4°Capítulo

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Seus olhos estavam fixados no trabalho impecável que ele fazia. As flechas metálicas estavam tão bem afiadas que seriam capazes de serem usadas novamente caso seu alvo escape durante uma caçada mortal pelas montanhas de gelo. Apreciava os detalhes desenhados na base de cada uma das dez flechas, poderia  gastar muito tempo trabalhando em algo que usariam uma única vez, mas Azael era movido pela paixão de seu talento. Ela respirou fundo observando o talentoso homem á sua frente, percebendo que por mais que ele confiasse seu armazém em suas mãos, jamais conseguiria entregar um trabalho tão perfeito quanto o daquele bom homem.

Azael vinha de uma família humilde muito antiga na aldeia onde moram.
Seus pais eram grandes ferreiros muito procurados por seus trabalhos impecáveis que entregavam com a perfeição como prometiam. Eles o ensinaram tudo o que ele sabe e vem aperfeiçoando ao passar dos dias, é uma herança que gostaria de passar adiante como seus falecidos pais lhe passaram desde seus nove anos. Sua irmã do meio havia ido embora anos atrás após ter se apaixonado por um soldado do reino de Evermoon e ter construído uma família com ele.

O irmão mais velho do ferreiro não estava em nenhum dos reinos. Ele estava navegando á trabalho pelos mares ao lado norte junto de alguns primos de sua família. Ele garantia o abastecimento de frutos do mar de todos os reinos por ser um grande aventureiro naquelas águas turvas e perigosas. Conhecia todo o território como a palma de sua mão por estar mais tempo navegando do que pela superfície, arrumando discussões por onde passava por questionarem o preço de seus produtos. Seu jeito grosseiro e calado fazia falta para o único forjador de armas da família, ele fazia falta nos dias mais difíceis do calmo e solitário Azael.

Seus lábios estavam secos. Os pêlos de sua barba cavanhaque estavam com alguns resquícios de pó das flechas lixadas, os seus olhos escuros se desviaram para a face angelical da garota ao seu lado.

— O que foi? — questionou ela, tendo suas costas apoiadas sobre a longa bancada de madeira enquanto cruzava seus braços, fitando o mais velho ao seu lado que estava de frente para o seu corpo.

— Estou com um pouco de medo de deixar você sozinha tomando conta de tudo — confessou ele.

— Não confia em mim?

Ele pigarreou. Ele confiava na sua amiga de longa data mas não confiava em seu temperamento explosivo que ia de zero a cem em questão de segundos.

— A questão não é a confiança e sim, todo o trabalho que terá. São muitas coisas para uma única pessoa apesar de não ser tão complexo pra mim — explicou-se o homem, guardando as as flechas em uma sacola bege de pano que estaria ao lado da garota.

— Entendo sua preocupação mas não quero que perca essa chance de atrair mais clientes e de realizar seu sonhou de criança — ela pegou a sacola das mãos ásperas do ferreiro, observando seu trabalho bem feito enquanto esperava sua resposta.

— Você está certa, como sempre — ele abriu um sorriso vergonhoso, se recordando de todas as vezes em que se sentiu inseguro sobre quais decisões tomar e ela o aconselhou da melhor forma, sempre o apoiando. — Mas não arrume confusões bobas quando eu estiver fora, mesmo que eu já tenha avisado á todos que durante minha ausência temporária, ninguém mexa com você se não quiserem problemas comigo. 

Os dois olhavam fixamente após a declaração protetora do homem que raramente disparava discursos ameaçadores contra os homens que frequentavam seu comércio, mas se tratava dela, de sua melhor amiga.
No fundo ele sabia que ela não era como as mocinhas indefesas da cidade mas queria deixar claro que se preocupava o suficiente ao ponto de arriscar sua reputação por conta de seu vínculo afetivo com a menor.
Sabia que ela era uma das poucas mulheres da cidade que empunhava uma espada com maestria, lutava melhor que muitos soldados antigos e usava seus poderes sem medo das consequências.

Saga: Os ElementaresOnde histórias criam vida. Descubra agora