MARMITA DE CASAL

136 19 4
                                    

Quando finalmente Time adormeceu abraçado a Tay, este se levantou e foi para o banheiro, onde deixou escapar algumas lágrimas. Ao retornar, seus olhos estavam vermelhos. Juntou os dois papéis, um entregue por Time e outro que já possuía, colocando-os sobre a mesa. Decidiu não pensar mais naquilo e voltou para a cama, abraçando o marido. Sentiu a falta do corpo que costumava ocupar aquele espaço e as mãos de Time nele, ouvindo a voz a lhe questionar.

—Algum problema?
—Não. É só... não acha que está na hora de Tem vir definitivamente para cá? — expressou Tay, buscando uma solução para a saudade que sentia.

O abraço sempre foi o remédio para corações partidos e planos interrompidos.

No dia seguinte, Tay acordou bem e se arrumou impecavelmente, lidando com a tristeza através da aparência. Enquanto isso, Time estava no trabalho desde o momento em que acordou. Tay passou o dia organizando itens da casa, separando joias e roupas para doação, mas antes das seis horas, não aguentou mais. Fez sua higienização completa e demorada.

—Vou ver Tem na faculdade.
Time sabia. Sabia que ele não iria aguentar muito tempo. Depois de ontem, ele percebeu o quanto Tay estava carente de Tem.
—Vá! Mas não cause alvoroço, Tay. É uma faculdade.
—Eu? Sou discretíssimo.
—Sei.

Ao chegar na faculdade, ligou para Tem, mas ele não atendeu. Dirigiu-se à entrada e, com educação, foi direcionado ao bloco dele. A atendente também informou que a aula já estaria terminando. Esperou os alunos saírem, mas não apareceu. Chegou até a porta e ele estava lá, guardando alguns materiais.

—Permissão para falar com o estudante mais gato desta instituição.

Tem se iluminou ao ver Tay.
—Permissão para falar e para beijar.

Tay abraçou o outro e deu apenas um selinho, afinal estavam em uma instituição de ensino.

—Não foi comer algo? Vi todos saindo menos você.
—Ia comer algo por aqui mesmo.
—E seus amigos?
—Foram comer fora, resolvi ficar.
—Então eu cheguei e vou levar meu arquiteto para jantar. O que acha? E o melhor de tudo, estou com o cartão Black do Time.
—Como se você precisasse usar o cartão de Time, né?
—Não preciso mesmo, mas eu uso assim mesmo.

Tem concordou, saiu com Tay e o deixou guiá-lo até o restaurante. Por coincidência ou não, escolheram o restaurante onde os amigos de Tem estavam. Era um dos mais chiques na região. Tem entrou sem jeito. Na porta foi informado que não teria mais mesas, mas com Tay a história mudou e uma mesa apareceu magicamente. Enquanto Tay conversava com um conhecido, Tem foi entrando e logo avistou os colegas da faculdade.

—Tem, achei que você não vinha. Vem, estamos nessa mesa.
—Ah, eu não iria mesmo, mas Tay me chamou.
—Tay? Que Tay? O cara de quem você está utilizando o carro?
—Hum...
—Vem, fica aqui por enquanto. Estava falando com os meninos sobre a festa que estou tentando conseguir para a gente.

Quando Tay chegou, observou de longe a turma animada. Sua mesa era próxima.
—Boa noite, pessoal.
Os jovens se assustaram.
—Tay, esses são alguns do meu grupo da faculdade. Pessoal, este é o Tay, foi ele que me convidou para o restaurante.
Todos acenaram, e um com um sorriso mais simpático falou.
—Fica com a gente. Ainda nem pedimos.
—Temos uma mesa, mas se Tem não se incomodar, não vejo problema.
Tay falava pausadamente, delicadamente.
—E claro que Tem não vai se incomodar. Até porque não deve ser ele quem vai pagar.

Um dos presentes brincou, mas Tay percebeu a verdade por trás das palavras. Respirou fundo e se sentou. Enquanto faziam os pedidos, a conversa recomeçou e o engraçadinho continuava tentando chamar a atenção.

Tay lembrou do compromisso feito com Time. Decidiu não causar um escândalo ali, afinal estavam na faculdade de Tem.

—Então, estou tentando convencer Tem a ficar em nossa casa. Ele só precisa me ajudar em algumas coisas e pronto.

Cada palavra,Tay fechava ainda mais sua expressão, indicando sua crescente irritação.

—Mas também já disse a Tem, que meu pai conhece muita gente e consigo um emprego para ele rapidamente quando terminar a faculdade.

Tay fechou a cara de vez, sem esconder sua insatisfação com a atitude do outro.

Enquanto a conversa seguia, a conta chegou. Tay tirou o cartão da carteira e não pôde deixar de mostrar o Black. Enquanto finalizava a transação, o outro passou as mãos no corpo de Tem.

Tay não hesitou em intervir, puxando a mão do indivíduo e o confrontando.

—Tire a mão dele.
—Estou só brincando, cara. Ou você se acha tão dono dele que eu não posso nem tocar?
Tay segurou a mão do outro e a virou para trás, demonstrando sua firmeza.

—Ele não vai morar com você de favor para ser seu empregado. Se ele quiser um condomínio, eu posso proporcionar. Ele também não vai fazer bico em nenhuma empresa de seu pai, porque se ele quiser, eu posso abrir uma empresa só para treiná-lo. E o mais importante, você não pode tocar em meu companheiro e insinuar que ele é uma mera marmita, porque eu posso lhe matar. Sua sorte é que prometi a meu marido não me estressar, senão você ficaria sem as mãos e sem sua língua.

Tay largou o outro, todos estavam olhando para ele. Fez uma reverência e se desculpou, garantindo que a conta estava paga.

Enquanto se dirigia ao carro, Tem o acompanhou, questionando o que havia acontecido. Tay explicou sua perspectiva e deixou claro seu descontentamento com a situação.

—E sério que você não viu o que realmente aconteceu ali? Seu amigo é um escroto. Da pior espécie.

Tem tentou justificar o comportamento do amigo, mas Tay não estava disposto a aceitar desrespeito.

—Você não se impõe, Tem. Ele não quer você melhor do que ele. Ele quer Sempre um pobre atrás para ele fazer caridade. Seria loucura achar que eu permitiria que meu marido tivesse uma marmita, eu sendo um banquete completo.Tay olhou para o outro, transmitindo uma tensão palpável.

— A não ser que você realmente ache que eu e Time estamos lhe fazendo de marmita.

— Tay, não é isso. Eu só fiquei sem reação. Eu não sei o que somos. E se eu fosse mesmo uma marmita? vamos para casa e conversaremos lá.

Tay estava à beira do limite. Após tudo o que passou com Time, ele só queria Tem ao seu lado. Não suportava a ideia do vazio do outro lado da cama. Veio atrás de Tem por saudades, mas acabou envolvido em uma situação tensa.

— Você achou que era uma marmita de casal. Como pôde pensar isso de nós? Pois agora eu vou lhe tratar como tal. Não, você não vai para nossa casa. Marmita só serve para matar a fome. E eu não quero ter hoje. Não há utilidade alguma na nossa cama.
— Tay...
— É assim que se trata uma marmita, Tem. Sentiu a diferença? Percebeu que eu e Time nunca te tratamos dessa forma.

Tay entrou no carro e partiu, cantando pneu. Não era o seu dia. Tem precisava ficar ali para refletir sobre suas palavras, enquanto a tensão pairava no ar.

*

Cavalgada a três- TAY,TEM, TIME Onde histórias criam vida. Descubra agora