CULPADOS OU INOCENTES?

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Na manhã seguinte, tem levantado de um salto, o coração acelerado. Ele teria que ir para a faculdade e não podia se atrasar. Tomou um banho rápido, a água quente lavando o sono dos seus olhos. Vestiu a primeira roupa que encontrou no armário. Pegou a bolsa com os papéis que estavam em cima da mesinha do quarto, ainda desorganizada da noite anterior.

Enquanto dirigia, sua mente vagava, revivendo a noite passada. Por que eles eram tão dependentes de Tay? Por que, com um simples toque, ele fazia Time e ele se renderam? Lembrou-se da sensação de Time em sua boca, da intimidade e da vulnerabilidade daquele momento. Da próxima vez, ele queria que fosse perfeito, mas a experiência já tinha sido incrivelmente prazerosa.

Estacionou o carro e se olhou no retrovisor. A roupa que pegou do guarda-roupa de Tay lhe caía surpreendentemente. Era estranho como combinava com seu estilo, quase como se Tay tivesse comprado pensando nele. Será que ele realmente fez isso?

Entrou na sala de aula, sentindo o peso de um dia cheio pela frente. Tinha aulas o dia todo e ainda precisava entregar os trabalhos. Encontrou seu amigo entre uma aula e outra, entregando todos os papéis que levava consigo.

Na pausa, mandou uma mensagem para Tay com três corações. Conversaram um pouco, e ele se despediu com um sorriso. Com Time, a conversa foi mais direta, mas igualmente carinhosa.

Já à tarde, estava perto de sair. A última aula era uma matéria que ele já havia cursado há tempos. Em duas semanas, estaria livre. Antes de sair, ouviu seu nome ser chamado. Seu amigo do bar se aproximou, sem jeito.

— Tem, eu... quero lhe pedir desculpas. Passei dos limites, eu sei.
— Tudo bem. O Tay também é um pouco esquentado.
— E forte. Meu braço ainda dói até hoje.

Tem riu junto com o amigo, sentindo a tensão se dissipar um pouco.
— Ah, já ia esquecendo — retirou alguns papéis da bolsa — Você entregou isso por engano. Eu acabei lendo. Se eu soubesse que vocês estavam tão sérios a ponto de construir uma família, eu nunca teria dito que você era só um caso para eles.

Tem ficou perplexo. Como ele sabia sobre sua mudança para a casa de Tay e Time?
— Sim, vou me mudar para a casa deles em breve.
— Claro. Um bebê precisa dos pais juntos.

Tem ficou ainda mais surpreso.
— Desculpa, eu deduzi pelos resultados. Não se preocupe, não direi a ninguém.
— Obrigado.

Enquanto se despedia, a conversa estranha ecoava em sua mente. Entrou no carro e olhou os papéis novamente. As palavras agora faziam sentido de uma forma aterradora.

Dirigiu até a própria casa, a mente fervilhando de pensamentos sombrios. Abriu a geladeira e pegou algumas bebidas, tentando se acalmar. Se tivesse conversado com Tay e Time, talvez tudo se esclarecesse. Mas, sentindo-se insuficiente a vida inteira, tudo parecia o fim do mundo. Ele sempre se perguntou por que ele. Achava que era por questões sexuais, mas agora via que não. Bebeu sem perceber, lágrimas escorrendo pelo rosto.

Do outro lado da cidade, Tay havia chegado. Trazia consigo as alianças, uma para ele e outra para Time. Devolveu a de Time.
— Será que ele vai gostar?
— Sim, vai sim.

Tay olhou o relógio, notando que já era tarde. Tem deveria estar em casa, mas talvez estivesse atrasado. Quando uma hora se passou e ele não chegou, e todas as ligações foram recusadas, um alarme soou em sua mente. Mas se acalmou ao ver que o rastreador do carro mostrava que ele estava a caminho.

Quando Tem entrou e ficou encostado na porta, Tay viu pelas câmeras que algo estava errado. O rosto de Tem estava vermelho e com cara de choro. Ele entrou, os olhos focados nos dois que estavam na sala.
— Olha só vocês. O casal mais perfeito que existe. Estão juntos desde os 14 anos.
— Tem, o que aconteceu? — Tay perguntou, preocupado.
— O que aconteceu? O que aconteceu foi que eu caí na lábia de vocês. Eu sabia que tinha algo errado, mas meu ego não me deixou ver. Eu achei realmente que vocês estavam comigo porque, sei lá, gostassem de mim ou do sexo novo. Mas lá no fundo eu sabia que não. Por que o casal modelo abriria a relação logo para mim? Por que eu? — Puxou o papel do bolso — Primeiro, Tay — infértil. Segundo, Time — infértil.
— Você está tirando conclusões precipitadas.
— Estou? Vocês não queriam esquentar a relação, queriam um doador de esperma. Aí encontraram o pobre aqui, apaixonado. O que vocês iriam fazer? Iria me comprar para quando a criança nascesse eu deixá-la com vocês?
— Cala a boca, Tem. Pode deixar a gente se explicar?

Tem balançou a cabeça, negando, as lágrimas caindo.
— Quero que fiquem longe de mim. Os dois. Só vim aqui para olhar na cara de vocês pela última vez.

Tay se aproximou dele, pegando em sua mão.
— Tire as mãos de mim. Eu quero esquecer que estive com egoístas como vocês.
— Você está sendo injusto. Vamos conversar.

— Eu estou sendo injusto? E vocês foram o quê? Justos? Vocês foram egoístas. — Olhou para os papéis e os jogou — Eu nunca teria filhos com dois egoístas como vocês.
— Tenha cuidado com suas palavras.
— Eu vou sair dessa casa, vou esquecer de vocês e vou viver a minha história de amor. Formarei minha família. E vocês vão ficar aí, se remoendo porque... porque Deus sabia que dois egoístas egocêntricos não teriam capacidade de criar uma criança. Talvez seja uma punição.

Tay ficou petrificado com o que Tem estava dizendo. Principalmente pelas noites que ele passou em claro, pensando por que Deus o punia assim.

— Tem, se quiser sair, saia. Mas saiba que você está equivocado. Mas se decidir sair de uma vez, espero que se dê bem na sua nova vida e que você encontre o amor que está renegando de nós. Porque, se der errado, você vai amargar imensamente por essas suas palavras sobre nós.

Tem deu a última olhada antes de jogar a chave do carro e sair. Deixando um Tay, pela primeira vez, sem resposta.

Parecia que Time tinha razão: Eles ganharam na Mega-Sena ao contrário e, para piorar, foi duas vezes.

*********
Um abreve explicação. Até pedi ajuda a minha amiga que é psicóloga para explicar um pouco os sentimentos de Tem,para a gente não ficar tanto com raiva dele:

Tem ficou extremamente ofendido com a descoberta porque sentiu que sua relação com Tay e Time era baseada em amor e confiança, mas a revelação de que ambos são inférteis e de que ele poderia ter sido usado como um mero doador de esperma abalou profundamente essa percepção.
*Traição da Confiança e dos Sentimentos: Tem acreditava que Tay e Time abriram seu relacionamento porque tinham um carinho genuíno por ele, mas ao descobrir que ambos são inférteis, ele passou a suspeitar que a verdadeira intenção deles poderia ter sido apenas obter um doador de esperma. Isso fez com que ele sentisse que seus sentimentos foram manipulados e sua confiança, traída.

*Sentimento de Instrumentalização: A ideia de que ele poderia ter sido usado apenas como um meio para um fim – a concepção de um filho – desumaniza Tem, reduzindo-o a uma ferramenta ou recurso. Essa instrumentalização é extremamente dolorosa, pois ignora seu valor como pessoa e seus próprios sentimentos.

*Abalo do Ego e da Autoestima: Desde o início, Tem se sentia inseguro e insuficiente. A revelação potencializou esses sentimentos, fazendo-o questionar se ele realmente era desejado por quem ele é ou se era apenas uma solução conveniente para um problema biológico. Esse golpe em seu ego é difícil de suportar.

*Desconfiança sobre as Motivações dos Outros: A descoberta fez Tem se perguntar se todo o carinho e intimidade que ele sentia eram genuínos ou se eram apenas uma fachada para conseguir o que Tay e Time queriam. Isso destrói a base de qualquer relacionamento saudável, que é a confiança mútua.

*Medo de Abandono e Rejeição: Teme que, após cumprir o papel de doador de esperma, ele fosse descartado ou tratado com menos importância. Esse medo de ser abandonado após servir ao seu propósito é aterrorizante e profundamente doloroso.

Cavalgada a três- TAY,TEM, TIME Onde histórias criam vida. Descubra agora