Cap. XIX

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Agora que Madu foi dormir, senta aqui para conversar, Ju.

- O que tu queres conversar?

- Eu sei que hoje mostrei um lado que eu não quero ter.  Eu nunca fui assim, mas também nunca amei outra pessoa sem seres tu e hoje eu tive ciúmes.  Muitos ciúmes.

Esta história dos meus pais mexeu muito comigo.  Saber que o meu próprio pai queria tirar a nossa vida e ainda assim eu precisei estar com eles até ao último momento.

Não sentir que estavas do meu lado também doeu.  Não tinhas obrigação eu sei, mas eu esperei isso de ti.

Não estou a recriminar-te, longe disso, mas se fosse ao contrário eu estaria.  Digo agora, porque só temos certeza quando estamos frente ao problema.

O motivo da nossa separação desapareceu e eu quero que a partir de hoje comece um novo ciclo.

Quero-te comigo, hoje e sempre aqui ou em qualquer lugar.  Deixo nas tuas mãos e por conta da tua profissão a decisão de morar aqui ou em Portugal.   Por certo eu arranjarei lá trabalho, mas aqui deve caber uma juíza também.

Juliette deu-lhe um selinho e disse:

- Eu tenho consciência de que não estive bem nessa questão do funeral. A raiva superou o meu amor por ti.

Pensar que a minha menina podia estar morta ou podia ter sofrido, deixou-me cega de ódio.

Eu sei.  Era meu dever estar ao teu lado, apoiar-te, confortar-te, mas sou falha com toda a gente.

Estou habituada a julgar mais do que ser julgada e isso também pesa.
Foi sempre assim e é difícil mudar.

Almocei com o meu colega, primeiro porque eu preciso fazer amigos por aqui, mas essencialmente porque eu já decidi ficar pelo Brasil.  Não especificamente no Recife mas onde eu puder exercer a minha profissão.
A preferência era cá, mas  vamos ver.

Vamos matricular a filha na escola para que possa iniciar o ano lectivo de cá.  Devo precisar de ir a Lisboa  resolver algumas burocracias e se for possível queria que fosses também.

Vamos esquecer o que nos magoa e seguir em frente.  Ainda somos novos e temos muita estrada para andar.

- Agora ouve esta canção da portuguesa Mariza.  Ela explica tudo e muito melhor que eu.

Rodolffo de olhos marejados olhava para ela com admiração.

- Tu és a minha felicidade. - disse e puxou-a para um beijo.

- Vamos para o quarto?  Hoje eu quero castigar-te por seres mau para mim.

- E se eu gostar do castigo, posso ser mau todos os dias?

- Atreve-te.

Rodolffo pegou-a ao colo e logo estavam na cama a fazer amor.

Fazia tanto tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora