— [...] Nosso colégio é dividido em três setores: o primeiro setor fica a direção, a sala dos professores, a de vídeo e o anfiteatro. No segundo setor ficam os laboratórios de matemática, biologia, o de computação e sala de artes. Agora no terceiro ficam as salas de aula, bebedouros, biblioteca e banheiros, onde a maior parte dos alunos se encontram.
Sr. Ramiro dizia enquanto caminhávamos pelos corredores.
— Em falando em salas de aula...
Apontou para uma. Deduzi ser a minha.
— O senhor já se encontra com as suas antigas notas?
Me encarou.
— Estão aqui comigo, senhor.
As tirei do bolso.
— Ótimo! Aqui estão os seus horários, a chave do armário e...
Me entregou uma outra folha.
— O treino para escolhermos novos jogadores pro time de basquete é ao meio-dia na quadra.
Sorriu amigavelmente.
— Tenham um bom dia, senhores.
Disse com formalidade, se distanciando aos poucos.
— Te vejo depois, na quadra.
Bateu encima do meu ombro e foi para o lado oposto do Sr. Brandon, também indo embora. Respirei fundo e apertei a alça da minha mochila, entrando na sala.
O professor ainda não tinha chegado, o que permitia os alunos fazerem o que quiserem: era bolinha de papel uns nos outros, chicletes cobertos de saliva sendo arremessados no ar por canudos e indo parar direto nos cabelos das garotas, trogloditas atrapalhando os 'nerds' a estudarem, patricinhas sentadas encima de suas carteiras de pernas cruzadas se maquiando ou lixando as unhas, garotas entre as pernas de garotos se engolindo (literalmente) em um canto...
"Fica de boa na sua..." Sentei-me ao fundo, pegando a tal folha de horários. De acordo com ela, agora seria língua portuguesa. Avistei uma garota sentada do meu lado, escrevendo apressadamente algo no caderno. Cutuquei-a de leve no braço e consegui sua atenção. A mesma me encarou por alguns segundos, ajeitando seus óculos na cara. Ri, já começando a ruborizar, o que a fez parar.
— Pitt Connor.
Me apresentei, estendendo-lhe a mão.
— Suzanne Brent.
Acolheu-a em um aperto, sorrindo. Notei que Suzanne usava aparelho e me lembrei dos velhos tempos.
— A primeira aula é de quem?
— Do Thomaz. Ele é professor de língua portuguesa. A última coisa que ele deu foi para que escrevêssemos um poema.
Eu tinha voltado pra oitava série e nem sabia...
— Sério? Posso ver o seu? Pra ter uma certa base do que ele pediu para ter no poema.
Me aproximei ainda mais dela.
— C-claro.
Ergueu o caderno. Peguei o mesmo e comecei a ler. Parei por um momento quando percebi que, discretamente, Suzanne fechava os olhos e aspirava o cheiro do meu perfume, se aproveitando por estarmos próximos. Limpei a garganta, o que a fez abrir os olhos imediatamente e olhar pra baixo.
— "Você e eu, eu e você. Nós dois sabemos que nossa união pode sim acontecer. Eu e você, você e eu. Enquanto eu serei só sua, você será só meu." Nossa, quanta criatividade. Ficou muito bom, adorei.
Li o trecho que mais gostei em voz alta (só para nós dois) e voltei a ficar reto na minha carteira.
— Você gostou mesmo?
Perguntou com grandes olhos com lentes e aquele sorriso dela metálico.
— Eu amei, você escreve muito bem.
Disse com sinceridade.
— O-obrigada.
Passou uma mecha de cabelo ressecado pra trás da orelha e abaixou a cabeça, tímida.
— Quer ser escritora?
— Ainda não sei o que quero fazer da vida. Minha mãe diz que eu tenho todas as opções do mundo. Isso aqui foi só algo que um professor pediu para que fizéssemos. Ele disse que hoje em dia as pessoas trocam muito aquela coisa de namorar sério e ficar e quis que a gente escreve sobre os diversos fatores que geralmente as pessoas confundem com o amor e eu decidi falar o obsessivo. Também há o controlador, o suicida, onde a pessoa diz querer tirar a própria vida se a outra quiser terminar, o inseguro, o amigo, que é quando começa a partir de uma amizade, o agressivo, que envolve desde sexo violento a espancamento, o traiçoeiro, que é qualquer um que envolve traição...
— Entendi. Legal. Bom tema esse o seu.
— Oi.
As patricinhas sentadas de pernas cruzadas encima das carteiras que eu vi assim que pus os pés na sala se aproximaram, vendo que conversávamos, então também decidiu puxar papo.
— Oi.
— Como vai?
Apenas uma perguntava, com a voz carregada de sensualidade.
— Bem e as moças?
— Melhor agora.
Respondeu, me olhando de cima a baixo sem nenhum pudor.
— Você é filho do Treinador Jack, não é?
— É gato igual ao pai.
Uma outra disse, mordendo de leve o lábio.
— Você também está no time?
Desta vez perguntou uma outra do grupo, mascando chiclete.
— Ahn, obrigado. E sim, eu sou e sim, eu estou.
— Olha, eu vou dar uma festinha amanhã a noite lá em casa...
Dizia a primeira garota que veio falar comigo enquanto deitava seu busto na minha carteira, deixando propositalmente o seu enorme decote a mostra. Podia aparecer com uma blusa minúscula daquela na escola? Só se elas trocavam após entrar.
— E queria muito que você fosse. Aparece lá!
Mandou-me uma piscadela, tirando uma caneta rosa cheia de pelinhos na ponta de trás da orelha e arrancando um pedaço de folha do caderno da Suzanne, anotando o endereço e telefone, me entregando logo em seguida. Até que eu fiz "amizades" rápido...
— Bom dia, alunos.
O professor chegou e as meninas trataram logo de voltarem para seus lugares, não se esquecendo de saírem rebolando. Eu já sabia bem quem mandava naquele lugar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Menina Dos Pulsos Vermelhos (CONCLUÍDA)
FanfictionEstá com dor? Com medo? Nervosa? Talvez uma lâmina resolva os seus problemas ... * ESCRITA NO ANO DE 2016 *