette sentou-se recostada na cabeceira e Rodolffo sentou-se ao lado deitando a cabeça no colo dela.
- Desculpa as coisas feias que eu disse mais cedo. Foi desabafo de momento.
Rodolffo não respondeu e fechou os olhos. Ela deu-lhe eu selinho puxou-o para o peito e abraçou-o.
Ficaram em silêncio durante um tempo até que Madu bateu à porta e veio juntar-se a eles na cama.