Cap. IX

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Juliette entrou no quarto e chorou.
O pesadelo tinha regressado mas desta vez não ia fugir de novo.

Trocou de roupa e dirigiu-se à delegacia.  Identificou-se e apresentou a respectiva queixa, principalmente por ameaça à filha.

Conduziu até à praia e ali ficou com o olhar no horizonte.

Dez anos depois o velho ainda sonhava com o tão desejado casamento do filho.  E a moça?  Será que a moça também mantém a esperança?  Ou será que é só delírio mesmo.

Voltou para o hotel, mas em vez do quarto optou pelo bar.  Pediu um conhaque que bebeu de um trago e depois pediu outro.

Pouco depois chegava Rodolffo e Maria Eduarda que pediu a chave e estranhou a mãe não estar.

Madu ligou para a mãe que disse estar no bar.

- Pai, a mãe está no bar.  Vou tomar banho.  Ela disse para ires lá ter com ela.

Encontrei Juliette de óculos escuros no bar e fiquei surpreso.   Na sua frente um cálice com uma bebida.  Nunca a vira beber esse tipo de bebidas.

O que aconteceu?  Que bebida é essa?  E esses óculos aqui dentro.

- Preciso de me acalmar.  Estou a ponto de matar alguém.

- Deixa tirar os óculos.  Estiveste a chorar?

- O teu pai esteve aqui.

- O que ele te fez, Ju?  Veio ameaçar-te?

- Veio, mas desta vez ameaçou também a Madu.  Eu gravei tudo.  Rodolffo eu fui à delegacia e apresentei queixa.  Sei que é teu pai, mas desta vez não vou deixar impune.

- Mostra a gravação.

Rodolffo ouvia e não queria acreditar que o pai chegasse a tanto.  O que ele ameaçou fazer com elas era mau demais.
Devolveu o telemóvel a Juliette de lágrimas nos olhos.
Apoiou os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos.

- Vou resolver isto de vez, disse Rodolffo.

- Onde vais?  Deixa para a justiça.  Ele não sabe com quem se meteu desta vez.

- Não,  Ju.  Eu preciso ir agora.  Pára de beber e vai ficar com a Madu.  Eu disse que íamos ao cinema logo.  Diz-lhe que surgiu um imprevisto e vamos outro dia.

- Vou ficar aflita se não tiver noticias tuas.  Não faças nada que te prejudique.  Ligo-te mais tarde.

Rodolffo conduziu e pouco depois estava em casa dos pais.

- Mãe, onde está o pai?

- Na sala a ver TV.

Rodolffo seguiu para a sala.  O pai levantou-se assim que o viu, mas foi logo atingido por um soco que o fez cair no sofá.

- Rodolffo, estás doido, filho?  É o teu pai.

- Não é meu pai, mãe!  Um pai não faz ameaças à sua neta.

- Neta... aquela puta deu-te volta à cabeça de novo. - disse voltando a levantar-se.
Se fosse tua filha, não era preciso dez anos para aparecer.

- É minha filha sim e eu acredito na Juliette.  Não tinha motivos para me mentir. E não voltas a ameaçá-las nem a chamar-lhe puta.

- Puta sim.  Chamo as vezes que quiser, pois é isso que ela é.

Rodolffo assentou novo soco na cara do pai.  Desta vez os óculos partiram e uma das lentes fizeram um corte.

- Esquece que eu existo.   Se me vires num passeio, passa para o outro pois não terei dó de te dar nova surra onde te encontrar.  Espero que a polícia cumpra logo o seu papel.

Deu um beijo na mãe e saiu batendo a porta.

Fazia tanto tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora