NÓS SOMOS CULPADOS

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"Não sei porque, insisto tanto em te querer
Se você sempre faz de mim o que bem quer
Se ao teu lado sei tão pouco de você
É pelos outros que eu sei quem você é

Eu sei de tudo, com quem andas, aonde vais
Mas eu disfarço o meu ciúme mesmo assim
Pois aprendi que o meu silêncio vale mais
E desse jeito eu vou trazer você pra mim

E como um prêmio, eu recebo o teu abraço
Subornando o meu desejo tão antigo
E fecho os olhos, para todos os teus passos
Me enganando, só assim somos amigos

Por quantas vezes, me da raiva te querer
Em concordar com tudo que você me faz
Já fiz de tudo pra tentar te esquecer
Falta coragem pra dizer que nunca mais

Nos somos cumplices, nos dois somos culpados
No mesmo instante em que teu corpo toca o meu
Já não existe nem o certo nem o errado
So o amor que por encanto aconteceu

E é só assim que eu perdoo os teus deslizes
E é assim o nosso jeito de viver
Em outros braços tu resolves tuas crises
Em outras bocas não consigo te esquecer"
Fagner - Deslizes


— Por que você faz isso, Tay? Por que insiste em desobedecer quando eu digo não? Não sou suficiente para você? Por que não consegue acatar ordens?
Cada interrogação era como uma facada no coração de Tay. Sentia-se esmagado pela ideia de nunca mais ter os dois homens da sua vida juntos. Mas foi honesto:

— Porque é o Tem. E você não deveria estar me questionando. Você sempre foi e sempre será suficiente para mim.
Time segurou as lágrimas que ameaçavam cair. Sua voz tremeu com a dor contida.

— Por que eu não deveria questionar? Porque sou forte? Porque aguento?
Eu não sou tão forte assim, Tay. Não sou forte a ponto de ver meu marido rastejar por outro homem que decidiu sair das nossas vidas. Estou finalmente me colocando para fora. Eu o amo tanto quanto você, mas nunca soltaria sua mão por um talvez.

— Me desculpe.
O pedido de desculpas de Tay só aumentou o desespero de Time. Não era ele quem deveria se desculpar.

 — Saia deste quarto. Quero ficar sozinho. Não sei o que Tem passou, mas sei o que eu passei, o que você passou.
Amanhã, escutarei o que ele quiser falar. Se ele quiser falar. Mas ele só terá uma única chance de se explicar,e ainda estou sendo caridoso porque nem isso ele  nos deu.

 
Tay resolveu não insistir. Aquela era a linha final para Time. Apenas restou o sofá, um lugar frio e solitário. A ironia da situação o atingiu em cheio; uma noite que ele esperava passar saboreando o amor do marido se transformou na primeira noite que ele dormiu no sofá.

Time permaneceu no quarto, tentando inútilmente acalmar a mente com um gole de whisky. Não pense que ele não amava Tem. Esse era o problema. Ele amava Tem tanto quanto Tay, e a comparação constante com Tay o consumia. Ele estava furioso – com Tem, com o mundo, consigo mesmo.

 No fundo, desejava que Tem viesse até ele, e não o contrário. Porque todas as vezes que via Tay fazendo isso, se perguntava se Tay faria o mesmo por ele.

 No meio da noite, Tem despertou de um sono perturbado. Ao ver Tay no sofá, a culpa o atingiu como uma onda esmagadora. Ele havia causado uma crise entre os dois, maior do que imaginava.

Tem bateu na porta, mas não esperou ser atendido. Entrou e encontrou Time perto da janela, segurando uma bebida.

 — Eu sabia que era você pela maneira de bater na porta. Tay não bateria assim. Ele é cheio de vontades. Não reconhece limites. Mesmo eu pedindo para ele não se envolver novamente, para não ir atrás de você, ele foi.
— Eu sinto muito por essa confusão.

—Confusão você causou quando você entrou na minha vida. Isso aqui, não é uma mera confusão.
Sabe o que eu não suporto, Tem? Esse sentimento é conflitante dentro de mim. Eu te amo tanto, mas estou com tanta raiva. Por você me fazer duvidar do sentimento de Tay. Senti tanto sua falta, tanto medo por mim e por ele — Bebeu o resto da bebida com um gole amargo. — Eu te mandei mensagens. Cada uma implorando. Mas você estava ocupado demais com aquele imbecil, que olhou na minha cara e disse que compraria meu marido. Tive que barrar cada um dos presentes, dos convites, das frases idiotas que ele falava. Enquanto tentava me recuperar da sua falta, de um resultado de infertilidade.

Tem ficou calado, sentindo o peso da culpa o esmagar. Tay entrou no quarto, desejando correr para Tem, mas desta vez ficou ao lado de Time, sentindo a dor e a raiva do marido.

— Eu sinto muito. Quis voltar. Mas lembrava de tudo que disse.
Lembrava de cada palavra.

Tem caiu de joelhos, derrotado pelo peso das suas próprias ações. Tay também chorava silenciosamente. Tem continuou, com a voz embargada:

 — Fui até a casa do Porsche. Ia dizer o quanto estava infeliz, o quanto me perdi. Mas soube que vocês estavam fora, felizes. Não tinha esse direito. A frase que você me disse não me deixava esquecer o quanto fui imaturo. Porque sentia muito, sentia a infelicidade. E em relação ao meu relacionamento, não sabia. Só queria ser amado. Mas, há poucos dias, descobri que... — Tem soluçado mais forte, o choro impedindo-o de continuar. — que só tenho valor porque já fui namorado do Tay. E que sem isso não sou ninguém.

Tay queria abraçar Tem, queria protegê-lo da dor, mas Time se ajoelhou primeiro, deixando de lado toda a raiva que sentia. O amor prevaleceu.

 — Nunca mais acredite nisso, Tem. Nunca mais baixe a cabeça por achar que não tem valor. Não há valor que chegue aos seus pés, Tem, porque é incalculável.

Tay também se juntou ao abraço, envolvendo os dois. Por mais que o ressentimento ainda estivesse presente, ele sabia que Time não deixaria Tem ser humilhado assim. Tem continuava a pedir desculpas baixinho, sentindo que nada poderia compensar toda a tristeza que causou.

 Com Tem mais calmo e Time liberto do rancor e da insegurança, os três estavam deitados na cama. Tem, com os olhos fechados, sentia o toque reconfortante de Tay em seu cabelo, enquanto Time analisava seu rosto, seu corpo. O ferimento no rosto de Tem era uma lembrança dolorosa. Time se perguntava se aquilo tinha sido a primeira violência contra aquele garoto que tanto tentou proteger. Olhou para Tay e se perguntou se Tay não tivesse chegado para protegê-lo  ele teria sido capaz de se proteger?

Time fechou os olhos, suspirou profundamente e sentiu os dedos de Tay acariciando-o também. Se continuasse pensando nisso, enlouqueceria. Então, os três adormeceram juntos. Não sabiam o que o futuro reservava, mas naquela noite, já haviam sentido emoção suficiente para uma vida inteira.


 

Cavalgada a três- TAY,TEM, TIME Onde histórias criam vida. Descubra agora