Cap. XIV

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- Entra para aí fedelha.

- Fedelha não.   O meu nome é Maria Eduarda.  Porque me trouxe para aqui.  A minha mãe e o meu pai vão ficar aflitos por eu desaparecer.

- É bom que fiquem.

- Porque fez isto?  Está zangado connosco?  Quem é o senhor?

- Não me conheces, não é?  Pois vais saber.  Dizem que és minha neta, mas eu não acredito.  A tua mãe deve ter andado enrolada com algum português e veio agora enganar a todos e principalmente o meu filho.

- Não fale assim da minha mãe.   Ela não é nada disso e eu sou sim filha do Rodolffo.

- Quem te garante?

- A minha mãe não mente.  Agora deixe-me ir embora que eles devem andar à minha procura.   Porque não gosta de nós?

- Não sais daqui fedelha.  Deixa-os procurar por ti.

- Você não tem cara de má pessoa, mas agora está a ser mau e este lugar é horrível.

- O meu filho gostava de brincar aqui de esconde esconde quando tinha a tua idade.  Vínhamos os três,  eu tratava da horta e ele brincava com a mãe.  Às vezes sózinho.

- Vocês também eram uma família mini?

- O que é isso?

- Uma família de três, igual à minha.
Em Lisboa era eu a minha mãe e os meus avós emprestados que eu amava, mas eles morreram.  Aqui sou eu o pai e a mãe.  Tem os meus avós verdadeiros,  mas eles não  gostam de nós e por isso não são  da família.

- Mas tu não te calas?

O homem foi acometido por um ataque de tosse.  O barraco estava cheio de poeira e isso prejudicava-o por ser asmático.

Tossiu tanto que acabou por desmaiar.  Madu ficou aflita e batia-lhe nas costas.  Não sabia o que fazer e começou a abanar o boné que tinha na cabeça para que ele tivesse mais ar.

Aos poucos foi recuperando a consciência e apontava para o casaco que tinha deixado pendurado na entrada.  Madu foi buscá-lo e entregou-lho.

Ele retirou a bomba do bolso e depois de três bombadas recuperou o ritmo da respiração.

- Obrigado.  Porque me ajudaste e não fugiste?

- A mãe sempre disse que devemos ajudar os outros.  Tu precisavas de ajuda.  Estás melhor? Devias era ir ao hospital.

- Já estou bem.  Vou ligar para o teu pai.  Desculpa este velho.  Só fez asneiras a vida toda.

- Rodolffo!

- Pai, onde estás?  A minha filha?

- Rodolffo,  perdoa-me por tudo.  Vem buscá-la.  Estamos no  barracão da nossa antiga horta.  Eu não lhe fiz mal.  Desculpa.  Fala com o pai, Maria Eduarda.

- Pai o avô está doente.  Vem depressa.

Ao ouvi-la chamá-lo de avó deixou cair algumas lágrimas.

Rodolffo avisou a polícia e foi com Juliette.   Sabia muito bem onde era o barracão.  Meia hora de caminho e lá estavam.

- O pai está a chegar, já ouço o carro.  Vai ver se é ele.

- É  ele é.  Madu correu em direcção aos pais.

Nesse mesmo instante ouviu-se o som de um disparo.

Fazia tanto tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora