Juliette entrou no quarto e chorou.
O pesadelo tinha regressado mas desta vez não ia fugir de novo.Trocou de roupa e dirigiu-se à delegacia. Identificou-se e apresentou a respectiva queixa, principalmente por ameaça à filha.
Conduziu até à praia e ali ficou com o olhar no horizonte.
Dez anos depois o velho ainda sonhava com o tão desejado casamento do filho. E a moça? Será que a moça também mantém a esperança? Ou será que é só delírio mesmo.
Voltou para o hotel, mas em vez do quarto optou pelo bar. Pediu um conhaque que bebeu de um trago e depois pediu outro.
Pouco depois chegava Rodolffo e Maria Eduarda que pediu a chave e estranhou a mãe não estar.
Madu ligou para a mãe que disse estar no bar.
- Pai, a mãe está no bar. Vou tomar banho. Ela disse para ires lá ter com ela.
Encontrei Juliette de óculos escuros no bar e fiquei surpreso. Na sua frente um cálice com uma bebida. Nunca a vira beber esse tipo de bebidas.
O que aconteceu? Que bebida é essa? E esses óculos aqui dentro.
- Preciso de me acalmar. Estou a ponto de matar alguém.
- Deixa tirar os óculos. Estiveste a chorar?
- O teu pai esteve aqui.
- O que ele te fez, Ju? Veio ameaçar-te?
- Veio, mas desta vez ameaçou também a Madu. Eu gravei tudo. Rodolffo eu fui à delegacia e apresentei queixa. Sei que é teu pai, mas desta vez não vou deixar impune.
- Mostra a gravação.
Rodolffo ouvia e não queria acreditar que o pai chegasse a tanto. O que ele ameaçou fazer com elas era mau demais.
Devolveu o telemóvel a Juliette de lágrimas nos olhos.
Apoiou os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos.- Vou resolver isto de vez, disse Rodolffo.
- Onde vais? Deixa para a justiça. Ele não sabe com quem se meteu desta vez.
- Não, Ju. Eu preciso ir agora. Pára de beber e vai ficar com a Madu. Eu disse que íamos ao cinema logo. Diz-lhe que surgiu um imprevisto e vamos outro dia.
- Vou ficar aflita se não tiver noticias tuas. Não faças nada que te prejudique. Ligo-te mais tarde.
Rodolffo conduziu e pouco depois estava em casa dos pais.
- Mãe, onde está o pai?
- Na sala a ver TV.
Rodolffo seguiu para a sala. O pai levantou-se assim que o viu, mas foi logo atingido por um soco que o fez cair no sofá.
- Rodolffo, estás doido, filho? É o teu pai.
- Não é meu pai, mãe! Um pai não faz ameaças à sua neta.
- Neta... aquela puta deu-te volta à cabeça de novo. - disse voltando a levantar-se.
Se fosse tua filha, não era preciso dez anos para aparecer.- É minha filha sim e eu acredito na Juliette. Não tinha motivos para me mentir. E não voltas a ameaçá-las nem a chamar-lhe puta.
- Puta sim. Chamo as vezes que quiser, pois é isso que ela é.
Rodolffo assentou novo soco na cara do pai. Desta vez os óculos partiram e uma das lentes fizeram um corte.
- Esquece que eu existo. Se me vires num passeio, passa para o outro pois não terei dó de te dar nova surra onde te encontrar. Espero que a polícia cumpra logo o seu papel.
Deu um beijo na mãe e saiu batendo a porta.