- Entra para aí fedelha.
- Fedelha não. O meu nome é Maria Eduarda. Porque me trouxe para aqui. A minha mãe e o meu pai vão ficar aflitos por eu desaparecer.
- É bom que fiquem.
- Porque fez isto? Está zangado connosco? Quem é o senhor?
- Não me conheces, não é? Pois vais saber. Dizem que és minha neta, mas eu não acredito. A tua mãe deve ter andado enrolada com algum português e veio agora enganar a todos e principalmente o meu filho.
- Não fale assim da minha mãe. Ela não é nada disso e eu sou sim filha do Rodolffo.
- Quem te garante?
- A minha mãe não mente. Agora deixe-me ir embora que eles devem andar à minha procura. Porque não gosta de nós?
- Não sais daqui fedelha. Deixa-os procurar por ti.
- Você não tem cara de má pessoa, mas agora está a ser mau e este lugar é horrível.
- O meu filho gostava de brincar aqui de esconde esconde quando tinha a tua idade. Vínhamos os três, eu tratava da horta e ele brincava com a mãe. Às vezes sózinho.
- Vocês também eram uma família mini?
- O que é isso?
- Uma família de três, igual à minha.
Em Lisboa era eu a minha mãe e os meus avós emprestados que eu amava, mas eles morreram. Aqui sou eu o pai e a mãe. Tem os meus avós verdadeiros, mas eles não gostam de nós e por isso não são da família.- Mas tu não te calas?
O homem foi acometido por um ataque de tosse. O barraco estava cheio de poeira e isso prejudicava-o por ser asmático.
Tossiu tanto que acabou por desmaiar. Madu ficou aflita e batia-lhe nas costas. Não sabia o que fazer e começou a abanar o boné que tinha na cabeça para que ele tivesse mais ar.
Aos poucos foi recuperando a consciência e apontava para o casaco que tinha deixado pendurado na entrada. Madu foi buscá-lo e entregou-lho.
Ele retirou a bomba do bolso e depois de três bombadas recuperou o ritmo da respiração.
- Obrigado. Porque me ajudaste e não fugiste?
- A mãe sempre disse que devemos ajudar os outros. Tu precisavas de ajuda. Estás melhor? Devias era ir ao hospital.
- Já estou bem. Vou ligar para o teu pai. Desculpa este velho. Só fez asneiras a vida toda.
- Rodolffo!
- Pai, onde estás? A minha filha?
- Rodolffo, perdoa-me por tudo. Vem buscá-la. Estamos no barracão da nossa antiga horta. Eu não lhe fiz mal. Desculpa. Fala com o pai, Maria Eduarda.
- Pai o avô está doente. Vem depressa.
Ao ouvi-la chamá-lo de avó deixou cair algumas lágrimas.
Rodolffo avisou a polícia e foi com Juliette. Sabia muito bem onde era o barracão. Meia hora de caminho e lá estavam.
- O pai está a chegar, já ouço o carro. Vai ver se é ele.
- É ele é. Madu correu em direcção aos pais.
Nesse mesmo instante ouviu-se o som de um disparo.