Cap. XVII

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Rodolffo regressou a casa depois do funeral dos pais.  Juliette não quis comparecer.  Ficou em casa com a filha.

- Fiz uma comida gostosa.   Vem comer.

- Não quero.  Vou tomar um banho e dormir.  Só quero dormir.

- Faz dois dias que não comes nada.  Queres ficar doente?

- E daí, quem se importa?

Ele seguiu para o quarto e ela foi atrás.

- Eu importo-me, Rodolffo.   Que conversa é essa?

- Não parece.

- Como?

- Juliette,  só quero dormir.  Posso, por favor?

Rodolffo dormiu a tarde e a noite toda.  Acordou bem cedo, fez café e tomou sózinho.  Depois saiu.

Ficou o dia todo na rua e regressou para o jantar.

Madu sentou-se no sofá ao lado dele.  Juliette estava na cozinha.

- Onde foste todo o dia, pai.  Hoje não trabalhaste.

- Fui resolver uns assuntos.  Demorei mais do que queria.

- A mãe estava preocupada e eu também.

- Desculpa filha.  Vou lá falar com a mãe.

Rodolffo dirigiu-se à cozinha.  Abraçou Juliette que estava de frente para o fogão.

- Desculpa, não quis preocupar-te.  Estive em casa deles a resolver umas coisas.

- Não precisas de nos excluir.  Parece que nem existimos mais.

- Não é nada disso.  Não quero incomodá-las com os meus problemas.   Tenho medo que vão embora.

- Porquê essa insegurança?

- Porque tu disseste que ias.

- Foi num momento de raiva,  Rodolffo!  Dizemos muita coisa nessas alturas.

- Quer dizer que não vais?

- Tudo o que for decidido será entre os dois, Rodolffo.  Vamos jantar.

- Primeiro quero um beijo.

Juliette desligou o fogão e rodou ficando de frente.   Deram um beijo e foram flagrados.

- Tenho fome, mãe.

- Já vai, sua comilona.  Põe a mesa.  Amor, leva o suco.

Juliette levou a panela com o arroz que colocou no centro da mesa.  Depois voltou para buscar o frango que tinha assado no forno e a salada.

- E as batatas fritas, mãe?

- Hoje não tem.  Não tive paciência.  Come o arroz e a salada.

- Poxa mãe! Frango assado sem batata frita?

- Madu.  Come e não reclama.  Tem meninos que nem arroz têem.

- Eu sei, pai.  Não vou reclamar mais.

- Que foste fazer lá a casa?

- Ver o que estava lá para por a casa à venda.

Retirei só alguns artigos pessoais, papéis e o resto mandei doar.  A minha mãe tinha muita roupa que vai fazer falta a algumas pessoas.  Os móveis e restantes objectos também mandei doar.

- Não queres nada?  Uma recordação,  sei lá, qualquer coisa?

- Não.  E o dinheiro da casa e de um terreno vou colocar no nome da Malu. Vai servir para pagar a faculdade dela.

- Eu vou ser rica?

- Se trabalhares muito e te esforçares  no que quiseres ser, podes vir a ser no mínimo uma rica pessoa.  Uma casa e terreno não é riqueza, mas pode ser o começo.

Fazia tanto tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora