Cap. XVIII

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Nos dias seguintes Rodolffo voltou ao trabalho.  Tudo parecia caminhar bem, mas havia alguma tensão no ar.

Rodolffo não falou, mas sentiu falta de apoio da Juliette durante todo o processo.

A verdade é que ele não pediu, mas também não viu vontade nela.

Hoje ao regressar a casa, a música estava alta, Juliette cantarolava na cozinha e Madu ensaiava uma coreografia na sala.

- Ei!  A música precisa estar nesse volume?

- Desculpa pai.  Vou baixar.

- O que se passa que as duas estão tão contentes.

- Nada.  Só tivemos um dia bom.

- E o que fizeram?

- De manhã fomos à delegacia.   A mãe foi entregar a arma e encontrámos um amigo dela que convidou a gente para almoçar.  Depois fomos ao shopping e voltámos.

- Quem é esse amigo da mãe?

- Não sei, pai.  Pergunta-lhe.

Rodolffo levantou-se e foi até à cozinha.  A sua cara mostrava o seu azedume.

- Quem é esse amigo que te convidou para almoçar?

- Primeiro boa tarde.  Onde ficaram as boas maneiras?

- Responde.  Quem é ele?

- Não vou responder.  Não tens o direito de me questionar nesses modos.

- Responde Juliette.   Quem é ele?

Rodolffo segurou com força no braço dela e puxou-a para que se virasse para ele.

- Larga-me que me estás a magoar.

- Não largo.  Responde.

- Já disse que não vou responder.  Se quiseres conversar tens que te acalmar primeiro. Não tens o direito de me fazeres isso.  Nunca permiti nem vou permitir.  Tens aqui o jantar.  Janta com a tua filha que eu vou lá para o quarto e não quero ver mais a tua cara.

Madu veio por a mesa e Rodolffo sós poucos foi-se acalmando.

- Filha, vai lá pedir à mãe para vir jantar connosco.

- Não vou não pai.  A briga é vossa, vocês que se resolvam.  Vai tu porque do que eu conheço da mãe, a briga não terminou.

Levantei-me da mesa e fui até ao quarto.

- Ju... o que estás a fazer?  Para que estás a fazer a mala?

- Vamos voltar para o hotel de onde nunca deveriamos ter saído.

- Não faças isso, Ju.  Desculpa, mas eu ando muito nervoso.  Estes acontecimentos todos mexeram comigo.

- E comigo não?  Nem por isso eu tenho sido bruta contigo.

- Mas tens estado distante e o episódio de hoje deixou-me com ciúmes.   Tenho medo de vos perder.

- Só porque fui almoçar com um colega?  Tu não almoças com gente?

- Almoço, mas desculpa.  Por favor vem jantar connosco e esqueçamos o assunto.

- Era um juiz de S. Paulo que eu conheci num congresso em Lisboa.   Só isso.

- Pronto.  Não quero mais pormenores.  Diz que me desculpas e vamos esquecer.

Rodolffo puxou-a para um abraço e ela resistiu de primeira, mas depois deixou-se  abraçar.

- Morro de ciúmes.

- Se eu quisesse outro não esperava dez anos.   Deixa de ser inseguro.

- Sou é apaixonado.  Amo-te muito.
Dá-me um beijo e vamos lá ter com a filhota.

- Pelo visto a mãe está a perder qualidade na questão de briga.  Já terminou?

- Respeitinho dona Maria Eduarda.   Ainda sou tua mãe.

- Agora vai sobrar para mim.  Socorro, pai.

- Nessa aí eu nem entro.  Já apanhei por hoje.

- Sabes lá o que é apanhar!  Ainda não cheguei lá, respondeu Juliette.

Os três sorriram e sentaram-se para jantar.

Fazia tanto tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora