Nos dias seguintes Rodolffo voltou ao trabalho. Tudo parecia caminhar bem, mas havia alguma tensão no ar.
Rodolffo não falou, mas sentiu falta de apoio da Juliette durante todo o processo.
A verdade é que ele não pediu, mas também não viu vontade nela.
Hoje ao regressar a casa, a música estava alta, Juliette cantarolava na cozinha e Madu ensaiava uma coreografia na sala.
- Ei! A música precisa estar nesse volume?
- Desculpa pai. Vou baixar.
- O que se passa que as duas estão tão contentes.
- Nada. Só tivemos um dia bom.
- E o que fizeram?
- De manhã fomos à delegacia. A mãe foi entregar a arma e encontrámos um amigo dela que convidou a gente para almoçar. Depois fomos ao shopping e voltámos.
- Quem é esse amigo da mãe?
- Não sei, pai. Pergunta-lhe.
Rodolffo levantou-se e foi até à cozinha. A sua cara mostrava o seu azedume.
- Quem é esse amigo que te convidou para almoçar?
- Primeiro boa tarde. Onde ficaram as boas maneiras?
- Responde. Quem é ele?
- Não vou responder. Não tens o direito de me questionar nesses modos.
- Responde Juliette. Quem é ele?
Rodolffo segurou com força no braço dela e puxou-a para que se virasse para ele.
- Larga-me que me estás a magoar.
- Não largo. Responde.
- Já disse que não vou responder. Se quiseres conversar tens que te acalmar primeiro. Não tens o direito de me fazeres isso. Nunca permiti nem vou permitir. Tens aqui o jantar. Janta com a tua filha que eu vou lá para o quarto e não quero ver mais a tua cara.
Madu veio por a mesa e Rodolffo sós poucos foi-se acalmando.
- Filha, vai lá pedir à mãe para vir jantar connosco.
- Não vou não pai. A briga é vossa, vocês que se resolvam. Vai tu porque do que eu conheço da mãe, a briga não terminou.
Levantei-me da mesa e fui até ao quarto.
- Ju... o que estás a fazer? Para que estás a fazer a mala?
- Vamos voltar para o hotel de onde nunca deveriamos ter saído.
- Não faças isso, Ju. Desculpa, mas eu ando muito nervoso. Estes acontecimentos todos mexeram comigo.
- E comigo não? Nem por isso eu tenho sido bruta contigo.
- Mas tens estado distante e o episódio de hoje deixou-me com ciúmes. Tenho medo de vos perder.
- Só porque fui almoçar com um colega? Tu não almoças com gente?
- Almoço, mas desculpa. Por favor vem jantar connosco e esqueçamos o assunto.
- Era um juiz de S. Paulo que eu conheci num congresso em Lisboa. Só isso.
- Pronto. Não quero mais pormenores. Diz que me desculpas e vamos esquecer.
Rodolffo puxou-a para um abraço e ela resistiu de primeira, mas depois deixou-se abraçar.
- Morro de ciúmes.
- Se eu quisesse outro não esperava dez anos. Deixa de ser inseguro.
- Sou é apaixonado. Amo-te muito.
Dá-me um beijo e vamos lá ter com a filhota.- Pelo visto a mãe está a perder qualidade na questão de briga. Já terminou?
- Respeitinho dona Maria Eduarda. Ainda sou tua mãe.
- Agora vai sobrar para mim. Socorro, pai.
- Nessa aí eu nem entro. Já apanhei por hoje.
- Sabes lá o que é apanhar! Ainda não cheguei lá, respondeu Juliette.
Os três sorriram e sentaram-se para jantar.