Rodolffo regressou a casa depois do funeral dos pais. Juliette não quis comparecer. Ficou em casa com a filha.
- Fiz uma comida gostosa. Vem comer.
- Não quero. Vou tomar um banho e dormir. Só quero dormir.
- Faz dois dias que não comes nada. Queres ficar doente?
- E daí, quem se importa?
Ele seguiu para o quarto e ela foi atrás.
- Eu importo-me, Rodolffo. Que conversa é essa?
- Não parece.
- Como?
- Juliette, só quero dormir. Posso, por favor?
Rodolffo dormiu a tarde e a noite toda. Acordou bem cedo, fez café e tomou sózinho. Depois saiu.
Ficou o dia todo na rua e regressou para o jantar.
Madu sentou-se no sofá ao lado dele. Juliette estava na cozinha.
- Onde foste todo o dia, pai. Hoje não trabalhaste.
- Fui resolver uns assuntos. Demorei mais do que queria.
- A mãe estava preocupada e eu também.
- Desculpa filha. Vou lá falar com a mãe.
Rodolffo dirigiu-se à cozinha. Abraçou Juliette que estava de frente para o fogão.
- Desculpa, não quis preocupar-te. Estive em casa deles a resolver umas coisas.
- Não precisas de nos excluir. Parece que nem existimos mais.
- Não é nada disso. Não quero incomodá-las com os meus problemas. Tenho medo que vão embora.
- Porquê essa insegurança?
- Porque tu disseste que ias.
- Foi num momento de raiva, Rodolffo! Dizemos muita coisa nessas alturas.
- Quer dizer que não vais?
- Tudo o que for decidido será entre os dois, Rodolffo. Vamos jantar.
- Primeiro quero um beijo.
Juliette desligou o fogão e rodou ficando de frente. Deram um beijo e foram flagrados.
- Tenho fome, mãe.
- Já vai, sua comilona. Põe a mesa. Amor, leva o suco.
Juliette levou a panela com o arroz que colocou no centro da mesa. Depois voltou para buscar o frango que tinha assado no forno e a salada.
- E as batatas fritas, mãe?
- Hoje não tem. Não tive paciência. Come o arroz e a salada.
- Poxa mãe! Frango assado sem batata frita?
- Madu. Come e não reclama. Tem meninos que nem arroz têem.
- Eu sei, pai. Não vou reclamar mais.
- Que foste fazer lá a casa?
- Ver o que estava lá para por a casa à venda.
Retirei só alguns artigos pessoais, papéis e o resto mandei doar. A minha mãe tinha muita roupa que vai fazer falta a algumas pessoas. Os móveis e restantes objectos também mandei doar.
- Não queres nada? Uma recordação, sei lá, qualquer coisa?
- Não. E o dinheiro da casa e de um terreno vou colocar no nome da Malu. Vai servir para pagar a faculdade dela.
- Eu vou ser rica?
- Se trabalhares muito e te esforçares no que quiseres ser, podes vir a ser no mínimo uma rica pessoa. Uma casa e terreno não é riqueza, mas pode ser o começo.
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